ESCÂNDALOR PETISTA

ONG ligada à secretária do PT vira alvo de investigação

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ONG PT
Relatório do Ministério do Trabalho aponta que R$ 600 mil em recursos foram quase integralmente utilizados por ONG sem comprovação de capacitação.

MANAUS, 29 de maio de 2025 – Um relatório técnico do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) trouxe à luz uma série de “irregularidades financeiras” praticadas por uma ONG do Amazonas que, embora formalmente independente, mantém vínculos estreitos com a cúpula petista.

Fundado por Anne Moura, secretária nacional de Mulheres do PT, o Instituto de Articulação de Juventude da Amazônia (Iaja) recebeu R$ 600 mil do governo federal para capacitar 750 jovens, mas o investimento em qualificação foi praticamente simbólico: 97% dos recursos foram gastos sem aplicação direta na formação profissional.

A ONG, que ainda conta com aliados da petista na gestão atual, firmou contratos sem cotação de preços, assinou consultorias antes mesmo de pesquisar o mercado e elaborou cláusulas tão genéricas quanto uma promessa de palanque.

Os auditores consideraram os serviços de difícil comprovação e, diante da “ausência de resultados mensuráveis”, recomendaram a devolução de R$ 584,2 mil. Enquanto isso, o restante do repasse de R$ 1,2 milhão previsto no acordo segue suspenso.

A apuração do Estadão revelou que o MTE realizou uma visita à sede do Iaja em Manaus e analisou documentos enviados pela nova diretoria.

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Mesmo com a mudança de comando, os vícios administrativos pareceram manter-se fiéis à linha partidária: contratos foram fechados sem detalhamento técnico, metas ficaram no campo das intenções e, curiosamente, o termo “presunção de boa-fé” foi usado como justificativa formal para irregularidades detectadas.

O MTE, pouco convencido pela retórica, manteve a suspensão das atividades financeiras da parceria.

O nome de Anne Moura, apesar de ausente nos quadros formais da entidade, aparece em gravações feitas por um ex-dirigente do instituto.

Em um dos áudios, a secretária nacional do PT pede abertamente recursos públicos para sua campanha eleitoral em Manaus, alegando a urgência de “saber como fazer isso” e reforçando que “precisava de dinheiro”. Em outro trecho, defende que o comitê do Iaja fosse mobilizado em benefício de sua candidatura.

O Ministério da Cultura, citado como avalista de suas ações, nega ter participado de qualquer articulação nesse sentido.

VERBA PÚBLICA, CARNAVAL E HOMENAGENS ELEITORAIS

Em um aceno cultural, recursos de uma emenda estadual teriam financiado uma escola de samba que, não por coincidência, prestou homenagem a Anne Moura durante o período eleitoral.

O Iaja também é responsável por coordenar o comitê de cultura do Amazonas, órgão vinculado ao Ministério da Cultura e criado na atual gestão. A sobreposição entre funções institucionais e projetos pessoais não passou despercebida pelos órgãos de fiscalização.

A atual direção da entidade tenta atribuir as falhas ao ex-presidente Marcos Rodrigues, aliado político de Anne por quatro anos.

O rompimento do grupo revelou mágoas e confissões: Rodrigues admitiu à imprensa ter participado de desvios em nome de um “comprometimento político” e disse que foi “usado” pela dirigente petista. Segundo ele, o instituto era operado com fins eleitorais e mantinha uma estrutura fiel a Anne, mesmo após sua saída formal.

Entre os contratos firmados, destaca-se um acordo de R$ 614,6 mil com uma empresa de consultoria assinado antes da cotação de preços. Outro exemplo foi a contratação por R$ 35 mil para melhorias na sede da ONG, cuja comprovação se resumiu a algumas fotos.

A entidade também fechou contrato de R$ 81 mil para produção de material gráfico sem especificar o que seria entregue. Para os técnicos, a ausência de detalhes compromete a transparência e impede a verificação dos serviços.

NOTA OFICIAL

Em resposta, a ONG afirmou que está “adotando todas as providências legais” para corrigir os problemas herdados e proteger sua reputação. A nota, assinada por seu advogado, não conseguiu sensibilizar a equipe técnica do MTE, que manteve a recomendação de devolução dos valores.

O caso continua em análise, mas, até o momento, o instituto não conseguiu apresentar provas materiais do que foi feito com os recursos públicos — a não ser que campanhas eleitorais, desfiles e comitês possam ser considerados formas alternativas de capacitação juvenil.

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