
SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, 12 de janeiro de 2025 – A PF identificou que o deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL) utilizou valores fracionados em indicações de emendas parlamentares para facilitar a rastreabilidade e cobrança posterior pelo agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan. As verbas foram destinadas ao Ministério da Saúde durante o governo de Jair Bolsonaro.
Conversas obtidas pela investigação revelam que Josimar informava ao agiota sobre as indicações, citando valores quebrados, como R$ 1,048 milhão e R$ 4,123 milhões, para facilitar a identificação e cobrança junto às prefeituras beneficiadas.
O caso envolve também os deputados Pastor Gil (PL) e Bosco Costa (PL-SE), denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva e organização criminosa.
A investigação aponta que os três parlamentares destinaram recursos federais à prefeitura de São José de Ribamar para posterior coleta dos valores por Pacovan.
INFLUÊNCIA DO AGIOTA NOS REPASSES
Pacovan, conhecido por emprestar dinheiro a candidatos em campanhas eleitorais, cobrava recursos públicos como forma de pagamento de dívidas. Em dezembro de 2019, mensagens mostram que ele foi informado sobre três repasses do Ministério da Saúde para custeio de unidades municipais, totalizando R$ 6,6 milhões.
O agiota relatou dificuldades para cobrar a verba da prefeitura de São José de Ribamar e afirmou que outro lobista, identificado como Ebenezer, tentava intermediar o repasse.
Em um dos áudios analisados pela PF, Josimar confirmou que a escolha dos valores fracionados foi estratégica: “Foi votado com valores quebrados para não ter esse tipo de problema”.
O deputado também orientou Pastor Gil a destinar R$ 1,048 milhão para Ribamar e articulou com Bosco Costa a alocação de outros valores. Anotações encontradas vinculam Costa ao repasse de R$ 4,123 milhões, enquanto R$ 1,5 milhão teria sido indicado pelo próprio Josimar.
REAÇÃO E DESDOBRAMENTOS
A defesa de Josimar afirmou que não comentará o caso. Nos autos, o parlamentar nega ter destinado emendas ao município ou participado de desvios. No entanto, mensagens mostram Pacovan cobrando Josimar para intervir junto à prefeitura e garantindo que esperava o repasse de R$ 1,6 milhão.
O agiota chegou a ameaçar um intermediário envolvido: “Ele vai pegar uma bala na cara. Esse vagabundo. Eu fiquei ontem até meia-noite lá com o prefeito, no Ribamar”, afirmou em áudio enviado ao deputado.
A relação entre Josimar e Pacovan se estendia além dos recursos da saúde. O agiota, assassinado em junho de 2024, possuía contratos com a prefeitura de Zé Doca, então administrada por Josinha Cunha (PL), irmã do parlamentar.
Durante sua gestão, o município assinou contratos de R$ 1,6 milhão com um dos postos de gasolina de Pacovan. A investigação segue em andamento pela Polícia Civil do Maranhão.