O vexame da política maranhense em Brasília
SÃO LUÍS, 27 de setembro de 2023 – A sessão da CPMI dos Atos Golpistas desta terça (28) representou um momento de ruptura com a tradição da política maranhense em Brasília. Incapaz de ler uma lista de perguntas, claramente alheia aos assuntos abordados, desconhecedora do mínimo necessário em relação ao básico, a senadora Ana Paula Lobato (PSB) protagonizou momentos melancólicos para os esperançosos pela prática da boa política. Tudo aconteceu durante o depoimento do general reformado Augusto Heleno. Após quase quatro horas de sessão, a senadora teve cerca de 10 minutos para manifestar suas perguntas ao ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Augusto Heleno é acusado de ter influenciado as depredações do 8 de janeiro. Daí sua convocação. Talvez nervosa pela situação, ou apenas inábil em leitura, a senadora não conseguiu fazer-se entender de forma adequada. As palavras surgiam atropelando a si mesmas, os períodos brigavam e o encadeamento de premissas que deveriam resultar em perguntas simplesmente eram impossíveis de identificação. A pontuação foi espancada sem nenhum tipo de piedade. Infelizmente para ela, Ana Paula não tinha conhecimento prévio da arapuca que tentaram armar para pegar Augusto Heleno. Com algum esforço, muito esforço, é possível perceber que os autores das perguntas que Ana Paula tentou perguntar pretendiam ligá-lo à tortura durante o regime militar. Um período que se alastrou da década de 1960 até a década de 1980. Qual a relação com 2023? Ninguém sabe. As frases saiam com uma dificuldade constrangedora. Mas, pelo menos até certo momento, não havia como asseverar o vexame. Então Ana Paula concedeu aos jornais as manchetes de seu fracasso, leu Jeisel onde estava escrito Geisel. Corrigida pelos colegas, seguiu no erro e evidenciou o desconhecimento absoluto do que lia. O resto todos, pelo menos os minimamente informados, já sabem. Ao lado de Eliziane Gama (PSD), Rubens Pereira Jr (PT) e Duarte Jr (PSB), Ana Paula faz parte da bancada de blindagem do ministro Flávio Dino na CPMI. Ao contrário dos outros três, Ana Paula Lobato está em seu primeiro mandato de verdade. Antes disso, ocupava a vice prefeitura de Pinheiro. Chegou ao cargo de suplente, e posteriormente de senadora, por meio de uma manobra política para tirar Othelino Neto, seu marido, do palanque do então candidato na última eleição, e adversário de Flávio Dino na ocasião, Weverton Rocha. Mesmo Eliziane Gama, Rubens Jr e Duarte, com toda a experiência e a malícia acumulada em mandatos anteriores, já protagonizaram momentos lamentáveis. Contudo, ontem todos estes momentos somados e multiplicados não conseguem ser uma gota na inundação de ignomínia derramada por Ana Paula. É óbvio que todo e qualquer cidadão de bom senso festeja a ascensão de Ana Paula. Não pelo que pode ser, mas pelo que não será. Afinal de contas, é possível que ela substitua Flávio Dino em todo o mandato. Isso caso ele seja conduzido ao cargo de ministro do STF. Textos mal lidos são menos danosos do que mau-espírito. Assim como Duarte, Eliziane e Rubens Jr, Ana Paula irá aprender a disfarçar. Pelo que vemos ontem, pode demorar. Mas, irá acontecer. Até lá, que a aura de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves a iluminem na jornada. Há esperança e ela deriva da impressão que Ana Paula Lobato é autêntica a tal ponto de ser incapaz de assumir os papéis fáceis que Duarte, Eliziane e Rubens fazem tão bem. Assim que negar o papel de “Heloísa Helena paraguaia”, é bem provável que papelões como os de ontem sejam apenas desvios que todos trazem na lembrança. Que o papelão de ontem produzido pela vontade de outros sirva de lição.