
BRASÍLIA, 09 de agosto de 2025 – O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito para investigar uma suposta organização criminosa no Pará. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo seria responsável por saques milionários relacionados a uma licitação de R$ 142,3 milhões para obras da COP30.
Além do deputado estadual Antônio Doido, outras 11 pessoas são investigadas. Entre elas estão o secretário de Obras Públicas do Pará, Ruy Cabral, e o policial militar Francisco de Assis Galhardo do Vale, apontado como segurança do parlamentar. O inquérito tramita sob sigilo.
De acordo com a PGR, o esquema envolveria as empresas J.A Construcons Civil Ltda, em nome de Andrea Dantas, esposa de Doido, e JAC Engenharia Ltda, registrada em nome de Geremias Hungria, funcionário de uma fazenda do deputado.
Juntas, formaram o Consórcio Perna Norte, que apresentou proposta para obra em Belém prevista na preparação da COP30.
A Secretaria de Obras Públicas lançou, em maio de 2023, licitação para execução da Perna Norte, da rua da Marinha até o Canal do Bengui. Em setembro, o consórcio ofereceu proposta de R$ 142,3 milhões. A PGR afirma que ambas as empresas seriam controladas pelo parlamentar.
No mesmo dia em que apresentou a proposta, o coronel Galhardo sacou R$ 6 milhões em um banco de Castanhal (PA) e tentou se encontrar com o secretário Ruy Cabral. Em outubro, Galhardo e Hungria foram presos em flagrante enquanto sacavam quase R$ 5 milhões na mesma cidade. A prisão ocorreu após denúncia anônima.
A análise de mensagens no celular do coronel indicou indícios de crimes eleitorais, corrupção e lavagem de dinheiro. A PGR aponta ainda uso de lotéricas e intermediários para movimentar recursos, transportados em sacolas plásticas e até sacos de lixo.
REVOGAÇÃO DA LICITAÇÃO
Em janeiro de 2025, o governo do Pará revogou a habilitação do Consórcio Perna Norte alegando “razões estritamente técnicas”. O contrato não chegou a ser assinado e nenhuma das empresas recebeu pagamento pela obra. A investigação apura se valores desviados teriam origem em outros contratos.
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que Galhardo realizou 15 saques entre 2023 e 2024, somando R$ 48,8 milhões em dinheiro vivo, principalmente em agências de Castanhal. A suspeita é de lavagem de dinheiro e uso de laranjas.
O grupo investigado atuaria em um chat de WhatsApp chamado “Segurança AD”, que reunia policiais militares responsáveis não só pela escolta, mas também por transportar e sacar grandes quantias, o que indicaria desvio de função e participação em crimes financeiros.
POSICIONAMENTO DO GOVERNO
Em nota, o governo do Pará negou envolvimento em práticas ilegais e informou que o secretário Ruy Cabral não firmou contratos com os investigados nem recebeu valores indevidos. A administração estadual afirmou que segue os princípios da legalidade e está à disposição das autoridades.







