As maiores fomes provocadas pelo homem dos últimos 100 anos ocorreram sob o socialismo. Após a Revolução Bolchevique, a fome russa de 1921/22 custou a vida de cinco milhões de pessoas, de acordo com números oficiais da Grande Enciclopédia Soviética de 1927.

Antes de o capitalismo surgir, a maioria das pessoas no mundo estava presa na pobreza extrema. Em 1820, por exemplo, cerca de 90% da população global estava vivendo em pobreza absoluta. Hoje, o número é inferior a 10%. E mais notavelmente: nas últimas décadas, o declínio da pobreza acelerou a um ritmo incomparável em qualquer período anterior da história humana. Em 1981, a taxa de pobreza absoluta era de 42,7%; em 2000, havia caído para 27,8% e, em 2021, estava abaixo de 10%.

Essa tendência, que persiste há décadas, é o que realmente conta. É verdade que a pobreza aumentou novamente nos últimos anos, mas isso é em grande parte resultado da pandemia global de Covid-19, que exacerbou a situação em países onde a pobreza já era relativamente alta.

Para entender a questão da pobreza, precisamos olhar para a história. Muitas pessoas acreditam que o capitalismo é a causa raiz da pobreza e da fome globais. Eles têm uma imagem completamente irrealista da era pré-capitalista, moldada por obras clássicas, incluindo a de Friedrich Engels, The Condition of the Working Class in England 1820-1895 [A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra 1820-1895]. Engels denunciou as condições de trabalho sob o início do capitalismo nos termos mais drásticos e pintou um quadro idílico dos trabalhadores domésticos antes que o trabalho de máquina e o capitalismo viessem para destruir seu belo modo de vida: “Então os trabalhadores vegetaram ao longo de uma existência razoavelmente confortável, levando uma vida justa e pacífica em toda a piedade e probidade; e sua posição material era muito melhor do que a de seus sucessores. Eles não precisavam trabalhar demais; eles não fizeram mais do que escolheram fazer, e ainda ganharam o que precisavam. Eles dispunham de tempo para o trabalho saudável no jardim ou no campo, trabalho que, por si só, era recreação para eles, e podiam participar também das recreações e jogos dos vizinhos, e todos esses jogos – boliche, críquete, futebol, etc., contribuíram para sua saúde física e vigor. Eles eram, em sua maioria, pessoas muito fortes, cujo físico tinha pouca ou nenhuma diferença do de seus vizinhos camponeses. Seus filhos cresceram no ar fresco do campo e, se pudessem ajudar seus pais no trabalho, era apenas ocasionalmente; embora estivessem fora de questão oito ou doze horas de trabalho para eles”.

A imagem que muitas pessoas têm da vida antes do capital foi transfigurada além do reconhecimento por essas e representações romantizadas semelhantes. Eles imaginam que a vida antes do capitalismo se assemelhava a uma viagem moderna ao campo. Então, vamos dar uma olhada mais objetiva na era pré-capitalista nos anos e séculos anteriores a 1820.

“Os pequenos trabalhadores do século XVIII”, escreve o vencedor do Prêmio Nobel Angus Deaton em seu livro The Great Awakening [O Grande Despertar], “estavam efetivamente presos em uma armadilha nutricional; eles não podiam ganhar muito porque eram tão fracos fisicamente, e eles não podiam comer o suficiente porque, sem trabalho, não tinham dinheiro para comprar comida”. Algumas pessoas elogiam as condições harmoniosas pré-capitalistas quando a vida era muito mais lenta, mas essa lentidão era principalmente resultado da fraqueza física devido à desnutrição permanente. Estima-se que, há 200 anos, cerca de 20% dos habitantes da Inglaterra e da França não conseguiam trabalhar, simplesmente porque estavam fisicamente muito fracos devido à desnutrição.

As maiores fomes provocadas pelo homem dos últimos 100 anos ocorreram sob o socialismo. Após a Revolução Bolchevique, a fome russa de 1921/22 custou a vida de cinco milhões de pessoas, de acordo com números oficiais da Grande Enciclopédia Soviética de 1927. As estimativas mais altas colocam o número de mortes por fome em 10 a 14 milhões. Apenas uma década depois, a coletivização socialista da agricultura de Joseph Stalin e a “liquidação dos kulaks” desencadearam a próxima grande fome, que matou entre seis e oito milhões de pessoas. O “Grande Salto Adiante” de Mao (1958-1962), o maior experimento socialista da história humana, custou a vida de 45 milhões de pessoas na China. Quando o termo ‘fome’ é usado, a primeira coisa em que a maioria das pessoas pensa é na África. No entanto, no século XX, 80% de todas as vítimas de fomes morreram na China e na União Soviética.

É um equívoco típico, quando as pessoas pensam em “fome e pobreza”, pensarem no capitalismo em vez de no socialismo, o sistema que foi realmente responsável pelas maiores fomes do século XX.

Rainer Zitelmann é doutor em História e Sociologia. Ele é autor de 26 livros, lecionou na Universidade Livre de Berlim e foi chefe de seção de um grande jornal da Alemanha.

ARTIGO

O que faz de um país uma ditadura?

12/05/2023 - Roberto Rachewsky
Quando não se pode reclamar, criticar, denunciar, advertir, noticiar, opinar ou discordar de qualquer autoridade estatal, com ou sem razão, expressando verdades ou mentiras, a tirania está instalada

Brasil, 12 de maio de 2023 – O que faz de um país uma ditadura é uma combinação de fatores. A primeira e mais importante é a censura imposta por quem, por fazer parte do governo, detém o poder coercitivo nas mãos ou que consegue fazer com que suas ordens sejam cumpridas por quem detém.

Censura pode ser o último ato opressivo contra os indivíduos ou o primeiro, não importa se há leis ou se elas não existem mais.

Quando não se pode reclamar, criticar, denunciar, advertir, noticiar, opinar ou discordar de qualquer autoridade estatal, com ou sem razão, expressando verdades ou mentiras, a tirania está instalada e o próximo passo será buscar a derrubada do regime ditatorial, ou a sujeição ao poder despótico dos que violam direitos individuais sem cerimônia.

O Brasil não é mais um país livre. Aqui, aqueles que deveriam nos proteger dos bandidos e dos déspotas de plantão, passaram a pensar e agir com autoritarismo.

Ou seja, somos governados por sujeitos que usam da força do governo para nos espoliar, regular, perseguir, prender e, finalmente, calar nossas vozes.

Liberdade de expressão não pode, nem deve, ser regulada por alguém. Nem pelo voto da maioria, nem pela vontade de um ser que se acha todo poderoso. Liberdade de expressão é vital para a vida humana, é um direito existencial sem o qual a vida do ser humano se torna insustentável.

Roberto Rachewsky é empresário e articulista.

Artigo

O que é uma mulher?

13/04/2023 - Fraser Myers
O que está acontecendo? Por que uma pergunta tão simples se transformou em uma armadilha que pode desencadear medo, cancelamento e polêmicas?

“O que é uma mulher?” Essa pergunta se tornou a criptonita dos políticos descolados do Ocidente nos últimos anos. Repita essas cinco palavras e veja qualquer um deles tremer e se contorcer diante dos seus olhos, enquanto tenta desesperadamente não dar uma resposta clara e exata.  

Chris Hipkins, o novo primeiro-ministro neozelandês, é o mais recente político a cair nessa armadilha. Em uma coletiva de imprensa, o jornalista Sean Plunket repetiu uma afirmação recente feita por Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, de que 99,9% das mulheres não têm pênis. “Como este governo define uma mulher?”, ele perguntou a Hipkins. 

A pergunta impressionantemente simples deixou o primeiro-ministro sem palavras. “Eu… para ser sincero… Essa pergunta me pegou um pouco de surpresa”, respondeu ele. Depois de uma longa pausa, Hipkins deu a seguinte definição: “A biologia, o sexo, o gênero… As pessoas definem a si mesmas. As pessoas definem o próprio gênero”.  

Quando insistiram na pergunta, ele deu a reveladora desculpa de que não estava esperando essa pergunta e, por isso, não tinha tido a oportunidade de “pré-formular” uma resposta. 

O que está acontecendo? Por que um político dessa estatura não consegue responder uma pergunta de biologia de nível escolar?  

Existem duas explicações possíveis. O mais provável é que Hipkins saiba exatamente o que é uma mulher, mas esteja assustado demais para dizer. Ele com certeza sabe que definir uma mulher como “indivíduo do sexo feminino”, a definição correta, é atrair acusações de transfobia. Isso pode levá-lo a ser incansavelmente caçado por extremistas da pauta trans e seus facilitadores na mídia.  

Essas mulheres foram constrangidas, silenciadas e atacadas, por estarem dispostas a afirmar o que o novo primeiro-ministro da Nova Zelândia se recusou a dizer.

Ou talvez Hipkins de fato acredite no culto de gênero. É possível que o primeiro-ministro da Nova Zelândia acredite genuinamente que o sexo biológico é uma irrelevância antiquada. Lógico, o que significaria que os direitos das mulheres baseados no sexo também são uma irrelevância.  

A pergunta “o que é uma mulher” é especialmente pertinente na Nova Zelândia. Poucas semanas atrás, a militante pelos direitos das mulheres Kellie-Jay Keen (também conhecida como Posie Parker) foi agredida em um ato “Let Women Speak”, em Auckland. Ela foi atacada com sopa de tomate. E afirmou ter temido por sua vida, ao ser abordada por uma multidão de ativistas da pauta trans. Nessa mesma manifestação, uma idosa foi agredida. Essas mulheres foram constrangidas, silenciadas e atacadas, por estarem dispostas a afirmar o que o novo primeiro-ministro da Nova Zelândia se recusou a dizer: que as mulheres existem, e que seus direitos importam.

Então, Hipkins é um covarde ou é membro do clube da ideologia de gênero? Seja como for, seus comentários ridículos não caem bem para os direitos das mulheres da Nova Zelândia. 

Fraser Myers é editor assistente da Spiked e apresentador do podcast da Spiked.
Ele está no Twitter: @FraserMyers

ARTIGO

A sociedade do rápido e do vazio

14/03/2023 - Alex Pipkin

Não consigo precisar exatamente a década. Talvez a década do ano 2000. Como chegamos a esse estado, literalmente, oco?

Grande parte dos indivíduos pensam, comunicam e atuam de forma superficial e desimportante, seguindo básica e exclusivamente seus instintos tribais e as visões enviesadas de seus parceiros em seus grupos de pertencimento. Não há estudo, leitura, discussão séria e honesta, o contraditório e o conhecimento científico comprovado, imperando os achismos, a dissonância cognitiva, a insularidade intelectual, a banalidade e os prazeres mais imediatistas. Tudo isso parece e quer triunfar – as coisas desejadas – como a mais legítima das verdades.

Evidente que a educação e o ensino desempenham influência direta na formação individual – e coletiva -, e, no país, sabe-se, pelos comparativos internacionais, que esses são precários. No entanto, aparenta que esse fenômeno não é exclusividade tupiniquim.

Bauman cunhou a expressão “modernidade líquida” a fim de apontar a personalidade moldável das pessoas aos interesses “da hora”. Nada de errado com o caráter móvel da identidade social, desde que ela seja sustentada em pilares, digamos, sólidos. Não o é; há fragilidades e superficialidades em quase tudo, desde relacionamentos afetivos e comerciais até a formação de ideias e geração de convicções.

Não se investiga a fundo as “coisas”, as temáticas, tirando-se conclusões precipitadas – e equivocadas – a partir de sites de notícias, de manchetes de jornais, de “telefones sem fios” de compadres e de análises de jovens e de velhos jornalistas, amplamente parciais e incultos, sobre uma gama de temáticas. Enfim, o triunfo da banalidade e do absurdo que convém em detrimento do verdadeiro conhecimento e da razão.

Os indivíduos rejeitam a perda e o sofrimento e, em função disso, buscam economizar energia, operando no piloto automático dos atalhos mentais. Muitas vezes, tal comportamento é útil, porém, evidentemente que para uma série de questões complexas, o que está em nossa memória mais fresca não serve, uma vez que não passa de uma mera simplificação da verdade.

Nesse sentido, a sociedade “do algoritmo” aprofunda esse pensamento rápido e automático, instintivo, que é alimentado por sentimentos tribais de nossos companheiros nos respectivos grupos que se unem por afinidades e por interesses nas mais diversas esferas. Como há engajamento, na superficialidade e na frivolidade, embalada pelos instintos mais primitivos.

Para onde vamos? Está muito difícil o mais singelo diálogo. Todos parecem ter tantas certezas, certezas essas que não se sustentam a uma segunda indagação mais técnica e suportada pelo conhecimento, pelas experiências e por fartas evidências.

Muitos incautos se transformaram em “especialistas”, embasados nas redes sociais, de praticamente tudo.
O resultado pragmático dessa situação é que aqueles que possuem conhecimento factual de determinadas “coisas”, ou não têm vez, ou se calam, prevalecendo o achismo, a superficialidade e a burrice – burrice esta acalentada com um verniz de veracidade.

Triste, mas tal nefasto contexto não irá mudar. As instituições de ensino, que se dizem “progressistas”, enfatizam o “moderno e produtivo” método da intensificação do pensamento crítico nos estudantes, que, a partir daí, não fazem outra coisa além de pensar e de vociferar sobre mazelas e desigualdades sociais. Os “justiceiros sociais” são completamente formados com uma única e segregadora visão de mundo. Adicione-se a isso o fato de que, quanto mais chocante e diferente for a forma, melhor será o impacto, independentemente do conteúdo.

Não é necessário estudar e pensar, tudo está aí, pronto… A mídia, amplamente parcial e sensacionalista, potencializa o pensamento rápido, superficial, frívolo e banalizado. Inquestionavelmente. Já as modernas tecnologias da informação, embora benéficas em uma série de aspectos, engajam jovens e velhos em fantasias, em mentiras, em paixões e em iras.

A radiografia do momento é, para dizer o mínimo, tenebrosa. Tudo virou papo e discussão de bar. O imbróglio é que nem mais no bar, com todas as características pertinentes a esse tipo de conversa, é crível explorar alguma coisa que escape da superficialidade da casca e das certezas de pessoas que, definitivamente, pouco conhecem sobre os temas a respeito dos quais dissertam.

Construiu-se uma sociedade oca e radicalmente dividida, fundamentada numa estratégia de soma zero: de um lado aqueles poderosos que têm, e que, por definição, são inimigos de todos aqueles que não têm. Guerra certeira. Nessa tragédia sem heróis salvadores, sempre triunfarão os achismos e as sedutoras “verdades” daqueles que trivialmente sinalizam virtudes, não importando quais sejam tais virtudes.

Alex Pipkin é doutor em Administração – Marketing pelo PPGA/UFRGS.

Com efeito, a mentira andou soberba em shows por terras suíças. “Fake news”, das grossas, foi a utilizada por Marina Silva em Davos, ao afirmar que metade da população brasileira passa fome.

A ministra Marina Silva segue a passos largos seu líder messiânico, especialista na arte de ludibriar e de se apropriar de bens de terceiros. De modo algum estou aqui a escrever a tão propalada e moderna “fake news”.
É fácil recorrer às mídias sociais e encontrar falas do ex-presidiário mencionando suas grandes façanhas no terreno da mentira, inclusive em nível internacional.

Aliás, para esse “honesto presidente do povo”, a política se baseia, quase que exclusivamente, na mentira.

Com efeito, a mentira andou soberba em shows por terras suíças. “Fake news”, das grossas, foi a utilizada por Marina Silva em Davos, ao afirmar que metade da população brasileira passa fome. Esquerdo, no sentido de sinistro!

Ou ela mentiu factualmente, ou seu bando de asseclas rubros utilizou-se de uma prática estatística corriqueira no petismo: torturar os dados até que eles confessem o que se quer demonstrar. Ou ambos. Marina Silva é uma contumaz mensageira da tragédia, que não aponta saídas ou propõe soluções equivocadas para os problemas identificados por ela.

Meu juízo a seu respeito vem de longa data. Essa senhora despeja, reiteradamente, os vícios da pobreza, alternando-se na narrativa da fome, das desigualdades, da miséria e da pobreza. Toda essa turma do amor discursa apelando para o lado negro do sentimentalismo, muito embora desconheçam e negligenciem conceitos basilares para propor soluções efetivas a pertinentes questões, tais como a pobreza.

Eles arrotam o tema “desigualdade”, que, em verdade, é uma questão meramente comparativa. O grande problema é a pobreza, um conceito absoluto relacionado aos indivíduos. Toda essa turma de amorosos justiceiros sociais continuará protestando e se debatendo “ad aeternum” contra as desigualdades e a pobreza… não resolvendo-as.

De fato, eles se opõem e/ou lançam mão de políticas públicas erradas na direção daquilo que reduz a pobreza: a geração de riqueza. Não se reduz a pobreza – muito menos as desigualdades – com decretos governamentais, com mais intervencionismo estatal. Pelo contrário, tal qual demonstra a história da humanidade, são os livres mercados, efetivamente, as pessoas e as empresas que criam riqueza, por meio da produção, do aumento da produtividade, dos investimentos tecnológicos, da destruição criativa, que atacam e reduzem a pobreza.

Mesmo que bem-intencionadas, políticas públicas normalmente resultam no oposto daquilo que se intenciona. Poucas alcançam êxito na redução da pobreza e da fome. Meus impulsos morais virtuosos – aquilo que é raro de se identificar no seio vermelho – fazem-me olhar para o sofrimento de muitos, pensando em estratégias efetivas para sua mitigação.

Nesse sentido, o que comprovadamente funciona para reduzir a pobreza é, sem dúvidas, tirar o governo da frente, deixando as pessoas e as empresas mais livres para empregar, produzir, inovar, e trazerem soluções inovadoras e úteis para a sociedade.

Sinteticamente, mais liberdades individual e econômica, menos intervencionismo estatal. Não me considero vaidoso, mas hoje acordei meio empolado. Vou sugerir que Marina Silva e Fernando Haddad, o ministro-marxista da Fazenda, passem a inverter suas lógicas ilógicas por meio de atenta e meticulosa leitura: mais Mises, menos Marx!

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