
BRASÍLIA, 12 de maio de 2025 – O presidente Lula (PT) levou ao menos 220 pessoas — além da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja — em sua visita oficial ao Japão e ao Vietnã, realizada no fim de março.
A missão diplomática, que poderia passar por uma ponte aérea entre Brasília e Tóquio, custou até agora R$ 4,54 milhões aos cofres públicos. O valor, no entanto, ainda é parcial e, mais de um mês depois da viagem, segue em atualização — como os melhores roteiros internacionais, que sempre guardam uma surpresa para o final.
A comitiva foi a maior já registrada no terceiro mandato do presidente, quase dobrando o número de integrantes da ida à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, no ano passado.
Para esta jornada asiática, Lula contou com o acompanhamento de 11 parlamentares, ministros de Estado e ao menos 72 representantes de órgãos diretamente ligados à Presidência, como o Gabinete Pessoal, o GSI, a Secretaria de Comunicação (Secom) e a Casa Civil — afinal, governar o Brasil e representar o país no exterior não se faz sem uma entourage digna de um festival internacional.
Apesar do tamanho da equipe, a transparência sobre os gastos parece ter ficado pelo caminho. Procurada, a Secom se recusou a fornecer detalhes sobre o número total de viajantes ou o valor consolidado das despesas.
Alegou que apenas a lista das autoridades está publicada no Diário Oficial da União. Já as listas das comitivas técnicas e de apoio estão sob o manto do “sigilo reservado” — classificação que permite manter essas informações fora do alcance público por até cinco anos. Cinco anos. Justo o tempo de um mandato presidencial e mais um intervalo para descanso.
No Painel de Viagens, ferramenta pública mantida pelo Ministério do Planejamento, e no Portal da Transparência, o que se vê é um quebra-cabeça incompleto. A legislação vigente determina prazo de 30 dias para prestação de contas com diárias e passagens, mas os dados completos ainda não estão disponíveis.
A lista de participantes e custos foi parcialmente compilada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a partir de registros no Diário Oficial, no Painel de Viagens e no sistema Siga Brasil, do Senado.
A aeronave escalada para a missão foi um Airbus A330-200 da Força Aérea Brasileira, com capacidade para 250 passageiros — um modelo apropriado para cobrir o extenso mapa diplomático traçado pelo presidente, que já soma 29 viagens internacionais neste terceiro mandato.
Janja chega antes e voa em classe executiva na volta
Enquanto Lula ainda se preparava para embarcar, Janja partiu antes, acompanhando o Escalão Avançado (Escav), responsável por organizar os preparativos para a chegada presidencial.
A rota de retorno incluiu também um trecho entre Tóquio e Paris, onde Janja participou de um evento sobre nutrição. No total, os custos com suas passagens somaram R$ 60.210,58 — valor devidamente registrado no Painel de Viagens, ainda que a titular da conta não possua cargo formal no governo.
Pelas normas, o uso da classe executiva é reservado a ministros e servidores com funções específicas — o que pode indicar que as regras, assim como as bagagens, sejam mais flexíveis em voos oficiais.
A atual gestão já demonstrou que vê na diplomacia um instrumento de reposicionamento internacional do Brasil. Mas, enquanto os discursos reforçam o compromisso com a democracia e a transparência, os registros da viagem mostram que algumas rotas ainda estão sob neblina.