BRASÍLIA, 14 de junho de 2024 – O indiciamento do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), por suspeitas de corrupção no Maranhão, revela mais sobre a fragilidade do governo de Lula (PT) do que sobre o próprio ministro, afirma o jornal O Estado de S. Paulo em editorial publicado nesta sexta (14).
Reportagens do Estadão apontam irregularidades no uso do orçamento secreto pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Quando deputado, Juscelino destinou verbas milionárias para asfaltar uma estrada que passa em frente a sua fazenda em Vitorino Freire.
Além disso, ele omitiu parte de seu patrimônio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, já como ministro, recebeu diárias para participar de um leilão de cavalos de raça. Sua cidade natal, administrada pela irmã, firmou contratos com empresas de amigos.
“A lista é longa”, destaca o Estadão. “Mas nada disso foi suficiente para retirá-lo do cargo.”
Diante das suspeitas, a Polícia Federal (PF) iniciou uma investigação envolvendo corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O relatório final também cita falsidade ideológica, frustração de caráter competitivo de licitação e violação de sigilo em licitação.
Apesar das acusações, Lula ainda não demitiu Juscelino Filho. Segundo o editorial, o ministro representa um problema para o governo não só por sua desqualificação como gestor público, mas também pelo risco de rebelião no União Brasil em razão de sua possível queda.
“O indiciamento veio a calhar em uma semana em que o Congresso andou bastante indócil com o governo Lula”, comenta o Estadão.
Para o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), a decisão sobre o futuro de Juscelino depende do presidente e de um posicionamento do União Brasil. Até agora, a legenda expressou “total apoio” ao ministro, alegando uma “possível atuação direcionada e parcial na apuração”.
Durante um evento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, Lula afirmou que “o fato de o cara ser indiciado não significa que cometeu um erro” e destacou a necessidade de provar a inocência dos acusados.
Embora o presidente possa demitir Juscelino Filho, o caso se arrasta desde janeiro de 2023, pouco após a posse de Lula para seu terceiro mandato.
“Seja qual for a decisão de Lula, o episódio só reforça que um governo fraco como o dele não pode se dar ao luxo de indispor qualquer partido de sua base rarefeita”, conclui o editorial.