Exposição exagerada, que contou com o suporte da ignorância bolsonarista em relação governo fracassado no Maranhão, começa a sofrer desgaste e a prejudicar imagem de Flávio Dino.
SÃO LUÍS, 24 de agosto de 2023 – Na ânsia de deixar para trás o retumbante, completo e absoluto fracasso no combate à miséria nos tempos em que era governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB) tenta usar o Ministério da Justiça como vitrine de um produto que ele não é. Para isso, passou os últimos meses abusando de declarações bombasticamente inúteis, medidas exibicionistas impossíveis, operações espetacularmente duvidosas e muita, mais muita, propaganda mentirosa.
Incialmente a tática deu certo e, graças à imaturidade melancólica da oposição bolsonarista, o ex-mandatário do governo fracassado do Maranhão domou os holofotes da nascente gestão petista.
O espetáculo do, segundo análise médica, gorduroso ministro, durou cerca de seis meses. Bravatas sem resposta e mentiras sem contraponto são grandes janelas de oportunidade àquele que tem muita vontade de aparecer. Só que nem sempre dura para sempre.
O excesso, não de banha, mas de gabolice, resultou em excesso de atenção. A concordância plena foi transmutada de forma gradativa em dúvida metódica.
Petistas começam a incomodar-se com a extravagância de Dino e, em particular, começaram a criticá-lo. A imprensa submissa também. No início de julho o Estadão fez alguns editoriais criticando a predisposição de Dino em dar declarações obtusas sobre tudo.
Em meados de agosto, a Folha de São Paulo publicou reportagem em que trazia uma suposta irritação e Lula em relação a Flávio Dino. Por tratar-se da Folha de São Paulo, ficou fácil para o governo desmentir a informação. Contudo, é custoso acreditar que Lula, sendo o Lula que é, tenha ligado e parabenizado Dino por uma operação da Polícia Federal que ofuscou o lançamento do PAC 3. Mas, a notícia foi dada pela Folha, então…
Na semana passada mais um editorial, desasa vez direto, evidenciado a tática de Dino de espetacularizar o cargo que ocupa. Agora, após o início do governo, o Poder 360 publica matéria em que divulga uma queda na busca por Flávio Dino no Google e a ascensão de Fernando Haddad. Hoje o ministro da economia tem preferência nas buscas realizadas na ferramenta.
“Conforme o Google Trends, responsável por disponibilizar dados sobre os números de buscas, Haddad acumula 34% das pesquisas em relação aos demais ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Há 3 meses, ele contava com 25%”, diz a notícia mostrando um crescimento de Haddad.
Se não fosse pela absoluta imbecilidade da oposição bolsonarista, incapaz de pesquisar minimamente sobre os 7 anos da fracassada e desastrosa gestão comunista no Maranhão, Flávio Dino não teria tido mais do que algumas semanas de prestígio midiático.
Contudo, segundo disse Abraham Lincoln; “Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo.”
O apocalipse adiposo parece ter sido desencadeado ou Flávio Dino irá virar o jogo e apenas perder gordura?
Tudo indica que as eleições de 2024 em São Luís irão ser um confronto entre duas formas de disputar eleições muito diferentes.
SÃO LUÍS, 18 de agosto de 2023 – Após a eleição de Flávio Dino em 2014, vendida como um confronto de gerações que, após alguns anos, mostrou-se mais do mesmo, Eduardo Braide protagoniza a mais relevante disputa política no estado nos últimos anos. O choque entre a nova fórmula de fazer política, individual e centrada na relação direta com o povo, de um lado; do outro, a ortodoxia das alianças e do apoio de políticos que ocupam a função de “atravessadores” do voto.
No início de sua trajetória política, Eduardo Braide optou pelos caminhos tradicionais. Como resultado, perdeu uma eleição para deputado federal e não conseguiu sequer eleger-se vereador de São Luís nas eleições de 2008. Após duas tentativas, tornou-se deputado estadual.
Nas eleições de 2016, decidiu seguir um caminho solitário. Tudo indicava que a campanha sem alianças, sem tempo de televisão e distribuindo santinhos pelas ruas iria resultar em um retumbante fracasso. Na reta final, Braide aniquilou Wellington do Curso, que ocupava o segundo lugar nas pesquisas. Em uma arrancada histórica, foi para o 2º turno com cerca de 8 mil votos a mais que Wellington. Derrotado na última etapa da campanha, Braide foi eleito deputado federal com avassaladores 189.843 votos dois anos depois.
Em 2020, fez concessões à política que abandonara em 2016 e tornou-se prefeito de São Luís. Enfrentou o uso pornográfico da máquina do Governo do Estado, visível em um consórcio de candidatos tutelados por Flávio Dino.
Após a vitória, Braide conseguiu vencer a desconfiança pós-pandemia e, em um lance de sorte e azar, teve que enfrentar uma variante da COVID-19 que lhe garantiu vigoroso apoio do Governo Federal.
Com a popularidade em alta, virou as costas para a política tradicional assim como em 2016. Veio então uma crise com aliados e com a Câmara de Vereadores, que muitos apontavam como o início do fim.
Com o vácuo deixado por Braide, cresceu o vereador Paulo Victor. Eleito presidente da Câmara na esteira da omissão política do prefeito, Paulo Victor juntou-se ao deputado federal Duarte Jr. na tentativa de tornar-se o antagonista de Braide.
A eles também se juntaram os deputados estaduais Yglésio Moyses, Neto Evangelista, Carlos Lula e o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim.
Entre todos os pré-candidatos que já manifestaram a intenção de disputar as eleições do próximo ano, pelo menos até agora, o único que ainda não alfinetou o prefeito foi o historiador e advogado Diogo Gualhardo, que disputa com Bonfim a preferência do NOVO para a disputa.
Além de Braide e do próprio Diogo, o ex-secretário Simplício Araújo e Yglésio também apostam suas fichas em uma forma de fazer política mais voltada para o eleitor e menos para os políticos. Contudo, há uma impressão de que sozinho, não se leva.
Após a inauguração do período de “temporada de caça ao Braide”, vieram duas pesquisas sobre a popularidade do prefeito nesta semana… Segundo as duas, o prefeito possui uma aprovação folgada que supera, em muito, mais da metade da população da cidade.
Caso Braide mantenha-se firme na decisão de marchar sozinho, ou marchar com poucos, no próximo ano teremos o embate entre dois tipos de política bem distintos.
Esqueça seus filhos, hoje é Dia dos Pais. Aquele dia em que você agradece a Deus pelas figuras paternas que teve na vida. Hoje eu quero lembrar dos meus cinco pais.
Os segundos domingos de agosto são estranhos para mim. Geralmente, porque nas últimas três décadas, eu não dou presentes, abraços, beijos, cafés da manhã ou apenas lembro do meu, como fazem os normais. É impressionante como a cada ano eu tenho mais uma, ou mais algumas figuras, na memória durante todo o dia neste dia. Agora estou sentado aqui, vendo meu filho ao lado fazendo caligrafia, enquanto tento traduzir o sentimento que aflora no coração. É meu quinto Dia dos Pais sendo pai. Mas, isso não importa. Não se trata do meu filho e de mim, trata-se de mim e meu pai, meus pais.
Se você acha que o Dia dos Pais é abraçar os filhos e receber presentes deles, você não entendeu nada. Vamos lá…
Meu primeiro pai, o Linhares, me colocou no mundo e influenciou a ser jornalista. Certo, talvez não tenha sido lá uma boa influência. E nos dias de hoje, então, gente do céu. Só que se não fosse por ele, muito provavelmente eu não seria o profissional que sou. Aprendi com ele a ter esmero pelo trabalho, pela intelectualidade e pela busca pela excelência.
Os pequenos valores que fundamentaram minha personalidade aprendi no chão daquela sala, ainda criança, ouvindo. Meu primeiro pai foi o engenheiro da minha base que outros, depois dele, ajudaram a transformar em um arranha-céu (O trocadilho escroto era inveitável).
Só que meu pai, meu por direito verdadeiro pai, morreu cedo e não era afeito a demonstrações de afeição. Quase sempre minhas lembranças são de trabalho. Ele me chamava de “Seu Júnior”. Não lembro de ser chamado de filho.
Foram alguns anos com a completa inexistência de figura paterna. Tempos difíceis… Tempos que tentaram me puxar para o subsolo e me prender lá para sempre, como acontece com a maioria.
Então Deus me deu o meu segundo pai, um vizinho Roberto. Hoje, além de meu pai, é padrinho de batismo. Roberto se compadeceu da minha situação na época e me acolheu em sua casa algumas vezes. Incentivou meus estudos e me deu a mão no momento mais solitário que eu tive na vida. No dia do resultado do vestibular, estava comigo no terraço de sua casa ouvindo o rádio. Roberto nunca iria saber o efeito que aquela companhia teve na minha vida. Foi a primeira vez que eu ouvi, no meu espírito, “parabéns, filho”. Bem, talvez vá saber agora. E foram outros tantos anos me apresentando figuras que me tiraram um pouco da escuridão. Tequila, Bolão, Rodolfo, Osmar, Pandelis… Gente boa, gente do bem. Boas cercas, bons vizinhos.
Apesar de ser meu pai por uns anos, não lembro de ser chamado de filho por Roberto nenhuma vez.
Ingressei no Jornal Pequeno e conheci Seu Reinaldo, o motorista. Dentro daquele Fiat Uno prateado, consolidei a inspiração que meu primeiro pai me deu: ser jornalista. E a ironia é que coube a um pai subletrado e sem formação me apontar alguns caminhos que foram iniciados por um pai intelectual. Como não me deixar pisar, como pisar quando preciso, como perceber, como reagir. Seu Reinaldo foi, entre os meus pais, aquele que mais acreditou que eu poderia ser alguém diferente, alguém melhor.
Quando o abalo me fazia tremer as pernas, ele fechava a porta do Uno e começava com um “Olha”. Então adivinha uma série de conselhos que me levantavam, sacudiam a poeira e me colocavam nos trilhos.
Seu Reinaldo me chamou de filho raras vezes. Em todas foi tomando gosto com minha mãe.
Como não só de bons pais se faz o mundo, lá pelos 30 conheci Denilson. Meu pai de cachaçada, meu pai dos péssimos exemplos, da faca nos dentes, chute na porta e sangue no olho. Só que quando éramos apenas nós dois naquela mesa, era a brisa depois da tempestade. Era o gelo depois do soco. ERa o abraço depois da surra de cinto.
Muitas das grandes decisões que eu tomei na vida, tomei seguindo seus conselhos tomando geladas, uma dose de tequila e um comentário escroto sobre rabo de saia. Um filho que não conhece as nuances da cafajestagem na companhia do pai em mesa de bar está sujeito a ser apenas um cafajeste depois que virar adulto.
Denilson também nunca me chamou de pai.
Em 26 de julho de 2020, eu quase morri. Fui salvo pela pandemia, que criou as condições para que eu não resolvesse o problema apenas tomando um Tylenol, por uma equipe de médicos brilhantes e por um pai que eu nunca imaginei que teria no que viria a se tornar o momento mais difícil da minha vida. Na manhã daquele dia, eu tinha convicção plena e absoluta de que iria morrer. Estava sereno, acredite. Já tinha aceitado que não haveria mais meu filho, mulher e mãe. Não haveria mais vida, amigos. Não haveria mais jornalismo. Nada das agruras e vitórias que dele decorrem. Não haveria mais angústia e nem placidez. Não haveria mais pais…
Por esses acasos do destino fiz algumas ligações, entre elas para Fernando. E por todos aqueles dias, todos os dias, ele ligava querendo saber como eu estava. E por todos aqueles dias, que eu considerava serem os últimos dias, eu tive a figura paterna que me faltava: a do pai cuidando de mim na doença. “Como tu estás? Faz chamada de vídeo aí que eu quero te ver”.
E de lá para cá, eu ganhei meu quinto pai e foi formada a “mão de Deus” na minha vida. A vida é feita de influências, entendedores entenderão.
Nenhum de vocês nunca me chamou de filho, mas todos são meus pais. Porque cada um, consciente ou inconscientemente, serviu-me de pai em bons momentos e momentos ruins.
Sem vocês na minha vida, eu não seria o pai que sou. Porque a cada um de vocês eu devo a inspiração para ser todos vocês em apenas um. A satisfação que eu sinto sabendo que sou um pouco de vocês, tendo a plena convicção e certeza inabalável de que sou a junção de todos vocês… Ah, essa é uma sensação que nem todas as palavras bonitas do mundo irão explicar.
Sobre o segundo domingo de agosto tratar-se de pais e não de reconhecimento de filhos… Esqueça seus filhos, hoje é Dia dos Pais. Aquele dia em que você agradece a Deus pelas figuras paternas que teve na vida. Na maioria das vezes é apenas uma, talvez duas quando se tem um grande avô. No meu caso não teve avôs e meu pai “de verdade” foi só um pouquinho. Só que, acreditem, eu me sinto o filho mais amado do mundo pelos meus pais.
Feliz Dia dos Pais, meus pais. Eu amo todos vocês.
O certo é que, no decorrer do livro, o ministro Barroso explicita seu entendimento de que os juízes muitas vezes julgam de acordo com suas preferências ideológicas.
Logo ao abrir o livro Curso de Direito Constitucional Contemporâneo de Luís Roberto Barroso, o leitor se depara com esta curiosa dedicatória:
“Aos que sonharam com a revolução que não veio. Aos que não perderam o ideal.”
Pouco depois, na primeira página do texto, o ministro Barroso rememora seus tempos de militância no movimento estudantil, iniciada em 1978. Essa menção nos sugere que os sonhadores aos quais dedica a obra são seus antigos correligionários do movimento estudantil e que a revolução sonhada é a revolução socialista, meta ideológica da imensa maioria senão de todos os participantes daquele movimento à época.
Mas repare-se que o ministro não deixa a referência no passado nostálgico. Traz o seu contexto para o presente e para o futuro. Dedica o livro também aos que “não perderam o ideal”, deixando supor que se trate daqueles mesmos sonhadores que, amadurecidos, ainda almejam algum tipo de revolução orientada pelos mesmos valores básicos, embora não exatamente com a mesma forma da revolução desejada nos anos 70. É lícito imaginar que o próprio autor se veja, implicitamente, entre estes que “não perderam o ideal”.
A primeira frase do livro dá uma ideia de qual possa ser o ideal em questão:
“O direito constitucional e a teoria da Constituição passaram por uma revolução profunda e silenciosa nas últimas décadas. Disso resultou um conjunto amplo de transformações, que afetaram o modo como se pensa e se pratica o Direito no mundo contemporâneo.” (Pág. 21 da 5ª. edição).
Da leitura combinada da dedicatória e da frase que se lhe segue imediatamente, na primeira página de texto, pode surgir uma suspeita e uma indagação: será que uma revolução constitucional substitui a revolução socialista nos sonhos daqueles que idealizavam, nos anos 70, uma sociedade comunista? Será que a revolução no direito constitucional e na teoria da Constituição é a revolução “que veio”, em contraste com a revolução socialista, “que não veio”, e permite, por novos caminhos, a consecução dos mesmos “ideais”?
O certo é que, no decorrer do livro, o ministro Barroso explicita seu entendimento de que os juízes muitas vezes julgam de acordo com suas preferências ideológicas. A certa altura, com efeito, o ministro Barroso afirma:
“O Direito pode e deve ter uma vigorosa pretensão de autonomia em relação à política. Isso é essencial para a subsistência do conceito de Estado de direito e para a confiança da sociedade nas instituições judiciais. A realidade, contudo, revela que essa autonomia será sempre relativa. Existem razões institucionais, funcionais e humanas para que seja assim. Decisões judiciais, com frequência, refletirão fatores extrajurídicos. Dentre eles incluem-se os valores pessoais e ideológicos do juiz (…)” (Pág. 460).
Pouco depois, reitera:
“Com efeito, a observação atenta, a prática política e pesquisas empíricas confirmam o que sempre foi possível intuir: os valores pessoais e a ideologia dos juízes influenciam, em certos casos de maneira decisiva, o resultado dos julgamentos.” (Pág. 462).
A propósito, poder-se-ia indagar onde o ministro Barroso realizou essa “observação atenta” que o ajuda a concluir que a ideologia dos juízes influencia os julgamentos. No próprio Supremo Tribunal Federal? Possivelmente sim, pois um dos exemplos que cita em apoio à sua tese é o do voto do ministro Carlos Alberto Menezes Direito contrário à pesquisa com células-tronco de embriões humanos, posicionamento que, segundo sugere o ministro Barroso, teria sido influenciado pela ligação do ministro Menezes Direito ao “pensamento e à militância católica”. (Impossível não indagar aqui se algum voto ou medida de outro ministro do STF teria sido, no entendimento do ministro Barroso, influenciado por ligação à militância estudantil, por exemplo, ou ao pensamento socialista.)
Observa o ministro Barroso à Pág. 460:
“Por longo tempo, a teoria do Direito procurou negar esse fato [de que as decisões dos juízes são influenciados por fatores extrajurídicos entre os quais as preferências pessoais e ideológicas], a despeito das muitas evidências. Pois bem: a energia despendida na construção de um muro de separação entre o Direito e a política deve voltar-se agora para outra empreitada. Cuida-se de entender melhor os mecanismos dessa relação intensa e inevitável, com o propósito relevante de preservar, no que é essencial, a especificidade e, sobretudo, a integridade do Direito.”
Os trechos citados parecem sustentar que é teoricamente desejável, mas na prática impossível, separar o Direito da política. Que é desejável, mas impossível, evitar que os juízes julguem por seus valores ideológicos (entre outros “fatores extrajurídicos”, cabendo perguntar aqui, data venia, que outros fatores extrajurídicos seriam esses). Entende-se que o objetivo realista, segundo o autor, é “melhor entender” – e não proibir – os “mecanismos dessa relação” entre Direito e política.
Ao entender os mecanismos, parece acreditar o autor que é possível “conter” aquelas interferências ideológicas e outros fatores extrajurídicos. Como se daria essa contenção? Antes de mais nada, pela consciência do juiz de que suas preferências estão abaixo da Constituição e da lei. Ou seja, as preferências estão ali; os juízes não as afastam do seu campo decisório, apenas as “subordinam” ao texto legal ou constitucional. Além dessa disposição pessoal do juiz, seriam instrumentos de contenção das suas preferências pessoais também a pressão de outras instituições e a da sociedade civil. É o que se expõe no seguinte trecho:
“Note-se, todavia, em desfecho do tópico, que eventuais preferências políticas do juiz são contidas não apenas por sua subordinação aos sentidos mínimos das normas constitucionais e legais, como também por fatores extrajudiciais, dentre os quais se podem destacar: a interação com outros atores políticos e institucionais, a perspectiva de cumprimento efetivo da decisão, as circunstâncias internas dos órgãos colegiados e a opinião pública.” (Pág. 463-464)
A opinião pública, o sentimento social, parecem configurar, na linha de pensamento do autor, um meio de contenção especialmente importante das preferências pessoais dos juízes, pois reflete a expectativa de uma comunidade constituída de acordo com princípios democráticos. Veja-se à página 472:
“O poder de juízes e tribunais, como todo poder político em um Estado democrático, é representativo. Vale dizer: é exercido em nome do povo e deve contas à sociedade. Embora tal assertiva seja razoavelmente óbvia, do ponto de vista da teoria democrática, a verdade é que a percepção concreta desse fenômeno é relativamente recente. O distanciamento em relação ao cidadão comum, à opinião pública e aos meios de comunicação fazia parte da autocompreensão do Judiciário e era tido como virtude. O quadro, hoje, é totalmente diverso. De fato, a legitimidade democrática do Judiciário, sobretudo quando interpreta a Constituição, está associada à sua capacidade de corresponder ao sentimento social. Cortes constitucionais, como os tribunais em geral, não podem prescindir do respeito, da adesão e da aceitação da sociedade. A autoridade para fazer valer a Constituição, como qualquer autoridade que não repouse na força, depende da confiança dos cidadãos.”
De um modo geral, portanto, parece lícito interpretar que o ministro Barroso, nesta obra basilar da teoria constitucional brasileira, reconhece a existência de preferências pessoais e ideológicas e outros fatores extrajurídicos a influenciar as decisões dos juízes – inclusive os da Suprema Corte – e não repudia frontalmente essa situação, mas considera que é necessário mitigá-la para que não prejudique o exercício do Direito. Entre os meios de mitigação inclui, com destaque, além da pressão de outras instituições do Estado, a demanda da sociedade como um todo, ou seja, a expectativa de que as decisões dos juízes correspondam ao sentimento social. Portanto, afigura-se possível afirmar, a partir do exposto pelo ministro Barroso, que a confiança ou desconfiança da sociedade em relação aos juízes, por um lado, e a atitude dos outros Poderes (no caso brasileiro, obviamente o Congresso e o Presidente da República), por outro, são balizas necessárias para que a justiça não se torne súdita da ideologia e preferência dos juízes.
O ministro Barroso, na referida obra, parece efetivamente ter grande fé no papel da sociedade em controlar as Cortes Constitucionais. Afirma, na pág. 472:
“Se os tribunais interpretarem a Constituição em termos que divirjam significativamente do sentimento social, a sociedade encontrará mecanismos de transmitir suas objeções e, no limite, resistirá ao cumprimento da decisão.”
Semelhante asserção convida a indagar: que mecanismos estão à disposição da sociedade brasileira para “transmitir suas objeções” a decisões do STF que eventualmente “divirjam significativamente do sentimento social”? O que acontecerá com algum setor da sociedade que, “no limite, resista ao cumprimento da decisão”?
*Ernesto Araújo é escritor, diplomata e estudioso da “logopolítica”, o terreno na intersecção da geopolítica, filosofia, cultura e teologia.
No imaginário social brasileiro, a Independência política simbolizada no 7 de setembro de 1822 é vista como pacífica e amistosa, sem lutas e derramamento de sangue, obtida no grito, às “margens plácidas” do riacho Ipiranga por um Príncipe Regente que se tornaria, em seguida, o Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil, D. Pedro I. Essa interpretação clássica, que se encontra nas primeiras obras que historiaram o tema da Independência, e influenciaram o ensino de história nos compêndios escolares, deu pouca atenção às lutas que ocorreram em algumas províncias, como se todas as regiões que então compunham o território da América Portuguesa tivessem prontamente aderido ao famoso “Grito do Ipiranga”. Este episódio está cristalizado em vários signos, como o quadro Independência ou Morte, do pintor Pedro Américo, de 1888; a letra do hino nacional brasileiro, de autoria de Joaquim Osório Duque-Estrada, escrito no início do século XX, e oficializado no contexto do centenário da Independência; além da representação cinematográfica expressa em Independência ou Morte, filme de 1972, dirigido por Carlos Coimbra, que marcou a comemoração do Sesquicentenário da Independência, no contexto autoritário do regime militar brasileiro, que preconizava a exaltação de heróis nacionais como “salvadores da pátria”.
Nessa história escrita para exaltar os feitos dos chamados “grandes homens”, as camadas populares foram relegadas ao esquecimento. Mas, as guerras de Independência mostram que esse foi um processo difícil que contou com a participação de diferentes segmentos sociais, com destaque para as camadas populares, que, mesmo engrossando as fileiras das forças expedicionárias que lutaram contra os portugueses, foram invisibilizadas e tratadas como massa de manobra, sem que seus anseios, projetos e utopias fossem considerados relevantes. As atuais pesquisas históricas vêm questionando essas interpretações cristalizadas que apresentam a região centro-sul do país como protagonista da Independência, como representante de uma interpretação de caráter nacional, em detrimento das demais províncias, como as do Norte, silenciando outros “gritos” e outras margens, nem sempre tão “plácidas”.
É importante considerar que cada província teve a sua particularidade no processo que levou à emancipação política do Brasil, como é o caso da província do Maranhão, que teve uma série de conflitos entre os setores da elite, e onde houve guerra para que os laços com Portugal fossem rompidos.
As lutas ocorridas no território maranhense iniciaram na região sertaneja, no centro-sul da província, fronteira com o Piauí, portanto, nas margens do rio Parnaíba, essa grande fronteira fluvial que separa essas províncias-irmãs. As tropas vindas do Ceará e do Piauí desbravaram o interior maranhense angariando mais adeptos que simpatizavam com a causa da Independência, formando o chamado “Exército Auxiliador”, e que a historiografia a algum tempo vem chamando de “Exército Libertador”. Essas tropas eram chamadas de independentistas, e se destacaram com seu avanço, obtendo conquistas nas batalhas travadas com as forças legalistas que ainda se devotavam à Coroa Portuguesa, gerando um grande temor na capital São Luís onde se encontrava a Junta Governativa, comandada pelo Bispo Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, um português que representava bem esse grupo que resistia à incorporação do Maranhão ao novo Império.
Em 28 de julho de 2023, ao comemorarmos o Bicentenário da Independência do Brasil no Maranhão, devemos lembrar das lutas populares nesse processo, para rompermos com esses silêncios que foram construídos historicamente, e que explicam, em parte, o pouco interesse das autoridades e a falta de conhecimento da população com essa que é a data magna do Estado. Então, nessa data festiva damos vivas ao povo maranhense pelas lutas travadas para a conquista da emancipação política e pela batalha diária em prol de sua cidadania.
[1] Professora Associada do Departamento de História da UEMA; Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira nº 24.
[2] Professor de instituições privadas de ensino superior; Membro do Núcleo de Estudos do Maranhão Oitocentista (NEMO).
Há muito tempo existe também um movimento que reivindica a “necessidade” de se reescrever a Bíblia, para “adaptá-la” aos tempos atuais.
Recentemente, a jornalista Madeleine Lacsko foi acusada de transfobia, sendo condenada a pagar uma indenização de 3 mil reais para a influencer trans Rebecca Gaia, por tê-la chamado de “cara” em uma rede social. A expressão que gerou a polêmica — posteriormente convertida em uma infração criminal —, foi “Olá, cara”. Um jornalista da Jovem Pan sugeriu que ela, muito provavelmente, estava sendo cordial, chamando-a pelo feminino de “caro”, que significa prezado.
Para “combater” a discriminação e o racismo na literatura, vários clássicos da literatura ocidental serão publicados em uma linguagem politicamente correta. Nos Estados Unidos, a editora Penguin Books decidiu expurgar de seu catálogo vários livros do autor britânico Roald Dahl (1916-1990), por serem incompatíveis com a ditadura politicamente correta. A editora Puffin Books, por sua vez, contratou em fevereiro deste ano diversos “leitores sensíveis” para fazer o que chamam de “avaliação crítica” da obra do autor, com o objetivo de publicar vários de seus livros em versões inclusivas politicamente corretas.
Isso gerou uma controvérsia nos meios acadêmicos sem precedentes na história recente da literatura ocidental. Principalmente pelo fato de Roald Dahl ter adquirido a fama de se opor com veemência a qualquer alteração editorial em seus textos. Excepcionalmente meticuloso e perfeccionista, ele não permitia que alterassem nada, nem mesmo uma única vírgula.
Aqui no Brasil, não escapamos da famigerada controvérsia literária. Obras infantis do famoso escritor Monteiro Lobato (1882-1948) — ícone da literatura brasileira, cujo nome completo é José Bento Renato Monteiro Lobato — ganharão versões politicamente corretas. O que lamentavelmente foi chancelado até mesmo por membros de sua família, como a sua bisneta, que abraçou a causa politicamente correta e afirmou ser necessário “rever o racismo” presente em suas obras.
O que a ditadura do consenso progressista pretende, de fato, é adaptar diversas obras literárias de vários autores para versões politicamente corretas. O seu lobby político-ideológico está engajado em conquistar a total hegemonia da ideologia progressista em praticamente todos os ambientes: acadêmicos, universitários, políticos, corporativos e esportivos.
Há muito tempo existe também um movimento que reivindica a “necessidade” de se reescrever a Bíblia, para “adaptá-la” aos tempos atuais. É de conhecimento geral que os fundamentalistas progressistas politicamente corretos sempre implicaram com as Sagradas Escrituras Judaico-Cristãs, por elas não serem inclusivas, sendo patriarcais e moralmente rígidas demais para o gosto da militância. Há algumas semanas, Xuxa propôs em uma rede social “reescrever a Bíblia”. Há muitos anos atrás, Jean Wyllys — deputado federal de 2011 a 2019 —, afirmou que era necessário expurgar da Bíblia as “passagens homofóbicas”.
Há também um movimento para proibir o uso de palavras como “gordo” e “obeso” para se referir a pessoas que estão acima do peso, porque essas palavras são supostamente ofensivas. Palavras como “índio” e “homossexualismo” também devem ser sumariamente erradicadas do vocabulário. Os termos “corretos” são “indígena” e “homossexualidade”. Militantes progressistas politicamente corretos também afirmam que é necessário normalizar a linguagem neutra, pois ela é mais inclusiva. Se você usar a linguagem neutra, estará sendo socialmente inclusivo e ajudará a combater a transfobia.
Humoristas que contam piadas sobre negros, homossexuais, índios e outras minorias estão sendo processados. O caso do comediante Léo Lins é muito emblemático na questão da total ausência de liberdade na prática do humor. O humorista está sendo processado pelo Ministério Público Federal por contar piadas supostamente machistas e racistas. Foi inclusive obrigado a retirar do seu canal do Youtube sua performance de comédia stand-up intitulada “Perturbador”. O que não adiantou absolutamente nada, visto que outros canais do Youtube disponibilizaram o vídeo, muitos deles usando uma hashtag que dizia “censura não”.