BRASÍLIA, 25 de janeiro de 2024 – Se alguém tinha alguma esperança de que Lula desistiria da esdrúxula ideia de ver Guido Mantega na presidência da Vale, é melhor desistir. Lula quer porque quer enfiar goela abaixo de uma empresa privada há quase 30 anos um companheiro que ele considera tremendamente injustiçado.
Hoje, Alexandre Silveira, a quem Lula incumbiu de executar esse seu desejo, arregaçou as mangas e começou a operar oficialmente.
O ministro de Minas e Energia já ligou para mais de um acionista importante da mineradora e, falando em nome do presidente da República, disse que Lula não abre mão de ver Mantega na presidência da empresa.
O ministro foi claro. Lula não quer um assento para Mantega no conselho (são 13 vagas), mas o principal cargo executivo, cuja remuneração anual, aliás, é de cerca de R$ 60 milhões.
No dia 31, o conselho da Vale se reúne. Um dos assuntos da pauta é a decisão sobre se Eduardo Bartolomeo continua na presidência da Vale por mais um mandato.
Agindo assim, Lula reforça a impressão que acha que pode tudo. Até nomear um ex-ministro seu, que nunca trabalhou nem cinco minutos numa empresa privada, para comandar a segunda maior mineradora de minério de ferro do mundo.
Alguns assessores seus trabalhavam com a possibilidade de Lula esquecer Mantega e topar um nome alternativo. Lula quer Mantega.
Na Vale, porém, o governo tem menos poder do que no Congresso, onde anda levando um baile de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. O governo detém apenas 8% de participação, via Previ.
Claro que, possui também o poder de conceder licenças ambientais e minerárias, via DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) e ANM (Agência Nacional de Mineração), assim como pode atrapalhar os planos da Vale no setor de ferrovias, que são concessões federais.
Mas usar esses poder seria uma ingerência obviamente imprópria.
Um conselheiro da Vale lembrou há pouco o discurso da semana passada de Lula em Pernambuco, quando defendeu a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, que esteve no centro da Lava-Jato:
— Juntando aquela fala do presidente com essa tentativa de avanço real de hoje sobre a Vale dá para pensar que ele ultrapassou todos os limites.