Entrelinhas

Uma cerca velha chamada Othelino Neto

Compartilhe
Othelino Neto tenta ludibriar adversários e empurra aliados para a ruína na certeza de que o “dele” já está garantido em 2026

Há quem colecione selos, quem troque figurinhas — Othelino Neto coleciona aliados tombados pelo meio do caminho. A lista é grande… Uma jornada que lembra aquelas séries em que o vilão vive trocando de máscaras a cada episódio: ontem braço direito do rei, hoje espinha dorsal da oposição revoltosa, amanhã de novo será fiel. Seguindo o sript de sempre, no fim das eleições de 2026, enquanto seus aliados estiverem chorando derrotas amargas, ele terá uma mão no Senado, outra na Câmara Federal e um pezinho na Assembleia. O resto? O resto que se junte a Weverton e chore.

Othelino já foi aliado, adversário e agora é dublê de camarada de Flávio Dino. Já foi sócio da Revolução Wevertoniana e logo irá puxar a corda da guilhotina que irá tirar do pedetista o mandato de senador. Já foi apoiador de Brandão e agora é influencer contra o governo. Apoiador de Camarão governador, também não acha ruim apoiar (de novo) Eduardo Braide para o mesmo cargo. Deixem uma oportunidade vacilando na parada da Ceasa, Othelino irá parar, descer o vidro e perguntar: “você acha que vai para onde, meu?”. O homem tem história!

O protocolo é simples e sempre o esmo! Consiste no fato de, quando percebe rachadura, chega logo com reboco e veneno nos bolsos. Onde passa, prefeitos perdem reeleição, deputados perdem mandato como quem perde celular no centro da cidade; lideranças veem o prestígio evaporar; mas ele, não: sai do incêndio com o paletó cheiroso, barba alinhada e uma nova estratégia na cachola.

Agora o alvo da vez é implodir o frágil laço Camarão‑Brandão, último pilar de estabilidade no Palácio dos Leões. Por que será? Talvez porque, para Othelino, paz é só o intervalo entre suas conspirações — e cada crise é mais um trampolim rumo ao topo de algum castelo que ele ergue sobre os escombros alheios.

Othelino tenta usar Felipe Camarão como cavalo de batalha para desestabilizar o governo — e, se o corcel empacar, ele já tem planos B, C e D engatilhados. Para cada crise, Othelino fabrica uma oportunidade; para cada aliado, um penhasco; para cada discurso, uma navalha oculta na manga.

Em 2020, Flávio Dino sonhava com unidade, mas Othelino, fiel escudeiro de Weverton Rocha, rasgou o bloco e puxou a bateria para Eduardo Braide, deixando Duarte Júnior sozinho nas eleições. Dois anos depois, resolveu trocar de lado: apunhalou Weverton pelas costas — não se esfaqueia de frente para não manchar a gravata — e fez da esposa, Ana Paula, suplente de Dino no Senado. Dino, bom leninista de coração ecumênico, perdoou. Após o resultado da eleição, Brandão, não! Gato escaldado evita água de chafariz.

Escanteado do governo, Othelino começou a plantar conspirações no ouvido de Felipe Camarão e outros mais. Repetiu a fórmula de 2020: insuflou deputados ingênuos, prometeu futuros dourados e promoveu outro racha, desta vez sem o braço de Weverton, mas com um punhado de líderes iludidos que acreditam em qualquer promessa fajuta e tem memória curta.

Que se faça justiça: poucos no Maranhão exibem a habilidade quase artística de Othelino de empurrar idiotas para a linha de frente enquanto ele assiste o banho de sangue de camarote sabendo que, se perder, ganha e que, se ganhar, ganha mais ainda. Não acredita? Pergunte a Weverton Rocha, hoje com o mandato de senador balançando na corda bamba, ao passo que dona Ana Paula, esposa do nosso grande estrategista, desliza sem um arranhão pelos tapetes vermelhos de Brasília. Se não bastar, consulte a lista de deputados estaduais que perderam o mandato em 2022 por seguirem Othelino. Muita gente deixou de ser excelência naquela eleição, parceiro.

Instalado o clima de guerra contra Brandão, o engenheiro da conspiração tratou a Assembleia Legislativa como alvo inicial. Com agiotagem ideológica e ameaças sussurradas em ligação de whatsapp, quase derrubou Iracema Vale, primeira mulher eleita presidente da Casa. Mesmo encurralada, conseguiu superar o festim de traições. Todo mundo ganhou naquela eleição, menos Othelino. Até quem perdeu, ganhou!

A diferença entre o reinado de Othelino e a gestão de Iracema Vale é a distância que separa um chicote de uma batuta. O deputado comandou a Assembleia com a lógica do terror: esmagou a oposição, sufocou vozes dissonantes e colecionou o recorde vergonhoso de deputados não reeleitos — veteranos que naufragaram junto com o navio que juravam capitanear.

Iracema, ao contrário, não governa, representa: transformou o plenário em fórum de debate, não em masmorra de revanchismo. Mesmo traída, não promoveu retaliações e nem exposição dos traidores. Tratou de reconquistá-los.

Já Othelino afiava as facas enquanto sonhava com caça às bruxas para triturar o governador, deputados que não votaram nele e qualquer aliado distraído. Iracema manteve a ventilação democrática e impediu o programa de perseguição que ele já tinha planejado.

Talvez os novatos tenham captado a lição estampada nos escombros dos veteranos que seguiram Othelino: quem dança ao som da traição acaba sem cadeira quando a música para.

Se hoje a Casa está pacificada e o Maranhão não respira aquele ar de golpe iminente, agradeça à derrota de Othelino; tivesse ele vencido, o plenário seria picadeiro da maior conspiração de sua história, e o Estado, espetáculo de caos diário.

Ironia fina: Othelino adora arrotar slogans progressistas em tom de coach libertário, mas conspirou, sem corar, contra a mulher que simboliza um avanço histórico da participação da mulher na política do Maranhão. Feminismo só é bom quando pode ser usado como faca para sangrar adversários, não é?

No dia da votação, Othelino preparou um espetáculo de humilhação pública, essa é a verdade. Contudo, alguns perceberam o teatro macabro e o placar empatou para depois desempatar. Iracema venceu, manteve a Casa em paz, e os deputados puderam dormir sem o barulho da montagem de uma guilhotina no plenário.

Felipe Camarão, percebendo que o ódio visceral de Othelino apenas aduba o terreno do próprio deputado — afinal, a senadora Ana Paula segue firme até 2030, ele deve ser eleito deputado deferal e a irmã assumir os votos para o Legislativo Estadual — resolveu trocar rancor por diplomacia. Má ideia: o albino renascido reapareceu com Carlos Lula e Rodrigo Lago à tiracolo, ensaiando traição gêmea da praticada contra Dino em 2020. Aproximou‑se de Braide, o inimigo público número um do grupo Dino/Brandão.

Camarão reatou com Brandão? Othelino começou a agir para tumultuar. Escolado, Brandão sinalizou novo afastamento — sabe que quem aperta algumas mãos perigosas às vezes perde o pulso. Ainda assim, sob o risco de perda total, Othelino apareceu de penetra na agenda recente entre Camarão e o ministro Wellington Dias em Rosário. Quis apaziguar? Nada. Quis ferrar! Porque saber ser sua presença um ácido que corrói parcerias. Pôs mais tijolos e cimento no muro que separa o vice do cargo de governador.

O caos é um bom investimento para pessoas como Othelino. Ser o único remanescente do grupo com mandato vai render poder. Se ajudar a eleger Braide, melhor ainda. O fato é que, a derrota de aliados, muito mais do que as dos adversários, mantém viva a engrenagem que move sua carreira: conspirar, usar, enganar, empurrar aliados para o sacrifício — enquanto ele, como sempre, sai no retrato com pose de estrategista. Ou alguém esqueceu o que precisou acontecer para que ascendesse ao cargo de presidente da Assembleia?

As maiores vitórias na história de Othelino repousam na queda dos que ele chama de aliados. Castelo, Humberto, Duarte, Rubens Jr, Weverton e, no ano que vem, Felipe Camarão, Carlos Lula, Rodrigo Lago e Márcio Jerry. Todo mundo sem mandato, menos ele. Ele não!

Em suma, para Othelino tanto faz quem mastiga a língua do boi no fim da toada — o prato dele já está garantido. Ana Paula segue firme no Senado, ele já mira uma cadeira federal e a irmã deve se acomodar na Assembleia. O restante da federação de derrotados vai ficar rubra de vergonha e verde de inveja, assistindo a procissão dos únicos sobreviventes da guerra. “Eu, minha muié e minha mana”.

Othelino não é inimigo mortal nem aliado confiável; é uma condição climática — um mormaço que todos reclamam, mas poucos fecham a janela para evitar. Enquanto houver político disposto a bancar o peão em seu joguinho particular, ele seguirá trocando bandeirinhas de cor, reempacotando slogans progressistas e empilhando mandatos como quem coleciona figurinhas.

Compartilhe
0 0 votos
Classificação da notícias
Inscrever-se
Notificar de
guest
1 Comentário
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Cunha Dilva

Muitíssimo Maquiavélico o Deputado “conspirador mor” Othelino Neto Linhares Jr.

Gostaríamos de usar cookies para melhorar sua experiência.

Visite nossa página de consentimento de cookies para gerenciar suas preferências.

Conheça nossa política de privacidade.

1
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x