
BRASÍLIA, 20 de julho de 2023 – Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agradecer à África pelos “350 anos de escravidão” que teriam contribuído para a formação cultural e racial do Brasil, as principais entidades antirracistas, em sua maioria apoiadoras do petista, ignoraram a declaração.
“Quero recuperar a relação com o continente africano porque nós brasileiros somos formados pelo povo africano. Nossa cultura, cor e tamanho é resultado da miscigenação entre índios, negros e europeus. Temos profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão em nosso país”, declarou o presidente.
Organizações como Amma Psique; Baobá – Fundo para Equidade Racial; Centro Santo Dias de Direitos Humanos; Coalizão Negra Por Direitos; Coletivo de Entidades Negras (Conen); Coletivo Papo Reto; Coordenação Nacional de Articulação dasComunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq); Educafro; Frente Parlamentar Antirracista; Fórum Permanente para Igualdade Racial (Fopir); Instituto Odara; Instituto Geledés; Instituto Marielle Franco; ONG Criola; Uneafro e o Ministério da Igualdade Racial não emitiram comentários ou se manifestaram sobre o assunto, mesmo após mais de 24 horas da fala controversa do presidente.
Algumas dessas entidades, que anteriormente defenderam publicamente a candidatura de Lula nas eleições presidenciais, e têm membros no chamado “Conselhão do Lula,” não responderam aos questionamentos sobre a declaração. O ativista Douglas Belchior, cofundador de ONGs como a Uneafro e a Coalizão Negra Por Direitos, e outros membros do “Conselhão”, também permaneceram em silêncio sobre o assunto.
Por outro lado, poucas figuras públicas, como a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), saíram em defesa de Lula, interpretando sua fala como uma expressão de gratidão à África pela formação cultural do Brasil. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, também tentou contornar a polêmica, afirmando que Lula falava sobre a dívida do Brasil com o continente africano e a necessidade de cooperação comercial e tecnológica.
“O que o presidente Lula disse foi: ‘o Brasil tem uma dívida com África e ela tem que ser paga’. E por isso, o Presidente tem insistido – e já falei com ele sobre isso – é que a agenda de direitos humanos com África envolve o chamado direito ao desenvolvimento”, disse Almeida, nessa quinta (20), ao jornal O Estado de S. Paulo.
Anteriormente, o ministro de Direitos Humanos se calou diante de medidas de Lula consideradas desastrosas em termos de direitos humanos até mesmo pela imprensa internacional. No final de maio, Silvio Almeida optou por não se manifestar após a calorosa recepção de Lula ao ditador responsável por violações diversas à democracia, às liberdades individuais e aos direitos humanos, venezuelano Nicolás Maduro. Nesse mesmo período, Almeida ignorou o caso da agressão a uma repórter por um dos seguranças de Maduro e por membros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do governo Lula.
Na oportunidade, parlamentares de oposição destacaram a conveniência política nas críticas feitas por essas entidades, ressaltando a importância de manter uma postura firme e consistente na luta contra o racismo, independentemente do autor da declaração.