
Durante a pandemia, mais de meio milhão de reais destinados à compra de alimentos podem ter sido desviados por meio de contratos suspeitos firmados com associação investigada. Câmara e Prefeitura são alvos da apuração.
Segundo o Ministério Público do Maranhão (MP-MA), parte dos recursos – R$ 560 mil, só num dos casos – teria tomado um rumo bem diferente do esperado: o de bolsos, contas pessoais e empresas. Os valores investigados pelo Ministério Público do Maranhão são resultado de emendas dos então vereadores Álvaro Pires e Fátima Araújo.
A engrenagem passava pelafórmula da “colaboração social”, com termos assinados entre a Prefeitura, via Secretaria de Segurança Alimentar, e uma associação de nome curioso: Rio dos Cachorros. O nome, ao que tudo indica, era o mais transparente do esquema.
A entidade, também conhecida como Escola Comunitária Santo Antônio, teria servido de fachada para liberar recursos com a promessa de ajudar bairros como João de Deus, Maracanã e São Bernardo.
Mas, de acordo com o MP, em vez de cestas, o que se distribuiu foi um arranjo de fraudes contábeis, notas fiscais duvidosas e endereços fantasmas.
Entre os acionados estão ex-assessores parlamentares, coordenadores da própria Câmara e servidores municipais. O roteiro inclui empresas com sede em casas comuns de família, notas frias, produtos fantasmas e movimentações bancárias dignas de manuais sobre como ocultar dinheiro público com certa criatividade.
A promotoria aponta que tudo foi feito com método, esmero e divisão clara de tarefas. Não faltou a tradicional cotação de preços com empresas que já estavam baixadas na Receita Federal – detalhe que não impediu a aprovação das contas. Aparentemente, na burocracia local, ser uma empresa ativa é só um detalhe menor quando a causa é nobre.
Personagens centrais do caso, como o coordenador de contabilidade da Câmara, são descritos como peças-chave na elaboração de projetos e prestações de contas que, no mínimo, merecem revisão.
Outros, ligados à Fundação de Cultura e à Secretaria de Turismo, aparecem como beneficiários de transferências nada simbólicas, enquanto empresários alegam não conhecer suas próprias empresas.