ENTRELINHAS

Afinal de contas, de que se trata ser mulher?

Compartilhe
Reflexões sobre uma data isolada que talvez não seja suficiente para abrigar a essência de nossa existência.

Em um mundo em que o sentimento pelas coisas e a opinião sobre as coisas transcende a necessidade de saber o que são as coisas, é cada dia mais difícil estabelecer-se de forma segura na realidade. Situações de grande magnitude, que deveriam ser evidentes por si sós, passam a abrir espaço para debates e preferências subjetivas. Disse G.K. Chesterton certa vez “Chegará o dia em que teremos que provar ao mundo que a grama é verde”. Talvez eu não precise pegar em armas nas próximas linhas, mas com certeza irei despertar a vontade de alguns de usar algum tipo de arma contra mim. Vamos lá, o mundo é dos bravos.

Acredito que vocês, pelo menos os mais ávidos pelos mínimos critérios, defendem a tese de que algo único precisa ter características únicas. O que faz algo ser algo é sua identidade. Parece meio óbvio, certo? E é! Se todas as coisas no universo fossem pequenos círculos verdes com raio de 12 centímetros feitas especificamente pelo mesmo tipo de plástico, tudo seria uma grande repetição e não existiria realidade.

Daí não só a beleza da diferença, mas sua necessidade. Estamos conversados? Pois bem, sigamos.

Mesmo que a mulher seja algo que povoa este mundo nos últimos 2 milhões de anos, o dia 8 de março tem suas origens em um espaço de tempo, e em um certo tipo de mulher, limitado. A simbologia do dia 8 de março, que é alastrada a todas as mulheres de todos os tempos, tem suas origens em fenômenos sindicalistas do século XX. A homenagem trata-se de um tributo a trabalhadoras vítimas de um incêndio nos EUA em março de 1911.

Isso me intriga. 

Será que dois milhões de anos de existência podem ser resumidos a um evento histórico de cunho político? Será que o ser mulher, a identidade da mulher, aquilo que a faz diferente das outras trilhões de bilhões de coisas é o sofrimento no ambiente de trabalho e a discriminação? Ser mulher é sofrimento e opressão pós-Revolução Industrial? 

NATUREZA HUMANA

Antes de continuar falando sobre as mulheres, vamos dar uma pequena visita na natureza da civilização humana. Só nos tornamos povo, saímos das cavernas e dominamos os céus do espaço porque somos e continuamos sendo em um processo de construção ininterrupto de gerações. Somos o resultado daqueles que viveram no passado e aqueles no futuro serão o resultado de nós, presentes, e dos seres do nosso passado. A civilização só existe, desde suas coisas mais odiosas até as mais belas, por conta do nascimento, a tal maternidade.

Sem o nascimento de outros, teríamos parados nos primeiros. Começa com o nascimento e passa para a educação, o cuidado. E só depois, só muito depois, vem a sobrevivência.

A concepção humana e a proteção do humano em seus primeiros anos, a estrutura responsável por toda a existência de tudo o que temos e somos hoje, só o é porque existe a mulher.

Vamos agora propor um exercício de comparação um tanto quanto inusitado: será que um sofrimento originado por uma situação ocorrida há 100 anos define mais adequadamente a essência feminina do que a responsabilidade que a mulher tem carregado por dois milhões de anos pelo nascimento da civilização humana em cada recanto do globo terrestre?

“A mulher não é só isso”, deve pensar o incrédulo, ou incrédula. “Só isso” não cabe em uma frase que determina a responsabilidade pela gestação e nascimento de bilhões de pessoas. Este é um fato e ele independe de sentimentos. Lamento!

“A mulher é bem mais que isso”. Absolutamente correto! Como se não bastasse carregar a responsabilidade pelo nascimento da civilização humana, a mulher ainda transcende a sua função biológica!

A EVOLUÇÃO

Ao longo destes dois milhões de anos, enquanto o homem era forjado na guerra e na selva da barbárie, coube a mulher preparar as bases que impulsionaria o ser humano para superar a natureza e alcançar a liberdade do estado de natureza.

Enquanto o homem guerreava e matava no selvagem, a mulher criava as bases do progresso social no doméstico. E antes que alguém torça o nariz sobre o uso do termo ‘doméstico’, gostaria de lembrar que ele é antônimo de selvagem. O doméstico é o que se contrapõe ao selvagem. Voltemos.

Não é necessário ser um historiador ou sociólogo para compreender que, de forma simplificada, a estruturação da família deu origem às tribos. Essas tribos evoluíram para cidades, que se transformaram em estados, culminando em nações. Essas nações, por sua vez, serviram de fundamento para a construção da sociedade global.

Acho que a grandiosidade existencial e social das mulheres ficara bem delimitadas. Apesar disso, ainda há mais.

Nas últimas décadas, à medida que a civilização avançava tanto tecnológica quanto socialmente, distanciando-se do estado primitivo de selvageria em que a humanidade começou sua trajetória, o alcance da influência feminina tem se expandido consideravelmente.

A mulher não tinha espaço na selvageria porque seus domínios são os da socidade.

Homens dominaram por muito tempo o ambiente profissional, isso é fato. E principalmente quando o ambiente profissional se resumia a vagas para morrer em guerras, morrer em minas, morrer em outras profissões perigosas ou adoecer em tantas outras.

Felizmente, a sociedade evoluiu. Uma evolução que trouxe consigo o abandono gradativo da selvageria e a ascensão profissional das mulheres.

É de facílimo entendimento perceber que quanto mais primitiva era sociedade, menos mulheres no mercado de trabalho havia. Quanto mais ela evolui…

Foi justamente essa jornada pela natureza que garantiu a ela outra qualidade importantíssima: o amor e a sensibilidade. Por estar fora, matando leões ao longo de milhões de anos, o homem tornou-se tão forte e cruel quanto a natureza. O que foi necessário para sobreviver à natureza. Caso contrário, estaríamos até hoje vivendo em cavernas e sendo devorados por animais selvagens.

Estar fora deste ambiente deu a mulher mais sensibilidade, mais racionalidade, compaixão e amor. Creio que seja também, dificultoso, acreditar que quem não convive com selvageria, menos selvagem se torna.

O grau de importância entre a força masculina e a sensibilidade feminina acabaram invertidos ao longo do amadurecimento e evolução humana. A brutalidade que era necessária no passado, tornou-se dispensável no presente. A sensibilidade que era perigosa no passado, é essencial no presente e será mais ainda no futuro.

Dito isso, dito tudo isso, será que podemos resumir a natureza da mulher a um evento particular de um desdobramento da revolução industrial? E sabendo que incêndios em fábricas não eram uma exclusividade de mulheres? Bem como a luta por direitos trabalhistas ou organização sindical?

Eu me recuso a aceitar que a grandiosa natureza da mulher seja guardada em uma caixa tão pequena. 

Eu me recuso a acreditar que o que faz uma mulher, os laços que as unem, seja sofrimento e opressão empregado por homens e empresários. Recuso-me prontamente a acreditar que há um fundamento “sindical” na união feminina.

Ser mulher é bem mais que isso. Muito mais grandioso e muito mais significante.

A importância da mulher não cabe em um recorte histórico transitório, não cabe em um evento particular ou em uma teoria política moderna. A mulher já estava aqui bem antes da modernidade, senhoras e senhores! O ser mulher está em uma prateleira muito acima de fenômenos sociais. O ser mulher tem lugar de destaque na existência da natureza humana.

Antes de fábricas, antes de partidos, antes de empregos e antes de tudo o que estiver relacionado a estas coisas. Esses são espaço incapazes de abrigar a natureza da mulher. Desde a mais poderosa e descomedida até a mais humilde e pacata mulher.

SER MULHER É UM NÚMERO QUE VOCÊ NÃO PODE CONTAR

Dada a grandiosidade da mulher e de sua imponência existencial, também não me peçam para acreditar que ser mulher é estado de espírito ou resultado de transformação. Não, não e não! Da mesma forma que a história e a importância da mulher superam em muito uma data isolada, ser mulher supera, ainda mais, uma simples vontade ou estado de humor.

Ser mulher é uma condição única de contemplar a intrincada interseção entre a biologia e a identidade feminina. Ser mulher não é apenas uma questão de vontade ou desejo, mas sim uma condição que está enraizada na própria essência da existência.

É a união harmoniosa entre os aspectos físicos e metafísicos que delineiam a verdadeira feminilidade. Reconhecer-se como mulher vai além de meras aspirações; é uma espécie de reconhecimento cósmico que valida e autentica sua presença na teia da vida.

Nesse sentido, é fundamental desprezar a ideia simplista de que a mera vontade de ser mulher é suficiente para sê-lo, pois a verdadeira feminilidade emerge da interação entre a biologia e a existência, transcendendo os limites impostos por estados de humor ou modinhas.

Ser mulher é algo muito único e grandioso para ser alcançado com algumas peças de roupa e mudança no andar. Não se torna mulher, se nasce mulher.

O ser mulher não é uma escolha, é uma condição de existência. Isto porque a existência só é o que é porque construída sobre alicerces imutáveis e constantes. Sem essas necessidades, haveria apenas o caos.

E a mulher não é caos, é ordem. 

Bem, chegamos ao fim a espero ter deixado claro que o ser mulher não é um produto na prateleira ao alcance de todos e muito menos algo que caiba em um festejo sindical. É fato da existência e nenhuma conversão simples, símbolo sindical, nuance política ou vontade pessoal, tem grandeza para limitar, ou imitar, o que é ser mulher.

Feliz Dia da Mulher.

Compartilhe
0 0 votos
Classificação da notícias
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Gostaríamos de usar cookies para melhorar sua experiência.

Visite nossa página de consentimento de cookies para gerenciar suas preferências.

Conheça nossa política de privacidade.

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x