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A metapolítica do aborto

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“(…) já estamos sob o Estado Eugênico; e nada nos resta senão a rebelião. ” G. K. Chesterton, em Eugenia e Outras Desgraças.

“A coisa mais misericordiosa que uma família numerosa faz a um de seus membros infantes é matá-lo”, assim atestou Margaret Sanger em seu livro Woman and the New Race, publicado em 1920. Sanger foi uma das mentes inspiradas pelo movimento eugênico, cujas práticas não tardariam em ser disseminadas por inúmeros teóricos, inclusive os nazistas.

Não por acaso, Sanger, que buscava a legalização do aborto a fim de controlar o número de nascimentos, fundou a Planned Parenthood e estendeu a política abortista aos pobres, doentes e deficientes. A empresa – a qual em 2015 teve expostos vários de seus altos funcionários que estavam envolvidos no comércio de órgãos e tecidos humanos – tornou-se uma autêntica indústria da morte.

Entre as décadas de 20 e 60, estudos demográficos inspirados pelas ideias de Thomas Malthus, que tratavam sobre os conflitos entre crescimento demográfico e disponibilidade de recursos, começaram a ser financiados por fundações bilionárias, o que fez com que a política abortista passasse a ser então encarada como “planejamento familiar”. No livro The Plundered Planet, Henry Osborn produziu um desserviço de cunho eco-alarmista ao vincular a eugenia com a preservação da natureza.

Não tardaria até que uma pretensa sinarquia vislumbrasse os frutos que essa política poderia render em âmbito mundial: a filantropia gerava isenção de impostos; e os recursos financeiros sobressalentes foram alocados para a política de redução populacional e para o controle de mercado, que garantia poder manipulativo sobre possíveis emergentes – isto é, futuros concorrentes –, o que acabou virando documento no posterior “Relatório Kissinger”.

Na década de 70, a macabra tríade de filósofos composta por Michael Tooley, Peter Singer e John Harris fez inúmeras relativizações em defesa do infanticídio. Singer elaborou raciocínios tais como “bebês humanos não nascem autoconscientes, ou com a capacidade de compreender que existem na temporalidade. Eles não são pessoas,” ou “a vida de um recém-nascido tem menos valor do que a vida de um porco, cachorro ou chimpanzé” em seu livro Practical Ethics. Já John Harris teve a torpeza de trocar o termo infanticídio por “aborto tardio”.

Foi nessa mesma década que Norma McCorvey ingressou nos tribunais enquanto mentia ter sido estuprada – a falsa acusadora contava com o financiamento de grupos abortistas e com o ativismo de duas advogadas feministas, Linda Coffee e Sarah Weddington, no famoso Caso Roe contra Wade, que ocorreu nos Estados Unidos. O que estava em jogo nesse caso não era a cliente, que, posteriormente arrependida, admitiu ter sido instrumentalizada até mesmo pelo Judiciário. O objetivo consistiu em desafiar as leis que restringiam o acesso ao aborto, o que abriu um precedente legal resultante em mais de 60 milhões deles naquele país até a data presente. Como critério comparativo, temos aqui um saldo de vítimas inocentes proporcional ao número de civis e combatentes mortos na Segunda Guerra Mundial.

Em 2012, os filósofos Alberto Giubilini e Francesca Minerva publicaram um artigo no Journal Medical Ethics chamado “Aborto pós-parto: por que o bebê deveria viver?”. Ao endossarem que o aborto já era amplamente aceito por motivos que não têm relação com a saúde do feto, alegaram que recém-nascidos não possuem status moral de “pessoas reais”, e que são, portanto, desprovidos de direitos. Aspectos sociais, psicológicos e econômicos adentraram no rol de possíveis fardos a legitimar o infanticídio. Por fim – e eivados de cinismo ímpar –, esses mesmos autores defenderam, por um outro lado, que a opção pela adoção acarretaria sofrimento psíquico à mãe.

Ano passado, no emblemático dia do 46º aniversário do Caso Roe contra Wade, o Estado de Nova Iorque aprovou uma lei totalmente arbitrária e subjetiva, que garante não só o aborto até os seis meses de gestação, como também a prática desse crime em qualquer etapa, caso haja risco ao “bem-estar da gestante”.

Já as recentes manobras na lei de bioética da França, por sua vez, não visam dar mais lisura aos critérios de “interrupção voluntária da gravidez (IVG)” e “interrupção médica da gravidez (IMG)”. A primeira é permitida até a 12ª semana, enquanto a segunda pode ser realizada em qualquer momento da gestação. Ao ser defendida uma justificativa com um conceito tão elástico como “sofrimento psicossocial”, abre-se, por conseguinte, mais um precedente para o aborto até o último dia de gravidez.

Sem mais delongas: se a finalidade última dessa política reside na pressão feita por linhagens oligárquicas que dependem da redução e controle populacional via extermínio dos indesejáveis – fazendo com que a população mundial assim se torne mais manejável e fácil de controlar –, a perversa metafísica abortista se exterioriza em inversão revolucionária; e é nesse mar de insanidade que termos enganosos como “direitos sexuais e reprodutivos” adornam prática e simbolicamente o ritual dos antigos amonitas, cujo fogo sacrificial estava para Moloque assim como o aborto está para a tecnocracia que blinda submundos não mais ocultos.

Os manipuladores da ditadura “científica” não têm outro objetivo senão o de demover direitos naturais, inserindo não necessariamente o Homem, mas alguns homens no centro de seu próprio universo, exercendo poder de morte sobre todos os demais. Inimigos da criação, são arautos da destruição.

Citando o teólogo Dietrich Bonhoeffer, “é puro e proposital diversionismo discutir se a vida no útero da mãe é ou não um ser humano”. “Uma vez que não há dúvida de que Deus tenha concedido a vida, o ato de privar o nascituro dela não será nada além de assassinato”. Sem isso em mente, não haverá prática efetiva para reverter desumanização que pretende fazer do ventre de uma mãe o lugar mais perigoso para um ainda não nascido.

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