BRASIL, 31 de julho de 2024 – O Ministério da Saúde parou de divulgar boletins com dados sobre número de mortes e incidência de doenças e desnutrição na Terra Indígena Yanomamis. O último relatório foi publicado em fevereiro, com informações referentes a dezembro.
O governo também deixou de responder os pedidos sobre a situação na região apresentados via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Em nota enviada ao Estadão, a pasta informou que “divulgará em breve um balanço com dados atualizados sobre o povo Yanomami” e que os números estão passando por revisão da área técnica para “garantir a precisão”.
CRÍTICAS
O território dos Yanomamis é uma região pressionada pelo garimpo ilegal, que acaba poluindo os rios da região e afugentando a caça, impactando nos meios de sobrevivência da população. Além da incidência de doenças como a malária, o povo sofre com a desnutrição e conflitos com garimpeiros. Havia uma expectativa de que a intensificação de ações do governo na região trouxesse a redução no número de mortes, o que não aconteceu.
No boletim de fevereiro, o ministério informou que foram registradas 363 mortes no território em 2023, ante 343 em 2022. Na época, a pasta argumentou que havia intensificado a busca ativa de casos de doença e mortes, o que inflou as notificações e resultou em números maiores.
O dado gerou uma crise e culminou em uma “bronca” pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Além de reclamar dos resultados da força-tarefa, o presidente criticou o fato de os dados de mortalidade terem vindo à tona por meio da imprensa, via LAI. Agora, a pasta não tem respondido nem mesmo os pedidos submetidos por lei de acesso.
Uma das solicitações sobre o tema foi negada com o argumento de que os dados estão em “tratamento e serão publicizados quando da sua conclusão”.
AUMENTO DE CASOS DE MALÁRIA
A reportagem pediu à pasta dados atualizados sobre o número de mortes no território Yanomami, mas as informações não foram fornecidas. O ministério repassou apenas os casos de malária registrados na região.
Os dados mostram alta na incidência da doença. Enquanto no primeiro semestre de 2023 foram registrados 14.550 casos de malária, no mesmo período deste ano foram 17.348, um aumento de cerca de 20%.
No mesmo período, no entanto, a quantidade de testes passou de 78.777 para 128.693, um crescimento de 63%, de acordo com a Saúde. “O aumento na realização de exames explica a maior identificação do número de casos de malária”, disse o governo em nota.
Em relação ao tratamento, a pasta afirmou que treinou 224 profissionais de saúde para ministrar a tafenoquina. O medicamento, que foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) em junho de 2023, é ministrado em dose única, combinado com três dias de uso de cloroquina.
Antes, o tratamento contra malária era feito majoritariamente com primaquina, que deve ser usada por sete dias. Segundo o ministério, o novo medicamento “reduz o tempo de tratamento, aumenta a adesão e evita recaídas.”