
BRASIL, 14 de maio de 2025 – O próximo presidente da República herdará um grave problema quando assumir em 2027: contas públicas desequilibradas e dívida em trajetória de crescimento. Caso Lula (PT) se reeleja em 2026, caberá a ele próprio enfrentar o legado fiscal de seu primeiro mandato.
Desde que Lula assumiu, em 2023, o endividamento público, medido pela dívida bruta do governo geral (DBGG), saltou de 71,4% para 75,9% do PIB. Nos primeiros 27 meses de mandato, o governo registrou déficit primário – diferença entre despesas, excluídos os juros da dívida pública, e a arrecadação – anualizado em 22 deles.
Analistas consultados pela Gazeta do Povo alertam para o agravamento das finanças públicas, com perspectivas mais desafiadoras a partir de 2027. A situação tende a piorar devido ao crescimento das despesas obrigatórias e à ausência de reformas estruturais no ritmo adequado.
O mercado financeiro projeta que o endividamento das contas chegará a 94% do PIB em 2034, segundo levantamento realizado pelo Banco Central junto a instituições financeiras.
O endividamento cresce mesmo após o novo arcabouço fiscal de Lula, estabelecido em agosto de 2023, que é mais flexível que o teto de gastos implementado por Michel Temer.
2027: o momento da verdade para as contas públicas
Diante da rigidez dos gastos e da pressão da dívida, o próprio arcabouço fiscal pode se tornar inviável antes do fim da década, destacam Lívio Ribeiro e Matheus Ribeiro, da BRCG Consultoria. O próximo governo, independentemente de quem seja eleito, enfrentará o imperativo de conduzir um programa estrutural de contenção de despesas diante da crise fiscal.
A partir de 2027, as regras fiscais precisarão ser revistas. Uma opção seria promover uma revisão expressiva do gasto público para que o Estado “caiba” nas regras, como aponta Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital. Se isso não for feito, a alternativa seria flexibilizar as regras para acomodar um Estado maior, o que levaria à perda de credibilidade, juros altos e baixo crescimento.
A falta de sinalização clara sobre soluções fiscais pelo Congresso e grupos políticos deixa as expectativas econômicas “à deriva”, comprometendo investimentos, consumo e o ambiente de negócios.
O debate é ignorado pelo Executivo e Legislativo, mas o projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026 evidencia a urgência de ajustes fiscais, destacando que o problema reside no controle de gastos públicos, não na arrecadação.
Como definiu o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, trata-se de uma “crise fiscal contratada”, cujas consequências serão sentidas nos próximos anos. A solução passa por um compromisso político em torno de uma agenda de mudança no gasto do governo, buscando um Estado mais eficiente e focado em suas funções essenciais.
“O ritmo atual de melhora gradual não é suficiente. Será preciso algo mais ousado para conter as despesas mandatórias e os gastos tributários”, conclui Salto.
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