ENTRELINHAS

A metamorfose ambulante de Carlos Lula

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Deputado questiona em 2024 processo de escolha para TCE do qual ele já participou direta e indiretamente no passado.


Em um mundo ideal, onde a lógica e a ética reinam supremas, os atos de um homem seriam o espelho de suas palavras. No entanto, na arena política, onde as sombras da conveniência e da oportunidade se entrelaçam, o idealismo tende a ser maus uma relíquia do passado do que uma prática contemporânea.

Na manhã desta terça (27), deputados discutiram na Assembleia Legislativa o processo de escolha de um novo conselheiro para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) no Maranhão. Situação que ofereceu um vislumbre da realidade distorcida, onde o deputado Carlos Lula, aspirante à vaga de conselheiro, ocupou uma encruzilhada de contradições inexplicáveis.

Carlos Lula, armado com a retórica de querer preservar a prerrogativa do legislativo maranhense, lançou sua candidatura contra o apoio do Palácio dos Leões ao advogado Flávio Costa. Curiosamente, ele ameaça judicializar o processo baseando-se em supostas falhas técnicas e inconstitucionalidades.

Ocorre que Lula foi lembrado pela presidente da Casa, Iracema Vale (PSB), que nunca expressou tais preocupações anteriormente, mesmo tendo votado como deputado em outras ocasiões para membros do TCE e servindo como assessor jurídico da casa por longos anos em outros.

Por que a coisa mudou justo agora?

A ironia dessa situação não pode ser contida em uma caixa, é preciso um contêiner. Um homem que, por muito tempo, navegou pelas águas tranquilas do processo de escolha de membros do TCE, sem nunca agitar as ondas da discordância, subitamente encontra-se na tempestade da contestação, no exato momento em que decide lançar sua própria candidatura.

Carlos Lula age como se fosse um jogador de xadrez que, após anos jogando com as peças brancas, acusasse o tabuleiro de sempre esteve inclinado somente quando é sua vez de jogar com as peças pretas.

A questão, na verdade, não é sobre a legitimidade de questionar o processo – um direito inalienável em qualquer democracia – mas sim sobre o timing conveniente dessas dúvidas.

A crítica sutil, porém pontiaguda, de Iracema Vale, destila a essência deste drama: a estranha coincidência do surgimento dessas preocupações com a candidatura de Lula.

Pode-se argumentar que em política, assim como na guerra e no amor, tudo é justo. No entanto, o respeito pela coerência e pela integridade não deveria ser sacrificado no altar das ambições pessoais.

A atitude de Lula, embora possa ser vista como uma estratégia astuta por alguns, reflete uma desconexão entre a prática de longa data e a retórica de momento – uma espécie de amnésia seletiva que afeta convenientemente a memória quando o cenário se torna pessoalmente vantajoso.

Em conclusão, enquanto observamos este teatro de ambições, onde as cortinas se abrem para revelar não apenas os atores, mas também suas sombras, somos lembrados de que a verdadeira integridade na política é rara. E na rara ocasião em que ela brilha, muitas vezes é ofuscada pelo brilho cegante das lanternas da oportunidade e da conveniência.

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