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SÃO LUÍS, 14 de janeiro de 2025 – A dívida pública brasileira se tornou o principal ponto de preocupação a respeito da economia brasileira, e é o que tem colaborado para a desconfiança de investidores – que são quem dá o dinheiro que a financia – e para os altos níveis do dólar e dos juros do país nos últimos anos.
É também o principal ponto que ainda impede o Brasil de ter uma nota de crédito melhor e retomar o grau de investimento, de acordo com as próprias agências que fazem as classificações de risco.
Ela não só cresceu enormemente na última década – saiu de 54% do PIB em 2014 para 76% no ano passado, de acordo com o Banco Central -, como, principalmente, está entre as maiores do mundo emergente.
Em um grupo de vinte das principais economias em desenvolvimento, a dívida brasileira é proporcionalmente a terceira maior, atrás apenas da Bolívia e da Argentina.
A comparação internacional leva em consideração a metodologia do Fundo Monetário Internacional (FMI), que usa uma conta um pouco diferente do padrão utilizado pelo Tesouro Nacional internamente, e por isso os números são maiores. As tendências entre os dois números, entretanto, costumam caminhar juntas.
De acordo com o FMI, a dívida brasileira chegou a 87% do PIB no ano ano passado, muito acima de outros países semelhantes como México (57,7%), Colômbia (55,8%) ou Chile (41%).
Por outro lado, o Brasil, junto à Turquia, é o único país onde a proporção da dívida em relação ao PIB, depois de um pico em 2020, chegou a 2024 sem ter crescido na comparação com 2019, antes do estouro da pandemia, quando o endividamento público cresceu no mundo inteiro.
A dívida pública brasileira está praticamente estável na comparação com o pré-pandemia. Ela saiu de 87,1% do PIB em 2019 para 87,6% em 2024, pelos números do FMI, um aumento de 0,5 ponto percentual.
Entre os países ricos, há vários onde a proporção da dívida sobre o PIB é historicamente mais alta que a do Brasil. No G7, grupo que reúne as sete economias mais ricas do mundo, a média hoje é de 124% do PIB, de acordo com o FMI.
Há diversos fatores, entretanto, que permitem a essas países terem dívidas maiores que os pares de renda média sem que isso abale a confiança dos investidores e gere receio de um calote na mesma proporção.
O próprio nível de renda maior, que abre espaço para mais despesas sem que isso prejudique a solvência do país, é um deles. O fato de terem juros muito mais baixos do que os do Brasil e dos emergentes em geral também faz diferença, já que, embora as dívidas sejam grandes, geram custos menores em pagamentos com juros.
Por esta mesma razão, também crescem em ritmo bem mais lento, já que tudo o que é pago em juros aumenta a própria dívida. É o caso do Japão, onde o débito público hoje chega a 245% do PIB, mas com juros que gravitam em torno do zero há anos.