BRASÍLIA, 16 de dezembro de 2024 – João Pedro Stedile, principal líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), declarou ao Painel estar insatisfeito com a condução da reforma agrária pelo governo Lula. Ele classificou a gestão como “vergonhosa” e criticou a ausência de ações concretas para atender as demandas do movimento, após dois anos de mandato.
Stedile afirmou que o MST está cansado de discursos e promessas sem resultados práticos.
“Não bastam mais propaganda, retórica, eventos e atos no Palácio. Queremos medidas concretas que solucionem problemas reais”, disse em entrevista por e-mail.
Ele demonstrou ceticismo em relação ao pacote de medidas prometido pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que prevê desapropriações, compra de terras e recursos para assistência técnica a assentados.
“Faz dois anos que falam em ‘pacotes’. Anunciaram a ‘prateleira de terras’ e outras promessas embaladas como presente de Natal, mas nada saiu do papel”, criticou.
Segundo Stedile, os camponeses mais pobres continuam sem políticas públicas efetivas. Ele citou como exemplo o Pronera, que possui 70 turmas de cursos superiores aguardando R$ 100 milhões de recursos.
Além disso, criticou a falta de verba para programas como Ates, assistência técnica nos assentamentos e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
“É vergonhoso que superintendências do MDA e do Incra nos estados não entreguem resultados. O governo desonerou mais de R$ 30 bilhões para grandes empresas, inclusive do agronegócio, mas não tem recursos para os pobres”, afirmou.
Stedile também apontou a inexistência de um projeto unificado de país no governo Lula. “Apesar da boa vontade do presidente, as políticas públicas não estão chegando às periferias e ao campo. Faltam medidas para combater a pobreza entre os 4 milhões de camponeses mais pobres e iniciativas para criar empregos e renda”, disse.
Sobre a possibilidade de mudanças na liderança do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Incra, Stedile destacou que o problema não é pessoal, mas estrutural. “Não houve nenhuma desapropriação. Temos 72 mil famílias acampadas há anos, esperando”, lamentou.
O MST aguarda uma reunião com o presidente Lula para revisar os acordos feitos em agosto, buscando soluções. “Nossa impressão é que os ministros não falam a verdade para o presidente”, afirmou Stedile.