A Constituição virou uma piada

Constituição Brasil

BRASIL, 04 de junho de 2024 – Em 25 de maio, foi publicado na imprensa que o ministro Alexandre de Moraes enviou uma nota ao portal Uol dando bronca nos jornalistas. Sentindo-se atingido por uma das reportagens, equiparou-a a uma fake news, disse que os fatos haviam sido inventados e que a imprensa também desinformava, e não só as redes sociais. Deu um nó na cabeça de boa parte dos jornalistas da grande imprensa, que até ontem aceitavam com certa naturalidade que o STF fosse agressivo com perfis de redes, mas não com eles, por serem vistos como portadores da verdade e carimbadores das mentiras virtuais. No entanto, como a vida gosta de uns ardis, a censura surgida no Brasil em 2019, com o inquérito das fake news, responsável por solapar a liberdade de expressão nas redes sociais, parece agora tomar um atalho curioso e pretender censurar também a liberdade fora das redes, chegando à mídia tradicional. Não foi a primeira vez; ocorre de vez em quando de jornalistas serem atingidos por estilhaços da guerra da Suprema Corte contra as plataformas, mas é raro. Quem estuda o tema sabe que censura não vê rosto. Começa contra um grupo, termina contra qualquer um, como um cachorro doido. A censura à liberdade de expressão nas redes atingirá cada vez mais a liberdade de expressão fora das redes. E a censura à liberdade de expressão atingirá cada vez mais todo e qualquer tipo de liberdade.

Estadão divulga editorial que implode farsa do “combate às fake news”

SÃO PAULO, 03 de junho de 2024 – O Estadão divulgou editorial ontem em que implode a farsa epidêmica de “combate às fake news”. Em cerca de 700 palavras, o jornal traz uma série de fatos que demolem as mentiras e versões contadas sobre fake news nos últimos seis anos. Leia o editorial abaixo: O falso combate às ‘notícias falsas’ Agiu bem o Congresso ao rejeitar um tipo penal vago e arbitrário como ‘fake news’. Desinformação se combate com informação. O direito penal deve ser o último recurso para casos extremos O Congresso manteve o veto do então presidente Jair Bolsonaro à inclusão de um artigo no Código Penal que puniria “comunicação enganosa em massa”. Felizmente. Não se trata de renunciar ao combate à desinformação. Mas é preciso fazê-lo com as armas certas. O artigo definia mal as condutas ilícitas associadas a fake news. Não havia diferenciação clara, por exemplo, entre quem produz conteúdo enganoso com dolo e quem o repassa por ignorância. Isso precipitaria o debate público numa abissal zona cinzenta, à mercê de todo tipo de arbitrariedade dos poderosos de turno. A lei valeria só para o período eleitoral. Mas é um protótipo daquilo que o governo lulopetista quer normalizar. Há exemplos de quais seriam as consequências, como a denúncia oferecida à Polícia Federal após a catástrofe no Rio Grande do Sul pelo então ministro-chefe da Secom Paulo Pimenta. É uma maçaroca de publicações com informações supostamente descontextualizadas, estelionatárias, hiperbólicas, distorcidas, caluniosas ou só opinativas, empacotadas sob rótulo de fake news. Algumas nem sequer tinham conteúdo fake, muitas não eram news. O único elemento comum é que eram desfavoráveis ao governo. No dia 26, o Exército retirou emergencialmente moradores de Canoas ante a informação de que uma barragem se rompera. Ao fim, a informação se provou falsa. Mas, em meio ao trauma e pânico, os militares corretamente não pagaram para ver e agiram antes. Melhor prevenir do que remediar, tanto mais quando estão em risco centenas de vidas. Ainda assim, a reação do presidente Lula da Silva foi de irritação com o que chamou de “fake news” que teriam sido “produzidas” pelas Forças Armadas. Quem também anda irritado é o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Há poucos dias, uma reportagem do UOL citou falas de ministros do Tribunal Superior Eleitoral conferidas sob anonimato. Ao invés de disciplinar seus colegas, Moraes preferiu desmoralizar a repórter, acusando-a de inventar “fatos e versões”. Não se está falando de vieses autoritários por parte do proverbial “guarda da esquina”, mas sim dos próprios chefes da guarnição. A desinformação é um problema real que desperta apreensões no mundo inteiro. Mas há o risco de superestimar o seu impacto e de enfrentá-la com leis iliberais que não só agridem a liberdade de expressão, como podem ser contraproducentes. Um levantamento divulgado pelo Reuters Institute, de Oxford, mostra que informações consideradas “problemáticas” são só uma fração das informações em circulação (0,15% nos EUA, por exemplo), que só atingem (e menos ainda influenciam) uma fração da população. Há poucas evidências de que fake news alteraram resultados de eleições. Um estudo do International Panel on the Information Environment avaliou a eficácia de 11 medidas de combate à desinformação, incluindo a censura. As mais eficazes foram justamente as que não agridem a liberdade de expressão e envolvem a atuação da sociedade civil, como rotulação de postagens, informações corretivas, moderação de conteúdo e letramento digital. São as armas que Taiwan, por exemplo, privilegia com sucesso no enfrentamento da maior máquina de desinformação do planeta: o Partido Comunista Chinês. Não obstante, leis criminalizando a desinformação estão se proliferando. Um levantamento em 32 países do Center for News, Technology and Innovation mostra que, na maioria, fake news são mal definidas e deixam ao governo discricionariedade para decidir o que é ou não “desinformação”. O risco é de que medidas voltadas a uma conduta dolosa específica acabem, pela ansiedade pública ou oportunismo político, restringindo territórios muito mais amplos, incluindo conteúdos problemáticos, mas não demonstravelmente falsos ou dolosos. Quem quer matar uma mosca com uma bala de canhão arrisca-se a deixar muitas vítimas pelo caminho. Desinformação se combate prioritariamente com informação. O direito penal deve ser o último recurso para casos específicos e extremos. Essa tem sido a orientação do Legislativo. Infelizmente (e perigosamente) não é a dos chefes da guarnição no Executivo e no Judiciário. Para ler o artigo no original, acesse AQUI.

Jornalista do UOL sugere assassinato de conservadores

O jornalismo atual, sempre tão sedento de virtudes e cobrador de virtude, abriga os tipos mais imorais possíveis. Gente que prega amor e concórdia em uma linha, e espera que velhinhos conservadores tenham o mesmo destino dos nazistas em Bastardos Inglórios. Gente que acha válido que estes mesmos velhinhos sejam encurralados pelos brutamontes, sabidamente marginais, de torcidas organizadas. Gente como Millly Lacombe. No dia 25 de fevereiro, centenas de milhares de pessoas manifestaram-se na Avenida Paulista, em São Paulo, à favor do ex-presidente Jair Bolsonaro. apesar do grande número e dos traumas ainda recentes da manifestação atabalhioada de 87 de jhanbeiro de 2023, não houve violência e nem depredações. A direita brasileira voltou a fazwr as manifestações que a caracterizaram nos últimos dez anos. O clima pacífico foi ameaçado apenas por marginais que usam times de futebol como escudo para a prática de seus crimes. Ao fim do evento, um puhado destes maeginais intimidou mulheres, crianças e idosos que tentaram entrar em um vagão de metrô. A ação dos marginais foi comemorada pela “jornalista” Milly Lacombe, do UOL. Antes de qualquer coisa é preciso afirmar e reafirmar que torcidas organizadas são antros de marginais que já mataram brutalizaram, roubaram e cometeram centenas de milhares de delitos ao longo das últimas décadas. Absolutamente NENHUMA ação de torcidas organizadas será boa o suficiente para apagar o vasto passado de crimes. Dito isso, voltemos ao delito principal. Mais conhecida por espalhar notícias falsas do que por serviços prestados à informação do leitor, Milly já teria sido expulsa da profissão. Isso se, e somente se, o jornalismo brasileiro tivesse os critérios que exige de outras profissões. Disse Milly em sua coluna no UOL: “A manifestação na Paulista era uma manifestação antidemocrática por princípio. O que estava sendo defendido naquele dia eram valores como ditadura, tortura, torturador, golpe de Estado e tudo o que vem a reboque: racismo, misoginia, LGBTfobia, machismo”. E prosseguiu: “Seria preciso ter isso em mente: não estamos mais no terreno de polos políticos aceitáveis. Saímos desse cenário faz anos. A extrema direita não é campo legítimo. Extrema direita não se debate, se combate”. Antes de defender agressões contra mulheres (os vídeos mostram claramente mulheres sendo agredidas), Milly precisava desumanizar aquelas pessoas. O recurso argumentativo da jornalista do UOL é o mesmo empregado por defensores da destruição de adversários. “O meu adversário não pode existir. Então, eu tenho o direito de destruí-lo”. Após isso os preparativos para o horror, então veio o horror. Milly Lacombe assumiu ter se sentido feliz ao ver as agressões:   “Assistir aos vídeos oferece o mesmo tipo de conforto que sentimos vendo um filme como Bastardos Inglórios por exemplo”. Aos desavisados, cabe lembrar que o filme Bastardos Inglórios possui 2h33 minutos de assassinatos daqueles que, tanto heróis quanto vilões, decidiam que não podiam existir. Toda questão é resolvida com morte e tortura. “Conforto que sentimos vendo um filme como Bastardos Inglórios por exemplo”. O ato dos marginais resumiu-se ao impedimento da entrada nos vagões. Contudo, pelo texto de Milly, é fácil constatar que se fossem utilizadas as táticas dos personagens do filme, o conforto seria maior. Milly, inclusive, reconhece o contraste covarde entre agressores e agredidos em seu texto: “O que vemos de bate-pronto: homens fortões e de cara brava barrando pessoas da terceira idade de expressões entristecidas e amedrontadas de entrarem no vagão”. Só que, pouco importa se são “velhinhos com expressões entristecidas”. Segundo Milly, as agressões são válidas, e a solução “Bstardos Inglórios” também seria porque “estavam indo apoiar um movimento de extrema direita e todos os valores associados a ele”. Pela segunda vez no texto, Milly assume que as agressões contra bolsonaristas tratam-se de um ato ilegal. “Beira a ilegalidade? Talvez. Mas é legítimo”. O fato é que Milly Lacombe usou sua coluna no UOL para pregar agressões contra bolsonaristas, até mesmo os velhinhos. DESQUALIFICADA HOJE, ONTEM E AMANHÃ Ligada ao futebol, Milly já teve suas mentiras desmascaradas ao vivo pelo técnico, e ex-goleiro Rogério Ceni. Encurralada, como um rato que percebe o clique do acionamento da ratoeira, ela persistiu na mentira. Ali, bem ali, deveria ter sido banida da profissão. Só que não. Demitir uma mentirosa poderia ser encarado como um ato de “opressão masculina”. Então, Milly Lacombe manteve o emprego e o status de “comentarista esportiva”. Passados alguns anos e diversas opiniões inúteis como ela própria, Milly Lacombe vaticinou a desqualificação que já havia mostrado as caras no caso Rogério Ceni. Afirmou que o ex-jogador Ricardo Izecson dos Santos Leite, o Kaká, era “superestimado. “Branco, classe média alta, acho que tudo isso colaborou para que ele fosse superestimado”. Para firmar uma temeridade dessas, é preciso ser muito bom na arte de desprezar a realidade e permitir que a ideologia chinfrim possibilite ao cérebro funcionar como órgão excretor. Além de mentirosa (caso Rogério Ceni) e desqualificada (caso Kaká), Milly também demonstra ser uma frustrada. Em 2022 a pseudojornalista criticou a escolha de Pedrinho, ex-jogador de futebol, como o melhor comentarista do ano de 2022. Pedrinho foi escolhido por atletas do campeonato brasileiro. “Escolha de melhores e piores é retrato da masculinidade tóxica no futebol”, disse Milly.

Leite cru e maconha, proibidos. Tabaco e álcool, permitidos. Qual a lógica?

O ano de 2023 foi um bom ano para os defensores da legalização do leite cru e da legalização da maconha. Quarenta e seis estados americanos agora permitem a venda de leite cru, ou seja, leite não pasteurizado, para consumo humano, para consumo pet (não há lei contra o consumo de ração para animais de estimação), ou a distribuição de leite cru por meio de acordos de partilha de rebanho. Apenas os estados do Havaí, Louisiana, Nevada e Rhode Island proíbem a venda ou distribuição de leite cru. Os estados de Idaho, Iowa, Dakota do Norte, Utah e Wyoming relaxaram as proibições de laticínios crus em 2023. Ainda estamos longe da liberdade alimentar nos Estados Unidos: o direito de qualquer pessoa de cultivar, criar, produzir, comprar, vender, compartilhar e comer os alimentos que escolher da maneira que escolher. Mas pelo menos as coisas estão caminhando na direção certa. Os defensores do leite cru afirmam que a pasteurização prejudica o valor nutricional do leite e que o leite cru não só tem um sabor melhor, mas previne alergias, protege contra doenças de pele e reduz o risco de asma.

O mito das “raízes socialistas” do Cristianismo

Há quase dois milênios, alguns dos primeiros seguidores de Cristo em Jerusalém se organizaram de um jeito que ainda suscita a alegação de que as raízes do Cristianismo são socialistas, comunitárias ou até mesmo “comunistas”. Quando celebramos o nascimento de Jesus, devemos compreender que essa afirmação é espúria, se não blasfema. Suas fontes são duas passagens do livro de Atos, do Novo Testamento, capítulo 2, versículos 44-45, que afirmam: “Todos os que criam estavam juntos e unidos e repartiam uns com os outros o que tinham. Vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um.” Atos 4:32 declara: “Todos os que creram pensavam e sentiam do mesmo modo. Ninguém dizia que as coisas que possuía eram somente suas, mas todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham.” Muitos na esquerda argumentam que o ensino cristão deveria rejeitar a propriedade privada e endossar um sistema socialista de redistribuição de riqueza. Afinal, não foi isso o que os primeiros cristãos fizeram? Examine mais atentamente essas passagens em Atos. O arranjo “comunitário” era voluntário. Não há compulsão nem menção à única instituição na sociedade que pode empregar a compulsão de forma legal, nomeadamente, o estado. Atos 2:46 observa que esse grupo de cristãos primitivos “nas suas casas partiam o pão e participavam das refeições com alegria e humildade” (ênfase adicionada). Se ainda possuíam casas, alguns, pelo menos, claramente não venderam tudo. Aqueles que o fizeram trouxeram o dinheiro das suas vendas aos apóstolos, não a qualquer governo – romano ou judeu, secular ou religioso. Cristãos vêem Deus como o criador de todas as coisas e, portanto, como o dono de todas as coisas. Os seres humanos são administradores da Criação, e somos chamados pelas Escrituras a fazer bom uso dela. É provável, neste sentido transcendente, que alguns dos primeiros cristãos pensassem que sua riqueza material não era, em última análise, deles. De qualquer forma, o socialismo não é a partilha voluntária dos bens de alguém. Qualquer um pode optar por fazer isso sob a antítese do socialismo, o capitalismo. Na verdade, ocorre mais filantropia nas sociedades capitalistas do que nas socialistas, e os governos dos países capitalistas estão constantemente enviando “ajuda externa” aos regimes mais socialistas, e não o contrário.

Uma Internet livre é uma ameaça ao establishment

Dias atrás, um vídeo de Francis Fukuyama viralizou. No vídeo, o cientista político chamou a liberdade de expressão e um mercado de ideias de “noções do século XVIII que realmente foram desmentidas (ou mostradas como falsas) por muito do que aconteceu nas últimas décadas”. Fukuyama então reflete sobre como um regime de censura poderia ser decretado nos Estados Unidos. Mas a questão então se torna: como você realmente regula o conteúdo que você acha que é nocivo, prejudicial e afins — e faz isso de uma maneira que seja consistente com a Primeira Emenda da constituição americana? Agora, acho que você pode ultrapassar um pouco os limites porque a Primeira Emenda não permite que você diga o que quiser. Mas entre as democracias liberais, a Primeira Emenda está entre as mais expansivas de qualquer democracia desenvolvida. E você pode imaginar um mundo futuro em que nós meio que relativizamos a liberdade de expressão garantida pela constituição e dizemos não, agora nós vamos ter uma lei mais próxima da da Alemanha onde podemos designar, ou melhor, o governo pode designar, algo como discurso de ódio e depois impedir a disseminação disso. Mas a questão então é, politicamente, como você vai chegar lá? Francis Fukuyama Deixando de lado o fato de que o regime de censura de que Fukuyama está falando já está aqui, é importante considerar a admissão por trás de suas palavras. Francis Fukuyama é frequentemente associado ao movimento neoconservador. E isso por um bom motivo. Ele foi ativo no neoconservador Projeto para um Novo Século Americano e ajudou a liderar a pressão para a invasão do Iraque em 2003. Mas mais tarde voltou-se contra a guerra e renunciou ao neoconservadorismo, então ele talvez possa ser melhor entendido como um representante intelectual do establishment de Washington. Fukuyama é mais conhecido por seu livro de 1992 O fim da história e o último homem. O livro argumenta que a democracia liberal representa o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a forma final de governo por causa de sua vitória sobre o fascismo, o socialismo e sua suposta falta de contradições internas. Se houve um momento em que essa ideia ressoou, foi em 1992. A União Soviética havia desaparecido, e o governo dos EUA, recém-saído de sua sólida derrota do Iraque de Saddam Hussein, era a entidade individual mais poderosa da história. Mas, ao mesmo tempo, um meio inteiramente novo para a informação estava surgindo rapidamente. Em 1996, um engenheiro de software chamado Dave Winer decidiu hospedar seu boletim informativo na World Wide Web. O resultado foi o primeiro web log, ou blog. Ele o chamou de DaveNet. À medida que os blogs começaram a pegar, os autores podiam alcançar seus leitores diretamente, sem filtros, editores ou restrições de espaço. Não se pode subestimar o efeito desse desenvolvimento. Mas isso é melhor explicado por Martin Gurri em seu livro de 2014 The Revolt of the Public and the Crisis of Authority in the New Millennium. Gurri postula que ao longo da história humana “a informação não cresceu incrementalmente… mas expandiu-se em grandes pulsos ou ondas que varrem a paisagem humana e deixam pouco intocado.” Segundo Gurri, a primeira onda de informação veio com a invenção da escrita. A segunda foi desencadeada pelo desenvolvimento dos alfabetos. Essas ondas deram origem a governos e sociedades liderados por castas burocráticas e sacerdotais letradas. A terceira onda veio com a invenção da prensa tipográfica. De repente, o monopólio do ancien régime sobre a informação foi quebrado. O resultado foi uma mudança política radical — mais notavelmente a Reforma Protestante e as Revoluções Americana e Francesa. Central para a tese de Gurri é a ideia de que essas revoluções não ocorreram por causa de uma mudança repentina nos sentimentos do público, mas porque mudanças abruptas no espaço da informação permitiram que sentimentos que já estavam lá se espalhassem e se desenvolvessem fora do controle das classes dominantes. A quarta onda veio com a adoção dos meios de transmissão — rádio e televisão — durante o século XX. Embora essa onda tenha sido certamente disruptiva, a dominação antecipada das ondas de rádio pelo governo tornou mais fácil para a classe política manter o controle sobre o espaço de informação. Mas o mesmo não se pode dizer da quinta onda: a revolução digital. Apenas dois anos após o lançamento do DaveNet, outro blog, o Drudge Report, circularia pela imprensa do establishment e divulgaria a história que levou ao impeachment de Bill Clinton. Dez anos depois, quando mais uma crise financeira tomou conta do país, a internet permitiu que verdadeiros movimentos de oposição de base se organizassem e se espalhassem — o Occupy Wall Street, à esquerda, e o Tea Party, à direita. Também permitiu que candidatos como Ron Paul fizessem campanhas populares críticas ao establishment de Washington. A internet não permitia apenas que as pessoas vissem e ouvissem opiniões discordantes, mas também que elas vissem que essas opiniões eram populares. E por causa disso, desde a Primavera Árabe até a passagem do Brexit, o enfraquecimento do controle político sobre o espaço da informação começou a levar a mudanças reais em todo o mundo. Mas nos Estados Unidos, depois que Donald Trump ganhou a Casa Branca, a classe política acordou para o que estava acontecendo. E eles decidiram fazer algo a respeito. No início, era desinformação russa, depois extremistas domésticos odiosos e, mais tarde, céticos da covid. O establishment usou qualquer bicho papão ou espantalho que eles consideraram que poderia assustar o público a aceitar mais controle político sobre o espaço online. O que nos traz de volta a Fukuyama. De certa forma, ele está certo. Era muito mais fácil para o establishment de Washington agir como se apoiasse a liberdade de expressão e a livre troca de ideias quando controlava o espaço de informação. Mas agora que a internet reverteu parcialmente seu controle, essas ideias foram “desmentidas” aos seus olhos. Para aqueles como Fukuyama, que querem que o establishment de Washington mantenha seu intervencionismo cada vez maior no

A democracia frágil

Segundo o Judiciário, grande mídia e algumas “autoridades”, a democracia no Brasil é tão fraca ao ponto de ser vulnerável a um quebra-quebra em fim de semana em Brasília. No dia 8 de janeiro, menos de 5 mil pessoas desarmadas, intencionaram subjugar um país que conta com um contingente de mais de 700 mil soldados e policiais. Os revoltosos contavam em suas fileiras com empregadas domésticas, pequenos comerciantes, autônomos, professoras, desempregados, idosos em condições de saúde delicada, criancinhas e vendedores de algodão doce. E ao inferno com artigo 17 do Código Penal que afirma: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”. O fato é que aquelas pessoas, em uma Brasília deserta, não tinham apenas uma plena e idiota convicção de que iriam criar uma situação resultante na destruição da democracia e controle do país. Elas eram um indiscutível risco democrático! E às favas com o fato de que nenhum líder absoluto, ou grupo de líderes, foi indiscutivelmente apontado como mentor e articulador. Com provas cabais e inquestionáveis de que a democracia no Brasil foi arranhada pela destruição de cadeiras e quebra de vidros na capital federal. Aquelas pessoas anônimas, desarmadas, desarticuladas, desprovidas de poder e alheias às instituições de poder quase “derrubam o Brasil”. Alexandre de Moraes, o todo poderoso ministro que colocou um deputado na cadeia, intimida outros ministros, controla as redes sociais no Brasil e tripudiou de um presidente da República, iria ser enforcado por aqueles débeis manifestantes. Alguém tem dúvidas? É bizarro saber que todas estas pessoas que balbuciam o termo “democracia” com tanto entusiasmo não acreditem que ela seja forte o bastante para resistir a um movimento bisonho como o do dia 8 de janeiro. Será mesmo?

Vitória a longo prazo de Milei depende da vitória no campo das ideias

Milei Argentina

No domingo, Javier Milei foi eleito presidente da Argentina por uma margem confortável, com 56% dos votos. Ele tomará posse como presidente em 10 de dezembro. Ao longo do ano passado, no entanto, Milei se notabilizou como um crítico contundente do socialismo, dos bancos centrais e de muitos tipos de intervenção do governo em geral. Ele se tornou famoso por comentários inflamados condenando a ideologia e as táticas da esquerda, ao mesmo tempo em que expressava interesse em mudanças imediatas (ou seja, não gradualistas). Ele disse que busca abolir o banco central da Argentina e introduzir o dólar americano como moeda dominante do país. Sua política fiscal está muito mais na direção do livre mercado do que qualquer outro chefe de Estado em um país tão grande como a Argentina (com 46 milhões de habitantes). Milei expressou admiração pelo trabalho de Murray Rothbard, F.A. Hayek e uma variedade de economistas que são mais mainstream do que Rothbard e Hayek, mas que poderíamos razoavelmente descrever como mais ou menos de livre mercado. Além disso, Milei se identifica como um defensor da Escola Austríaca de Economia. Se Milei continuar comprometido em controlar (ou abolir) o banco central, reduzir impostos e cortar gastos do governo, Milei tem a oportunidade de promover reformas econômicas reais que possam fornecer alívio à classe média argentina sitiada. Essas pessoas sofreram muito com décadas de inflação de preços induzida pelo dinheiro fácil e uma carga cada vez maior de impostos e regulamentação. Muitos apoiadores libertários de Milei (dentro e fora do país) reagiram à candidatura de Milei com entusiasmo comemorativo. Alguns o declararam o próximo Ron Paul, e muitos outros parecem supor que sua eleição se traduzirá na implementação real de suas políticas declaradas.  Isso poderia acontecer, mas, infelizmente, a parte difícil só começou. É perfeitamente possível que Milei seja sincero em seus objetivos declarados e em seu aparente compromisso com a oposição radical contra o status quo desastroso na Argentina. Se assim for, trata-se de uma excelente notícia. Depois da eleição de Milei, porém, vem o verdadeiro teste. Supondo que Milei esteja sendo sincero agora, isso não significa que ele não estará mais tarde disposto a executar tais políticas se elas se provarem impopulares à medida que seu governo se desenrola. Dado seu curto histórico de servir em cargos políticos, temos pouco a sugerir sobre um provável resultado de uma forma ou de outra. Outra possibilidade é que possamos descobrir que ele não tem a habilidade política necessária para aproveitar e explorar o sentimento de livre mercado que existe no país atualmente. Ele terá que fazer isso para realmente aprovar qualquer uma dessas reformas. Que competências políticas são necessárias para isso? Milei deve ser capaz de convencer uma parcela considerável do público votante de que suas políticas funcionarão ou estão funcionando. Isso não significa necessariamente que uma maioria tenha que estar entusiasmada com ele em todos os momentos. Mas ele pelo menos tem que ser capaz de usar a opinião pública para pressionar o Legislativo e grupos de interesse poderosos. Como Milei não será um ditador na presidência, ele será forçado a de alguma forma espremer concessões de inúmeros socialistas e intervencionistas no governo que literalmente odeiam ele e suas políticas. Este não é um problema apenas em países com instituições democráticas. Nem mesmo ditadores podem simplesmente decretar políticas radicais à vontade. Como monarcas absolutistas e inúmeros ditadores militares descobriram em suas épocas, os chefes do Executivo enfrentam feroz oposição de interesses entrincheirados dentro do Estado em todos os tipos de regimes – exceto, talvez, em regimes totalmente totalitários. O tipo de reforma que Milei quer fazer prejudicará muitos grupos de interesse que se beneficiaram da inflação e dos altos gastos do governo. A classe produtiva pode sofrer muito com essas políticas, mas também há milhões de eleitores politicamente ativos que acreditam se beneficiar da política econômica de estilo peronista. Aqueles que acham que podem perder com a reforma vão resistir. Nenhuma vitória é possível sem progresso na batalha de ideias Por uma questão de argumentação, no entanto, digamos que Milei seja sincero em suas opiniões e também esteeja entre os políticos mais habilidosos que vimos em décadas. Digamos que ele seja habilidoso nos truques que políticos bem-sucedidos empregam para confundir adversários e construir coalizões. Em última análise, nem mesmo essas habilidades podem levar à implementação bem-sucedida de verdadeiras reformas radicais de livre mercado se Milei e seus apoiadores perderem a batalha das ideias nesse meio tempo. Milei só pode ter sucesso se o público concordar que as políticas de Milei “valem a pena”. Afinal, enquanto Milei tenta aprovar reformas como cortes de impostos ou limites à inflação monetária, seus adversários políticos inundarão a mídia com explicações de como Milei está prejudicando as pessoas comuns, destruindo a economia ou é, de alguma forma, “uma ameaça à democracia”. Os adversários intelectuais de Milei vão pedir que economistas expliquem como os impostos altos e a inflação são realmente bons. O público ouvirá de vários “especialistas” sobre como Milei está errado, e os socialistas e intervencionistas de sempre estão certos. Essas táticas são especialmente perigosas no curto prazo porque os esforços de Milei para cortar gastos e controlar a inflação de preços certamente causarão muita dor de curto prazo na economia. Cortes nos gastos do governo e o fim da política monetária fácil tendem a estourar bolhas financeiras e levar indústrias dependentes do governo ao declínio. O aumento do desemprego resulta no curto prazo, à medida que as falências aumentam. Isso, claro, é uma má notícia para qualquer político eleito. A menos que o público possa ser convencido de que essa dor levará a dias melhores pela frente, o público provavelmente abandonará Milei e suas políticas em pouco tempo. Então, quatro anos depois, os peronistas voltarão ao poder e o status quo prosseguirá como se nada tivesse acontecido. O único antídoto para isso é travar incansavelmente a batalha das ideias na academia, na mídia e com o público. Intelectuais, ativistas, colunistas e palestrantes promotores do livre mercado não devem se cansar de recapitular incessantemente a verdade sobre liberdade, livre mercado e paz.  Enquanto uma

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