
ESTADOS UNIDOS, 10 de abril de 2025 – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse em entrevista à revista americana The New Yorker que “não há possibilidade” de Jair Bolsonaro retornar à Presidência da República. Mesmo com um julgamento criminal em curso, o magistrado cravou um veredito antecipado.
Ao comentar a inelegibilidade de Bolsonaro até 2030, Moraes afirmou: “somente o Supremo Tribunal Federal poderia revertê-las, e não vejo a menor possibilidade de isso acontecer”. A frase soou menos como uma análise jurídica e mais como uma sentença definitiva de um juiz que se vê acima da Constituição.
A declaração mais polêmica, no entanto, veio com tom de deboche. “Eu brinco com minha equipe de segurança que eu não poderia morrer. O herói do filme tem que continuar”, disse Moraes, se colocando como personagem central de uma narrativa política e judicial que ultrapassa o papel de magistrado.
A fala foi feita ao comentar o plano golpista denominado “Punhal Verde e Amarelo”, investigado pela Polícia Federal. Segundo a denúncia, apoiadores de Bolsonaro planejavam matar Moraes e outras autoridades. O ex-presidente nega envolvimento, mas é apontado como líder da articulação.
Moraes não escondeu a confiança sobre o destino político de Bolsonaro. Mesmo reconhecendo que o ex-presidente poderia ser absolvido no processo criminal, enfatizou que as condenações no TSE já bastam para barrar qualquer tentativa de retorno.
Ele foi além: admitiu que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou os filhos do ex-presidente poderiam se candidatar, mas minimizou as chances por não possuírem, segundo ele, “as mesmas relações com as Forças Armadas”.
UM JUIZ CADA VEZ MAIS POLÍTICO
A reportagem descreve Moraes como o “juiz que enfrenta a extrema direita”. O texto exalta sua atuação enérgica nos ataques de 8 de janeiro, quando, como um herói de filme de ação, determinou prisões e afastamentos em tempo recorde.
A justificativa do ministro para a pressa foi o risco de um “efeito dominó”. Segundo ele, “ainda há risco à democracia”, embora não tenha explicado como seu protagonismo solitário se harmoniza com o que determina a Constituição sobre separação de poderes.
EMBATES INTERNACIONAIS
Na esfera internacional, Moraes não economizou nas ironias. Riu ao lembrar que Elon Musk o comparou a um cruzamento entre Voldemort, de Harry Potter, e um Sith, de Star Wars. “Acho engraçado”, disse o ministro, como quem aprecia um bom meme – desde que não venha da direita.
Mas o bom humor ficou de lado ao tratar da resistência da rede X às ordens judiciais brasileiras. Para Moraes, Musk tornou-se “pessoalmente responsável” pelas decisões da plataforma e, num salto retórico, comparou o controle das redes ao projeto totalitário de Joseph Goebbels.
Segundo ele, “os nazistas teriam conquistado o mundo” se tivessem acesso ao X. Resta saber se o exagero foi espontâneo ou ensaiado.
A fama do ministro ultrapassou fronteiras. Nos Estados Unidos, a Trump Media – ligada ao ex-presidente Donald Trump – entrou com uma ação contra ele por censura, após a remoção da conta do blogueiro Allan dos Santos da plataforma Rumble.
Moraes classificou o processo como “completamente infundado”, mas parece confortável no papel de antagonista global de bilionários, presidentes e empresas de tecnologia – como se a toga fosse, de fato, uma capa de super-herói.