ENTRELINHAS

Duarte Junior aplica golpe nos golpistas

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A política tem seus próprios rituais de execução, e nem sempre são barulhentos e gritantes. Às vezes, o fim chega disfarçado de declaração de apoio. Quando o deputado Duarte Junior veio a público apoiar o projeto de Orleans Brandão para 2026, citando a gratidão ao governador Carlos Brandão, ele não estava apenas escolhendo um lado. Ele estava jogando mais uma pá de cal sobre o futuro cadáver político de Felipe Camarão.

Para entender a situação, é preciso entender a natureza da ambição de Camarão. O projeto de tornar-se governador nunca foi construído sobre pilares de liderança ou apoio popular. Foi erguido sobre a areia movediça da conspiração e do medo. Sua única esperança, sua tábua de salvação, era o caos: a expectativa de que Carlos Brandão seria removido do cargo à força por via judicial. Camarão nunca quis ganhar uma eleição, ele queria herdar um governo no tapetão.

É aqui que a linguagem precisa ser brutalmente honesta. Se os aliados de Camarão estão abertamente afirmando que o trunfo para a vitória dele é um golpe, então são golpistas. Não há eufemismo que sanitize essa sacanagem. Quem planeja, defende ou espera por um golpe só pode ser chamado de uma coisa. Como costuma dizer Marco D’Eça: simples assim.

Durante meses, essa aposta no caos manteve o cenário político maranhenses em suspense. O medo funcionava. Muitos dos aliados mais fiéis de Brandão hesitavam em levantar a voz e assumir um lado. Até o fim de outubro, muitos se calaram, receosos de que a trama palaciana vingasse. E nesse cenário de covardia generalizada, Duarte Junior era o símbolo perfeito do “indeciso”. Aquele que espera que as coisas se decidam para poder decidir-se.

A decisão de Duarte é o atestado de que a estratégia do golpe está fazendo água.

Felipe vive um delírio em que acredita ser protagonista. Fala pelos corredores que será candidato ao governo, como se palavras virassem votos. Mas se Braide estalar os dedos, ele recua. Se Brandão piscar, ele some. O vice só teria chance real se assumisse o governo e concorresse com a máquina na mão. O que, convenhamos, é o sonho secreto de quem gostaria que Brandão fosse o fantoche que se recusou a ser, e que Braide, com toda a esperteza, jamais aceitaria. Felipe já anunciou que aceitaria o prefeito como vice.

Duarte explicou sua decisão com a palavra que mais falta no vocabulário dos golpistas de ocasião: gratidão. Disse que reconhece o apoio que recebeu de Carlos Brandão nas duas campanhas para a Prefeitura de São Luís (2020 e 2024) e que é hora de retribuir. Brandão foi o único que estendeu a mão, articulou apoios e ajudou o deputado a se firmar na capital, quando muitos do grupo de Dino preferiam vê-lo sangrar.

O que está matando as pretensões de Camarão não é apenas a resiliência de Brandão, mas a própria podridão dos métodos utilizados por ele e seu grupo. O entorno do vice-governador se transformou em uma crônica policial de quinta categoria. Chantagens gravadas, falsificações grotescas, traições mútuas. Um espetáculo deprimente de amadorismo e desespero. A política foi substituída pela baixaria.

Enquanto o grupo de Camarão se afoga em escândalos e histeria, Brandão joga o jogo da diplomacia e do convencimento. A escolha de Duarte mostra, de forma cristalina, qual método está prevalecendo. É a vitória da política sobre a conspiração.

A ironia é dolorosa. Duarte Junior, o mesmo que foi abandonado por Camarão no lançamento de sua campanha em municipal em 2024, agora entrega a cabeça do vice em uma bandeja. Isso expõe a total incapacidade de Felipe Camarão de unir até mesmo aqueles que compartilhavam interesses momentâneos.

O movimento de Duarte Junior não é apenas um apoio; é o início da debandada. É o sinal que não há mais medo de abandonar o barco furado de Camarão e correr para os braços de Orleans Brandão. O tempo está se esgotando, e a realidade se impõe de forma impiedosa.

Para Felipe Camarão, a declaração de Duarte Junior não foi um revés político. Foi quase que um tiro de misericórdia. O sonho está acabando. Resta apenas aguardar o fim melancólico de uma candidatura que nasceu morta, sustentada artificialmente pela ilusão de um golpe que nunca veio.

A debandada começou. E, no fim, Felipe Camarão vai descobrir da pior forma o que Duarte, e outros, já entenderam há muito tempo: em política, quem tenta dar golpe quase sempre é o primeiro a cair.

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