
BRASIL, 25 de abril de 2025 – A poucos meses da COP30 — a conferência global onde o Brasil será anfitrião de líderes mundiais preocupados com o meio ambiente — a Amazônia resolveu, ironicamente, chamar atenção da plateia.
De agosto de 2024 a março de 2025, as áreas desmatadas da Amazônia Legal aumentaram 18% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que acompanha a dança das motosserras via satélite.
O salto de 1.940 km² para 2.290 km² — área superior à da capital Palmas (TO) — foi registrado em pleno “calendário do desmatamento”, nome simpático para o ciclo que vai de agosto a julho, delimitado pelas chuvas e, mais crucialmente, pela falta delas.
A ironia ganha contornos mais vívidos quando se lembra que o Brasil aposta suas fichas na COP30, marcada para novembro em Belém (PA), como palco de sua liderança ambiental.
O governo federal insiste em reafirmar o compromisso de zerar o desmatamento até 2030. Por ora, os números caminham em sentido contrário, como quem testa o limite da paciência internacional.
Apesar do aumento, especialistas lembram que os índices atuais ainda estão abaixo dos picos históricos. Para a pesquisadora Larissa Amorim, do Imazon, esse crescimento já deveria servir como alarme. “Estamos na janela em que a floresta, ajudada pelas chuvas, ainda tenta resistir. Mas isso não dura muito. A urgência é agora”, adverte.
E se o desmatamento preocupa, a degradação florestal dá um passo além na coreografia: saltou 329% no mesmo período — de 7.920 km² para impressionantes 34.010 km². A floresta, ainda de pé, sofre com queimadas e extração de madeira, o que compromete biodiversidade, produção de água e estoque de carbono.
Em março, os satélites flagraram 206 km² degradados, uma queda em relação ao recorde histórico de 2.120 km² no mesmo mês do ano passado — um alívio que mal disfarça a tendência.
Segundo o Imazon, esse salto se deve, em grande parte, às queimadas de grande porte entre setembro e outubro de 2024, que ajudaram a garantir à Amazônia o título de maior índice de degradação em 15 anos. De lá para cá, os dados se estabilizaram em níveis elevados, como quem se acostuma com a fumaça.
A floresta, como se vê, segue dando sinais — alguns discretos, outros escancarados — de que talvez precise de mais do que promessas climáticas e eventos internacionais para se manter em pé.