
BRASIL, 11 de novembro de 2025 – As fraudes envolvendo descontos associativos no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) estão afetando diretamente beneficiários do Nordeste, região que tradicionalmente vota no presidente Lula (PT).
Segundo dados oficiais enviados pela autarquia à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, 36,4% das 5,9 milhões de contestações de descontos em folhas de pagamento registradas em todo o país foram apresentadas por beneficiários nordestinos — um total de 2.147.653 reclamações.
O número é praticamente idêntico ao do Sudeste, que aparece com 2.142.615 contestações, o equivalente a 36% do total das contestações registradas pelo INSS. No entanto, quando se considera o tamanho da população atendida pelo INSS em cada região, a diferença se torna expressiva.
O Sudeste possui 18 milhões de beneficiários, enquanto o Nordeste tem 11 milhões.
Ou seja: proporcionalmente, o número de nordestinos que contestaram descontos indevidos é maior, o que mostra que a fraude tem impacto mais concentrado e significativo sobre a população nordestina.
Na prática, isso significa que um em cada cinco beneficiários do Nordeste relatou não reconhecer débitos de associações e sindicatos, enquanto no Sudeste essa relação é de um em cada oito beneficiários.
O escândalo do INSS é um esquema onde associações suspeitas fizeram descontos automáticos e sem autorização nas folhas de pagamento de aposentados. Isso foi possível devido à colaboração de servidores do INSS. As fraudes resultaram em desvios bilionários.
A contestação desses descontos foi possível após a revelação do escândalo. Ela reforça a percepção de que as fraudes atingem com mais intensidade as regiões onde há maior vulnerabilidade social e econômica, e onde muitos aposentados dependem integralmente do benefício previdenciário como fonte de renda.
Entre as demais regiões, o Sul registrou 619.983 reclamações (11% do total), o Norte, 453.536 (8%), e o Centro-Oeste, 195.133 (3%).
Somadas, essas três regiões respondem por menos de um quarto das contestações nacionais, o que confirma a concentração do problema no Nordeste e Sudeste, especialmente em cidades de pequeno e médio porte com alta concentração de beneficiários.
“NÃO DESCONTARAM DE GENTE RICA”
À Gazeta do Povo, aposentados vítimas dos descontos associativos relataram os abusos cometidos por associações. O contador aposentado Paulo Pereira, de 80 anos, contou que precisou ficar de olho no extrato de sua aposentadoria após observar diversos descontos de R$ 75 em sua conta.
Segundo ele, a Caixa de Assistência dos Aposentados e Pensionistas (CAAP) teria retirado, sem seu conhecimento, R$ 600 em 2024.
“Eles (CAAP) me ligavam frequentemente para oferecer assessoria jurídica e médica, mas sempre rejeitei. Depois disso, começaram a aparecer esses descontos”, afirmou Pereira.
Ele acrescenta que os descontos ocorreram entre fevereiro e setembro, mas que, em julho de 2024, havia feito o pedido de bloqueio. A devolução ocorreu após a deflagração da Operação Sem Desconto, que apura fraudes no INSS.
“Mesmo eu tendo reclamado, ainda me descontaram outros dois meses”, disse o aposentado. Pereira também relata que, em sua opinião, os descontos parecem estar afetando mais a população pobre de sua região.
“Dos clientes ricos do meu escritório, que recebem aposentadoria pelo INSS, nenhum me relatou ter sido vítima desses descontos associativos. Por outro lado, as pessoas que tive conhecimento que sofreram com esses descontos eram pobres. Uma conhecida minha, que já faleceu, também passou por isso”, contou.
A Gazeta do Povo solicitou esclarecimentos à Caixa de Assistência dos Aposentados e Pensionistas (CAAP) mas não recebeu retorno.
Mais informações em Gazeta do Povo.







