O preço da hipocrisia

Por que Rodrigo Lago mantém um agressor condenado em cargo público?

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Escândalo na Assembleia: Rodrigo Lago mantém funcionário condenado por violência contra a mulher em cargo comissionado, expondo que o combate à violência contra a mulher é seletivo.

SÃO LUÍS, 4 de outubro de 2025 – A política, dizem, é o teatro das hipocrisias, mas o roteiro do deputado Rodrigo Lago (PCdoB) cruzou a linha do escárnio: o parlamentar, que se veste de paladino na tribuna, sustenta em seu gabinete um assessor condenado duas vezes por crimes de violência contra a mulher e descumprimento de medida protetiva. É a foto brutal da dupla moral que assombra a Assembleia Legislativa, onde a retórica inflamada morre à porta dos gabinetes, revelando que a defesa dos direitos femininos, para alguns, é apenas uma estratégia de palco.

O servidor Raimundo Nonato Ribeiro Neto foi sentenciado por crimes de violência contra a mulher e por descumprimento de medida protetiva. Incontestavelmente, a situação põe em cheque não apenas a ética do gabinete, mas a própria seriedade do discurso oposicionista que ele encarna.

Os dados são inegáveis e estão registrados no Diário da Assembleia. Ocupando a função de secretário executivo, a permanência de Raimundo Nonato foi mantida pelo deputado, mesmo após o registro da condenação em segundo grau pela 3ª Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar. Portanto, o fato central aqui não é a nomeação original, mas sim a opção consciente de mantê-lo em posição comissionada, remunerado com dinheiro público, após a Justiça ter se pronunciado de forma definitiva. Com efeito, essa decisão opera em total dissonância com a bandeira levantada por Lago.

TENSÃO ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA

A ficha criminal do servidor, com suas decisões transitadas em julgado, atesta que não se trata de um mero litígio, mas sim de crimes solidificados pelo veredito judicial. Nesse sentido, manter o condenado na folha de pagamento do Legislativo é percebido como um endosso tácito que minam a autoridade moral do deputado. A pergunta que se impõe, e que ressoa nos corredores da Casa, é esta: como pode um político que se posiciona como ferrenho combatente da violência contra a mulher, em seus atos práticos, decidir proteger um agressor já sentenciado?

A denúncia, por outro lado, sugere um delicado exercício de pragmatismo político que supera o imperativo ético. Na luz das câmeras, Rodrigo Lago é o defensor de causas nobres; fora delas, o silêncio sobre a ficha do seu assessor revela uma tolerância conveniente. Além disso, o escândalo força o parlamentar a escolher entre o risco de manter a acusação de hipocrisia ou o custo político da exoneração imediata, que representaria uma admissão de erro.

OS DESAFIOS INSTITUCIONAIS DA LIDERANÇA

Ademais, a polêmica atinge o coração da instituição, desafiando a própria Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa. A presença de um condenado por violência contra a mulher em cargo comissionado confronta diretamente os valores de proteção que o Parlamento deveria simbolizar.

A controvérsia coloca agora a primeira mulher a presidir a Assembleia, deputada Iracema Vale (PSB), diante de um dilema institucional que transcende a política partidária. A permanência do assessor afeta diretamente a credibilidade ética da Casa perante o eleitorado feminino. Em resumo, no vazio ensurdecedor da ausência de explicações do parlamentar, reside a implícita admissão de que, para alguns, a coerência discursiva pode ser uma variável negociável em detrimento de outros cálculos políticos.

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