Maranhão foge de responsabilidades sobre vacina Sputnik V
O Governo do Estado do Maranhão tenta driblar suas responsabilidades pelos testes a serem realizados com as doses da vacina russa (Sputnik V) que a Anvisa autorizou realização de importação para estudos de efetividade no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não deu a mesma segurança e eficácia ao imunizante Sputnik V à outras vacinas, como Pfizer, AstraZeneca, Sinovac, entre outros. Quando questionada para explicar em que condições se dariam os testes de eficácia sobre as 141 mil doses adquiridas, a assessoria da SES informou que o Consórcio Nordeste quem deve esclarecer isso, o que indica um teste em cobaias maranhenses sem comunicação prévia e transparente pelo executivo do Estado. “A Secretaria de Estado da Saúde (SES) comunica que a demanda é de competência do Consórcio Nordeste”, disse o Governo do Estado por meio de nota, deixando claro que não precisa dar explicações sobre o assunto.
Decisão da Anvisa de vetar importação da Sputnik é elogiada por cientistas
A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de negar o pedido de importação da vacina Sputnik V, imunizante russo contra a covid-19, recebeu apoio de membros da comunidade científica. Cientistas e especialistas de diferentes áreas usaram as redes sociais para elogiar a agência. Nesta segunda-feira, 26, os cinco diretores seguiram as recomendações das três áreas técnicas que analisaram o pedido e encontraram falhas nos estudos e processos produtivos da vacina, além da falta do relatório técnico da vacina. A análise feita pela agência era referente ao pedido de importação de 29,6 milhões de doses por dez Estados, entre eles, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso, Acre e Rondônia. “Verificamos a presença de adenovírus replicante em todos os lotes. Isso é uma não-conformidade grave e está em desacordo com o desenvolvimento de qualquer vacina de vetor viral. A presença de um adenovírus pode ter impacto na nossa segurança quando utilizamos a vacina”, destacou Gustavo Mendes, gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da agência durante a audiência extraordinária. No Twitter, a médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, dos Estados Unidos, Denise Garrett classificou o trabalho do corpo técnico da Anvisa como “exemplar”. “Fizeram um trabalho meticuloso e bem respaldado. Não significa que a vacina não venha a ser boa. Significa que faltam dados. A pressão não deve ser na Anvisa – deve ser no Instituto Gamaleya para enviar os dados.” O médico e advogado sanitarista Daniel Dourado também usou a rede social e afirmou que a avaliação da agência foi “criteriosa e correta, semelhante à que foi feita com todas as outras vacinas, inclusive as aprovadas” e que, com os dados disponíveis, não seria possível aprovar a importação da vacina. “É totalmente compreensível a pressa de governadores, mas a Anvisa tem obrigação de garantir a qualidade vacina e não há como fazer isso hoje. O médico epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Universidade de São Paulo (USP), alertou que a aprovação em outros países não significa garantia de que uma substância é segura. “A talidomida indicada para enjoo na gravidez nos anos 50 foi proibida em um único país, os Estados Unidos. Europa e Brasil a aprovaram e o resultado é conhecido até agora com pessoas que nasceram mutiladas. O que importa é a qualidade da avaliação, não o número de aprovações”, escreveu no Twitter.
Dino insiste em vacina russa sem autorização da Anvisa
O governador do Estado do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), demonstrou interesse em adquirir a vacina russa Sputnik V mesmo sem o devido posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Dino já havia ingressado no STF para pedir que a Agência se posicionasse sobre o imunizante russo e o ministro Ricardo Lewandowski atendeu o pedido estabelecendo prazo até o fim de abril para o devido posicionamento. A Anvisa não atestou a segurança e eficácia da vacina Sputnik por ausência de dados suficientes e, por conta disso, solicitou ao Supremo Tribunal Federal um prazo maior para emitir seu posicionamento, alegando que não ter tido acesso para realizar a análise da vacina russa. Mesmo com a Anvisa não autorizando a utilização da Sputnik V no Brasil, inclusive no Maranhão, Flávio Dino insiste no imunizante. “Governo Federal quer ainda mais prazo para analisar a vacina Sputnik, largamente empregada em vários países, inclusive a vizinha Argentina […] basta examinar as informações técnicas da Argentina”, disse o governador do Estado.