O relatório divulgado na semana passada pelo London Telegraph revelou que cientistas britânicos que trabalham como assessores do governo admitiram usar o que reconhecem ser práticas “totalitárias” e “antiéticas” para incutir medo na sociedade por meio da pandemia do Covid-19.
O London Telegraph menciona comentários feitos por integrantes do Grupo Científico da Influenza Pandêmica sobre o Comportamento (SPI-B) – principal grupo de consultoria científica do governo que se trata de um subcomitê do Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências (Sage) -, cujo relatório menciona um briefing de março de 2020, época que o primeiro bloqueio foi decretado, dizendo que o governo deveria ampliar consideravelmente o nível de percepção de ameaça pessoal que o coronavírus representa porque a maioria das pessoas ainda não se sentiam suficientemente ameaçadas.
“ […] em março [2020], o governo estava muito preocupado com a conformidade e pensava que as pessoas não gostariam de ser trancadas [em casa]. Houve discussões sobre a necessidade do medo de encorajar o cumprimento e foram tomadas decisões sobre como aumentar o medo”, confessou um dos cientistas do SPI-B, cujos nomes foram protegidos pelo London Telegraph.
“[…] a maneira como usamos o medo é distópica […] o uso do medo foi definitivamente questionável do ponto de vista ético. Foi como um experimento bizarro. No final das contas, o tiro saiu pela culatra porque as pessoas ficaram com muito medo”, acrescentou um dos cientistas do Grupo Científico da Influenza Pandêmica sobre o Comportamento. Já outro cientista do subcomitê do Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências afirmou que “poderia chamar a psicologia de ‘controle da mente’. Isso é o que fizemos, tentamos, claramente, fazer isso de uma maneira positiva algo que foi usado de forma nefasta no passado”.
Conforme o relatório, outro pesquisador do grupo admitiu que “sem uma vacina, a psicologia é sua principal arma […] a psicologia foi em si, uma epidemia verdadeiramente eficiente”. Ainda outro cientista no subcomitê da Sage alegou que eles ficaram “surpresos com a transformação da psicologia comportamental em arma durante o passado […] os psicólogos não parecerem notar quando eles pararam de ser altruístas e se tornaram manipuladores […] eles têm muito poder e isso os intoxica”, alertou cientista, de acordo com o Telegraph.
No momento em que o Telegraph solicitou ao subcomitê que comentasse as descobertas, Gavin Morgan (psicólogo do SPI-B) respondeu: “Claramente, usar o medo como meio de controle não é ético. Usar o medo cheira a totalitarismo. Não é uma postura ética para qualquer governo moderno […] sou uma pessoa otimista por natureza, mas tudo isso me deu uma visão mais pessimista das pessoas”.
O membro de um grupo de parlamentares anti-lockdown, Steve Baker, comentou as revelações: “Se é verdade que o estado tomou a decisão de aterrorizar o público para obter o cumprimento das regras, isso levanta questões extremamente sérias sobre o tipo de sociedade que queremos nos tornar […] se eu temo que a política do governo hoje esteja jogando nas raízes do totalitarismo? Sim, é claro!”
Embora o relatório tenha sido divulgado pelo London Telegraph, os comentários foram coletados pela autora do livro A State of Fear (2021), Laura Dodsworth, que investiga as ações do governo britânico durante a pandemia da Covid-19.