
BRASIL, 05 de novembro de 2024 – O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), segundo colocado na disputa pela prefeitura de São Paulo (SP) nas eleições municipais deste ano, com pouco mais de 40% dos votos válidos no segundo turno contra Ricardo Nunes (MDB), afirma que a esquerda precisa fazer uma avaliação sobre o resultado das urnas e alerta para o risco de uma “derrota histórica” para a extrema direita no pleito de 2026.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta terça-feira (5), Boulos admite a frustração pelo resultado eleitoral – praticamente repetiu o desempenho de 4 anos atrás, quando foi derrotado por Bruno Covas (PSDB) –, mas rechaça a tese de que as forças progressistas devem, necessariamente, caminhar em direção ao centro e abrir mão de algumas de suas convicções.
“A esquerda foi derrotada no país todo em 2024. E precisamos aprender com as lições dessa derrota. Quem ganhou? Em primeiro lugar, o sequestro do orçamento pelo Centrão. Os deputados mandam [recursos previstos nas] emendas para os prefeitos. O índice de reeleição foi de 82%, o maior desde a redemocratização. Os prefeitos, fortalecidos com grana, vão agora apoiar a reeleição desses parlamentares [em 2026]. Se não houver uma barreira, daqui a dois anos veremos a maior taxa de reeleição do Congresso Nacional. O outro lado vitorioso foi o da extrema direita”, avalia Boulos.
“A extrema direita brasileira fez uma disputa cultural e ideológica de valores na base da sociedade e deixou a esquerda na defensiva”, prossegue o candidato derrotado do PSOL. “O que está em jogo, a partir de agora, é o que nós, da esquerda, vamos fazer para que a gente não sofra uma derrota histórica [na disputa pela Presidência em 2026] que inauguraria um longo ciclo da extrema direita no poder no Brasil.”
Para Boulos, a esquerda só conseguiu voltar ao poder em 2022, derrotando o então presidente Jair Bolsonaro (PL), porque o candidato era Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Quem salvou o país da extrema direita em 2022, no fio da navalha, foi o Lula, porque ele é a maior liderança popular da história do Brasil. E só quem pode fazer isso novamente em 2026 é ele. Lula é o fator que separa o Brasil do abismo da extrema direita e do fundamentalismo. Quem achou que o bolsonarismo estava no fim porque perdeu a Presidência fez uma leitura apressada”, afirma.
“Esse fenômeno político com viés fascista, autoritário, fundamentalista, ganhou uma parte expressiva da sociedade. Se agora fizermos a leitura errada da derrota [de 2024], vamos produzir outras derrotas”, completa o deputado.