
SÃO LUÍS, 06 de maio de 2025 – Uma nova edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) revelou que um em cada oito brasileiros com ensino superior completo é analfabeto funcional, ou seja, tem dificuldades em interpretar textos simples, realizar contas básicas e lidar com situações corriqueiras do dia a dia. Ou seja: concluiu a faculdade, mas tropeça em um extrato bancário.
O levantamento ouviu 2.554 pessoas entre 15 e 64 anos, entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024. Os testes simulavam tarefas triviais — como conversar por mensagens, ler placas ou preencher um cadastro online. Para 29% dos entrevistados, atividades assim continuam sendo um desafio à parte.
No recorte por escolaridade, os dados jogam um balde de realidade fria: 9% dos brasileiros com ensino superior estão entre os analfabetos funcionais. Se o saber está no diploma, faltou combinar com o conteúdo. Entre os que nunca foram à escola, o índice sobe para 96%.
A situação do ensino médio tampouco inspira otimismo. Entre os que completaram essa etapa, 15% não conseguiram demonstrar habilidades mínimas de leitura e cálculo. A maior parte da população brasileira (36%) está no nível “elementar” — lê, mas não muito; entende, mas com esforço. Já 35% alcançaram o nível consolidado, o mais alto da escala.
Entre os trabalhadores, 27% são analfabetos funcionais. Embora saibam utilizar o crachá, têm dificuldade com instruções simples. Apenas 40% dos ocupados estão no nível considerado adequado. É a produtividade esbarrando no parágrafo mal compreendido.
Mesmo entre os jovens de 15 a 29 anos, houve aumento do analfabetismo funcional: de 14% para 16%. A educação básica, pelo visto, ainda forma mais torcedores para o Enem do que leitores do manual de instruções. Em paralelo, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) registrou em 2024 o menor número de matrículas já visto.
Quando a tarefa incluía compras online ou navegação em aplicativos, 95% dos analfabetos funcionais esbarraram nas teclas. Entre os mais escolarizados, 40% também penaram para concluir atividades digitais. Conectar-se ao mundo, como se vê, exige mais do que Wi-Fi.
Eduardo Saron, da Fundação Itaú, definiu os resultados como “desperdício de capital humano”. Rosalina Soares, da Fundação Roberto Marinho, foi direta: mais presença nas escolas não significou mais aprendizado.
A escola, ao que tudo indica, está formando cidadãos que sabem assinar o próprio nome — e pouco além disso.