Os jovens realmente lutam contra o sistema?

Há uma visão romantizada de que os movimentos juvenis de esquerda são a onda do futuro e estão no “lado certo da história”. O estereotipado jovem idealista é considerado um radical de esquerda que apoia movimentos como o Vidas Negras Importam e causas ambientais e o socialismo. As opiniões dos jovens são geralmente representadas por figuras como a anticapitalista Greta Thunberg ou a jovem congressista socialista Alexandria Ocasio-Cortez. De acordo com um inquérito realizado pelo Instituto de Assuntos Econômicos, 67% dos jovens dizem que gostariam de viver num sistema econômico socialista e 75% concordam com a noção de que “o socialismo é uma boa ideia, mas falhou no passado porque foi mal feito.” É claro que o capitalismo e os valores tradicionais são fortemente estigmatizados entre a Geração Z. Quando jovem, senti-me isolada dos meus pares quando argumentei contra o socialismo e o progressismo. Muitos dos meus amigos com opiniões semelhantes às minhas sentem a necessidade de se censurar para se encaixar. O socialismo e o esquerdismo são, sem dúvida, populares na minha geração. Mas vale a pena perguntar: será que estas ideologias se originam organicamente de novos olhos que veem as injustiças do mundo e querem rebelar-se contra um sistema opressivo, ou existe outra explicação para a razão pela qual estas crenças se tornaram tão populares? Rebelde com causa Há uma tendência que pode nos ajudar a responder a essa pergunta. Embora os jovens fiquem muitas vezes zangados com as questões do seu tempo, as soluções que defendem são muitas vezes aquilo que causou o problema em primeiro lugar. A crise imobiliária na Grã-Bretanha é um bom exemplo. Os jovens veem agora a aquisição de casa própria como um sonho irrealista, uma vez que os preços das casas no Reino Unido dispararam nas últimas décadas. De acordo com a sondagem da AIE, 78% dos jovens atribuem a crise ao capitalismo e acreditam que a solução requer uma intervenção governamental em grande escala através de medidas como o controle das rendas e moradias públicas. No entanto, não reconhecem que a razão pela qual a habitação é tão cara é porque existe uma escassez de habitação devido às restrições governamentais à construção. Uma atribuição de culpa semelhante caracterizou o movimento Occupy em 2011, que foi uma resposta à Grande Recessão de 2008. Os jovens manifestantes exigiram mais regulamentação governamental para Wall Street com o grito de guerra de que “nós somos os 99%”. Contudo, a realidade é que foi a interferência do governo no sistema financeiro que causou a recessão. Os jovens que procuram soluções que apenas agravariam o problema não são novidade. Tal como descreve o economista Ludwig von Mises no seu livro Burocracia, a ascensão do movimento juvenil na Alemanha antes da Primeira Guerra Mundial foi uma reação à falta de oportunidades do regime burocrático. Contudo, o movimento juvenil não tinha uma compreensão clara do problema e queria expandir o sistema em vez de lutar contra ele.      “O movimento juvenil foi uma expressão do desconforto que os jovens sentiam face às perspectivas sombrias que a tendência geral para a arregimentação lhes oferecia. Mas foi uma rebelião falsa condenada ao fracasso porque não se atreveu a lutar seriamente contra a crescente ameaça do controle governamental global e do totalitarismo. Os tumultuosos pretensos desordeiros eram impotentes porque estavam sob o feitiço das superstições totalitárias. Eles se entregavam a tagarelices sediciosas e entoavam canções inflamadas, mas queriam, antes de tudo, empregos públicos.” Repetidas vezes podemos ver que os movimentos juvenis que alegadamente lutam contra o sistema estão, na realidade, dão poder a ele. Radicalmente não radical E isso não é coincidência. Muitas vezes, os jovens promovem inadvertidamente o sistema, porque o próprio sistema os manipula. Os movimentos modernos defendidos pelos jovens de hoje são apresentados como anti-sistema e de base. No entanto, os mesmos grupos que afirmam “opressão” são apoiados pelos principais meios de comunicação, pelo governo e pelas grandes corporações. Embora os esquerdistas afirmem que estão lutando contra o sistema ao defender o Black Lives Matter, o sistema está literalmente promovendo a sua causa, como demonstrado pelos líderes do BLM reunidos com membros do governo Biden. Isto também pode ser visto através da tentativa de enquadrar a ideologia trans como uma opinião anti-establishment. No entanto, o rei mostra-se nu quando se considera que o a Casa Branca mostrou sua lealdade ao movimento LGBT hasteando a bandeira do orgulho progressista ao lado da bandeira americana. Os movimentos juvenis que hoje empoderam o sistema, em vez de se rebelarem contra ele, são paralelos à forma como os jovens desempenharam um papel fundamental na revolução cultural de Mao. Os estudantes foram encorajados pelo regime a rebelar-se e a invadir as casas dos inimigos de classe e a estigmatizá-los como párias sociais. Como escreveu o historiador Frank Dikötter no seu livro A Revolução Cultural: A História do Povo, 1962-1976, Mao acreditava que “a ingenuidade e a ignorância da juventude eram virtudes positivas”, porque as tornavam mais manipuláveis. Mais um tijolo na parede Além disso, as causas defendidas como “movimentos juvenis” são muitas vezes apenas movimentos defendidos por professores e empurrados para os seus alunos. A página do Twitter do Libs of TikTok demonstra como a teoria radical de gênero foi promovida na educação por professores radicais de esquerda nos Estados Unidos. Da mesma forma, no Reino Unido, um vídeo tornou-se viral online apresentando um professor referindo-se a um aluno como “desprezível” devido à sua falta de respeito pela identidade de gênero de outro aluno que se identificou como um gato. A teoria do gênero também recebeu apoio institucional no Reino Unido, onde organizações sem fins lucrativos, como Stonewall e Mermaids, forneceram recursos e lições sobre gênero para escolas de todo o país. Seria algo espantoso que tantos jovens se alinhem com pontos de vista esquerdistas quando estes pontos de vista estão sendo fortemente promovidos no nosso sistema educativo e dizem aos jovens que eles são maus se simplesmente discordam? Murray Rothbard, em The Progressive Era, explica como os jovens estiveram na frente da causa da proibição, em parte devido

Uma fake news de militância de redação chamada “centrão”

SÃO LUÍS, 15 de setembro de 2023 – A negação da natureza humana e da realidade estão afundando a sociedade em um fosso de incapacidade de percepção coisas mais evidentes. Faz tempo que quero falar sobre essa safadeza chamada “centrão”. De como o caráter pejorativo do termo é criação de jornalista salafrário e que, no fundo, guarda em si um caráter extremamente antidemocrático. É estranho ouvir cobranças que só são cobradas dos outros. Cobranças que, se questionados por poucos minutos, desmoronam na irrealidade, manipulação e fantasia. É estranha a exigência do impossível. Algo que geralmente esconde artimanhas subterrâneas. Vamos pelo começo A imprensa livre é uma conquista da sociedade, bem como a liberdade de expressão da opinião pública. Juntas, as duas ajudam a fundamentar a base do que chamamos de democracia. Acontece que, por serem coisas humanas, nenhuma das duas é infalível. Ou melhor: nenhuma das três! Foi pela opinião pública que o nazareno acabou crucificado no lugar do bandido. E a lista de escolhas duvidosas é infindável. E se, por vezes, é equivocada a opinião da maioria, é por óbvio aceitar que a imprensa falhou, falha e falhará miseravelmente em algumas de suas notícias e opiniões. Se chegou até aqui, é claro que você não considera a opinião pública infalível e muito menos a imprensa como ferramenta fiel de descrição da realidade. Então, vamos demolir esse mito chamado centrão. A origem da enganação Entre a lista de desserviços da imprensa brasileira no debate político está o uso indiscriminado do termo “centrão”. Usado pela primeira vez após o fim do regime militar, na década de 1980. E o que é o centrão? Um grupo de parlamentares de viés governista que garantiu, de lá até aqui, a governabilidade de absolutamente todos os presidentes eleitos desde a redemocratização. Começou no governo Sarney, seguiu-se com Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro e agora retorna com Lula. Em absolutamente todos estes governos a base de sustentação foi o centrão. Logo, não existe centrão. O que existe é centro, centro democrático. Só que, ao invés de ser apresentado por sua grande virtude, que é a estabilidade política, o centro democrático foi apresentado como uma espécie de deformação política. E isso porque este apoio político, que garante a governabilidade, possui um custo. “Custo, Linhares? É sério?” O impossível não é uma possibilidade Será que há alguém nesse mundo que sai de casa pela manhã e espera viver da generosidade das boas intenções de todo o resto do mundo? Se você acredita nisso, pare por aqui. Apenas canalhas oferecem utopias quando se está falando de política. Sim, essa é uma verdade incômoda. Soa agressiva nos ouvidos. Tem um viés catastrófico e indesejável. Só que se trata da mais pura e absoluta realidade. Ninguém em sã consciência empenha sua vida, seus planos e metas na boa vontade alheia. Apoio político tem custo em absolutamente todo lugar de toda a Terra em qualquer momento da história da humanidade. Mais custoso em alguns momentos, menos custoso em outros? Dado por causas nobres? Extorsão em outras vezes? Sim, é assim. Só que sempre custoso. Dizer o contrário é negar a realidade. Não existiu, não existe e nunca existirá ambiente político sem negociação. Entre as principais metas da política é indiscutível a chegada ao poder. Ninguém duvida disso. Se você, caro leitor, acredita na democracia, então deve achar natural que a chegada ao poder seja dada pela partilha do… poder. É assim no Brasil, é assim em qualquer lugar do mundo. Só não há negociação e contrapeso em ditaduras. Só não existe centro pendendo pro lado e pro outro em regimes autoritários. O que se faz com essa partilha do poder pode até ser motivo de questionamento. Aí entra outra meta, essa mais teórica do que prática, da política: o bem comum. Se essa partilha irá ter como fim o bem comum, ou não, cabe um debate. A divisão do poder, em si mesma, é algo intrínseco das democracias. Seja em um governo concernente aos anseios do povo ou desconexo deles, o centro sempre estará lá negociando. Por que odeiam tanto o centro democrático? O centrão é tratado pela militância hegemônica esquerdista de redação como uma quadrilha de marginais sanguessugas, certo? Errado! Depende da situação. E todo conceito político que se contorce de acordo com a situação é construção de charlatões. Um breve histórico de como a imprensa militante tratou o centro democrático. Com Sarney, era ruim. Quando tirou Collor, ficou bom. Veio FHC, voltou a ser ruim. Eleito Lula, veio mensalão, era bom. Rompeu com o governo, elegeu Severino Cavalcante, virou ruim. Reatou com Lula, ótimo. Deu sustentação à eleição e Dilma, maravilhoso. Apoiou a reeleição, lindo demais. Pulou da catástrofe e votou o impeachment, virou o demônio. E assim vem sendo até os dias atuais. O fato é que a bússola da militância de redação sobre o que escrever sobre o centro é o caminho da esquerda. Se está com a esquerda, bom. Se está contra, ruim. Setores da imprensa odeiam o centro porque gostariam que este fosse um cachorro da esquerda. Da mesma forma que o são estes próprios setores. Democratas de meia-tigela. O problema são os custos? Sério? E qual a bússola do centro? Ser governo! O que significa garantir ao eleito pelo povo a governabilidade. Quem chega ao poder pela vontade do povo, governa. Dada a rendição do Judiciário, parlamentares do centro hoje são a única barreira contra possíveis arroubos da esquerda velhaca e a direita infantil. Enquanto houver centro, o país possui um seguro de que não será tragado por um dos lados e nem ser afogado em uma guerra civil política que torne o país ingovernável. O mais cético chegou até aqui martelando os “custos” como argumento. Pois bem, aqui vai outra verdade inconveniente: qual a porcentagem de parlamentares e políticos eleitos sem fazer valer estes “custos” em suas reeleições? No fim das contas, o “custo” do apoio é investindo em campanhas. Então, chegamos ao ponto chave: a qualidade de quem negocia apoio

A abordagem dedutiva da Escola Austríaca: um farol para a compreensão econômica

“Não é nenhum crime ser ignorante em economia, a qual, afinal, é uma disciplina específica e considerada pela maioria das pessoas uma “ciência lúgubre”.  Porém, é algo totalmente irresponsável vociferar opiniões estridentes sobre assuntos econômicos quando se está nesse estado de ignorância.” – Murray Rothbard, “A propriedade privada e o desejo de morte dos anarco-comunistas” A escola austríaca de economia se coloca como um farol, iluminando o caminho para a compreensão econômica através de uma perspectiva que diverge marcadamente das metodologias de experimentação controlada e observação empírica que definem as ciências naturais. Em vez disso, a economia austríaca desnuda as verdades atemporais dos fenômenos econômicos através da arte do raciocínio dedutivo, extraindo seu poder de axiomas autoevidentes que sustentam a intrincada trama da vida econômica. Esse afastamento das normas científicas convencionais repousa sobre dois pilares fundamentais. Em sua essência, a economia preocupa-se em decifrar a elaborada coreografia da ação humana, impulsionada não pelas certezas lineares que governam o reino físico, mas pelas intrincadas nuances dos desejos subjetivos. Em contraste com a previsibilidade da matéria e do movimento, a tela sobre a qual o comportamento humano proposital é pintado desafia as tentativas de segmentação ou manipulação dentro de ambientes controlados. A sinfonia da economia cresce a partir da miríade de notas tocadas pelos indivíduos, cada um tecendo sua narrativa dinâmica única através do tecido de circunstâncias pessoais, conhecimentos, expectativas e valores. Não existem alavancas de controle para ajustar ou experimentar dentro deste reino. Essa distinção fundamental é ainda exemplificada pela relutância da história em produzir experimentos controlados para a validação de teorias econômicas. Eventos históricos como a Grande Depressão são composições tecidas a partir de uma complexa interação de inúmeros fios causais, permitindo que escolas de pensamento rivais extraiam interpretações divergentes de momentos compartilhados no tempo. Ao contrário do percurso empírico das ciências naturais, a base dos princípios econômicos encontra suas raízes no terreno fértil da lógica dedutiva, brotando de axiomas autoevidentes sobre a ação humana: que os indivíduos agem com propósito e valorizam subjetivamente os bens. Os princípios de oferta e demanda , utilidade marginal , custo de oportunidade e dinâmica de incentivos não são meras observações, mas implicações meticulosamente derivadas desses axiomas fundamentais. Os dados empíricos, embora lancem luz sobre as leis econômicas, não exercem o poder de oferecer provas definitivas ou refutação dessas leis. Estruturas econômicas rivais podem coexistir, apesar de se basearem na mesma fonte empírica. Deduções que permanecem impermeáveis a dados históricos contrários permanecem firmes como a base da ciência econômica. Sabe-se que os detratores afirmam que as deduções da escola austríaca carecem de relevância sem verificação empírica. No entanto, os axiomas centrais sobre os quais essas deduções se baseiam são imunes às limitações dos dados empíricos. Além disso, a análise econômica austríaca tem demonstrado repetidamente a sua capacidade preditiva. Por exemplo, considere a teoria dos ciclos econômicos de Ludwig von Mises. Décadas antes da crise financeira de 2008, Mises elucidou como booms insustentáveis semeiam sua própria destruição, impulsionados por taxas de juros distorcidas e sinais de produção devido à expansão do crédito. Sua previsão de uma eventual recessão devido às políticas inflacionárias do banco central soou verdadeira quando a crise finalmente se desenrolou. Enquanto outros tropeçaram em modelos estatísticos, aqueles que abraçaram a dedução entenderam a essência da crise. Os críticos também questionaram o realismo da abordagem da escola austríaca, contrastando os atores racionais dos modelos econômicos com a irracionalidade do mundo real. No entanto, as leis dedutivas da economia não procuram prever resultados específicos, mas oferecem estruturas interpretativas. Como bem explicou Mises, “a economia, como ramo da teoria mais geral da ação humana, lida com toda a ação humana, isto é, com a finalidade do homem visando a obtenção dos fins escolhidos, quaisquer que sejam esses fins”. Ao deduzir implicações do alicerce da ação humana proposital, a economia alcança um nível de universalidade e permanência que a análise empírica não pode igualar. Embora a observação empírica possa iluminar instâncias específicas, é o reino da dedução que desvenda os mecanismos atemporais que governam os fenômenos econômicos. A microeconomia serve como um excelente exemplo. Embora a realidade possa se desviar dos postulados teóricos, deduções como as que regem a oferta e a demanda fornecem insights sobre mecanismos duradouros que transcendem os limites do tempo e do lugar. É aqui que a dedução triunfa sobre a mineração de dados ao revelar a dinâmica essencial da coordenação de preços. Em essência, testes empíricos e raciocínio dedutivo não são diametralmente opostos. Pelo contrário, eles podem se complementar harmoniosamente, aumentando a compreensão tanto dos aspectos atemporais quanto dos aspectos contingentes da ciência econômica. A escola austríaca ergue-se, assim, como um pilar fundamental do conhecimento econômico, oferecendo a teoria dedutiva pura como um complemento à observação empírica. A difusão do esclarecimento econômico: um dever cívico A verdadeira potência dessas ideias econômicas se desenrola quando elas permeiam a consciência coletiva. Quando mitos e falácias econômicas se infiltram na psique social, os políticos aproveitam esses equívocos para promover políticas movidas por uma lógica defeituosa. Mesmo diante de séculos de endosso intelectual às virtudes do livre comércio, o espectro do intervencionismo continua a pairar, um testemunho da persistência de duradouras ilusões mercantilistas de que o comércio corrói os empregos domésticos. Esses equívocos concedem aos governos o poder de influenciar o sentimento público, abrindo caminho para políticas que atrapalham, em vez de facilitar, o avanço da sociedade. Sob esse prisma, os economistas assumem uma dupla responsabilidade: esclarecer o leigo e fomentar nele o apreço pela dinâmica do mercado, bem como armar os cidadãos com as ferramentas intelectuais para afastar o fascínio por intervenções equivocadas. Com a ênfase da escola austríaca na dedução, uma responsabilidade significativa recai sobre os economistas para tornar essas ideias econômicas fundamentais acessíveis e inteligíveis para o público em geral. Intelectuais e escritores também têm um papel a desempenhar na disseminação desses insights críticos para um público mais amplo. Ao difundir a sabedoria que desvela a harmonia oculta no âmbito da troca voluntária, pavimentamos o caminho para a emancipação social. Ludwig von Mises enfatizou eloquentemente que esse dever de

“Justiça social” não é social nem justa

Thomas Sowell nos deu uma crítica penetrante à abordagem da justiça adotada por muitos filósofos políticos, especialmente John Rawls e seus inúmeros seguidores. Ele diz que eles constroem uma imagem de como a sociedade deveria ser, mas não perguntam se seus planos são viáveis. Sua crítica é bem feita, embora ele não ofereça uma explicação adequada dos direitos que as pessoas têm. Ele diz sobre Rawls: Em grande parte da literatura de justiça social, incluindo o clássico Uma teoria de justiça, do professor John Rawls, várias políticas têm sido recomendadas, com base em sua conveniência do ponto de vista moral – mas muitas vezes com pouca ou nenhuma atenção à questão prática de se essas políticas poderiam de fato ser realizadas e produzir os resultados finais desejados. Em vários lugares, por exemplo, Rawls se referiu a coisas que a “sociedade” deveria “organizar” – mas sem especificar os instrumentos ou as viabilidades desses arranjos. Mais adiante, Sowell observa que “a exaltação da desejabilidade e a negligência da viabilidade, que Adam Smith criticou, ainda hoje é um ingrediente importante nas falácias fundamentais da visão de justiça social”. Sowell concorda com Rawls que muitas desigualdades nas condições das pessoas parecem arbitrárias e injustas se vistas como o resultado de um plano. Mas, uma vez que percebemos que em um mercado livre não existe tal plano, é evidente que a crítica ao mercado sob o argumento de que ele permite desigualdades injustas é descabida. A vida é apenas “assim”, e as tentativas de desfazer essas desigualdades provavelmente fracassarão e terão resultados ruins. O argumento de Sowell segue Friedrich Hayek, sobre quem ele diz:     Claramente, Hayek também via a vida em geral como injusta, mesmo dentro do livre mercado que ele defendia. Mas isso não é o mesmo que dizer que ele via a sociedade como injusta. Para Hayek, a sociedade era uma “estrutura ordenada”, mas não uma unidade decisória ou uma instituição que agia. É isso que os governos fazem. Mas nem a sociedade nem o governo compreendem ou controlam todas as muitas e muito variadas circunstâncias – incluindo um grande elemento de sorte – que podem influenciar o destino de indivíduos, classes, raças ou nações. Como exemplo, Sowell cita estudos que mostram que os primogênitos tendem a ser mais bem-sucedidos academicamente do que as crianças que têm irmãos ou irmãs mais velhos. Isso é algo que requer ações corretivas por parte do governo? ele pergunta. A própria ideia já é ridícula. Devemos, pensa Sowell, simplesmente viver e deixar viver. É certamente verdade, como sugere Sowell, que as questões de viabilidade restringem severamente o que aqueles que buscam “justiça social” podem fazer, mas ele não mostrou que essas questões reduzem o espaço de ação a nada. Às vezes, ele implicitamente postula uma falsa antítese entre a rejeição total da justiça social e a aceitação de uma concepção abrangente de justiça social que ele chama de “justiça cósmica”, que tentaria corrigir todas as desigualdades consideradas imerecidas. (Apresso-me a acrescentar que rejeito completamente a justiça social, mas defender adequadamente essa posição requer uma consideração de direitos, o que Sowell não fornece.) Em apoio à sua crítica à justiça social, Sowell faz um argumento dúbio. As pessoas que apoiam a justiça social muitas vezes tomam como um de seus principais exemplos a necessidade de programas especiais para ajudar os negros, porque a discriminação contra eles, tanto no presente quanto no passado, os colocou em uma grave desvantagem em relação aos brancos. Mas as evidências empíricas não apoiam a afirmação de que as desigualdades atuais de renda entre negros e brancos decorrem principalmente do tratamento discriminatório, argumenta. Sowell é um mestre em implantar evidências, e qualquer um que queira desafiá-lo sobre a causa da desigualdade enfrenta uma tarefa difícil, se não totalmente impossível. Mas um defensor da justiça social pode argumentar que a exigência de corrigir o tratamento discriminatório não é uma reivindicação empírica sobre as fontes da desigualdade atual, mas uma demanda moral. As pessoas que defendem esta opinião podem pensar que, mesmo que agora estejamos muito bem, ainda temos direito a uma indemnização se tivermos sofrido discriminação. (Mais uma vez, não sou a favor dessa visão, muito pelo contrário; mas uma resposta adequada a ela deve envolver a teoria moral.) É mais importante, porém, ter em mente a força do argumento de Sowell do que suas limitações. As questões de viabilidade limitam sobremaneira o alcance da justiça social, mesmo que não a excluam completamente. E podemos concordar mais sem reservas com outro excelente ponto que Sowell faz. Ele diz: Ironicamente, muitas elites intelectuais – antigamente e agora – parecem considerar-se promotores de uma sociedade mais democrática, quando se antecipam às decisões alheias. Sua concepção de democracia parece ser a equalização de resultados, pelas elites intelectuais. Isso conferiria benefícios aos menos afortunados, em detrimento daqueles que esses substitutos consideram menos merecedores. [Woodrow Wilson] favoreceu o governo por meio de tomadores de decisão substitutos, armados com conhecimento e compreensão superiores – “perícia executiva” – e facilitados pelo público votante. A resposta de Woodrow Wilson às objeções de que isso privaria as pessoas em geral da liberdade de viver suas próprias vidas como bem entendessem, foi redefinir a palavra “liberdade”. . . . Ao simplesmente retratar os benefícios fornecidos pelo governo – dispensados por tomadores de decisão substitutos – como uma liberdade adicional para os beneficiários, o presidente Wilson fez desaparecer a questão da perda de liberdade das pessoas, como se fosse um truque verbal. Sowell fez um ponto vital. Você é livre se os outros não agredirem sua pessoa e propriedade; se eles agridem, mas lhe dão benefícios, você não está livre. Sowell eloquentemente diz:  As “complexidades” dessa definição wilsoniana de liberdade são certamente compreensíveis, uma vez que fugir do óbvio pode se tornar muito complexo. Quando Espártaco liderou uma revolta de escravos, nos tempos do Império Romano [República], ele não estava fazendo isso para obter benefícios do estado de bem-estar social. Como o bispo Joseph Butler observou há muito tempo, “tudo é o que é, e

Feliz Dia dos Pais, meus pais

Os segundos domingos de agosto são estranhos para mim. Geralmente, porque nas últimas três décadas, eu não dou presentes, abraços, beijos, cafés da manhã ou apenas lembro do meu, como fazem os normais. É impressionante como a cada ano eu tenho mais uma, ou mais algumas figuras, na memória durante todo o dia neste dia. Agora estou sentado aqui, vendo meu filho ao lado fazendo caligrafia, enquanto tento traduzir o sentimento que aflora no coração. É meu quinto Dia dos Pais sendo pai. Mas, isso não importa. Não se trata do meu filho e de mim, trata-se de mim e meu pai, meus pais. Se você acha que o Dia dos Pais é abraçar os filhos e receber presentes deles, você não entendeu nada. Vamos lá… Meu primeiro pai, o Linhares, me colocou no mundo e influenciou a ser jornalista. Certo, talvez não tenha sido lá uma boa influência. E nos dias de hoje, então, gente do céu. Só que se não fosse por ele, muito provavelmente eu não seria o profissional que sou. Aprendi com ele a ter esmero pelo trabalho, pela intelectualidade e pela busca pela excelência. Os pequenos valores que fundamentaram minha personalidade aprendi no chão daquela sala, ainda criança, ouvindo. Meu primeiro pai foi o engenheiro da minha base que outros, depois dele, ajudaram a transformar em um arranha-céu (O trocadilho escroto era inveitável). Só que meu pai, meu por direito verdadeiro pai, morreu cedo e não era afeito a demonstrações de afeição. Quase sempre minhas lembranças são de trabalho. Ele me chamava de “Seu Júnior”. Não lembro de ser chamado de filho. Foram alguns anos com a completa inexistência de figura paterna. Tempos difíceis… Tempos que tentaram me puxar para o subsolo e me prender lá para sempre, como acontece com a maioria. Então Deus me deu o meu segundo pai, um vizinho Roberto. Hoje, além de meu pai, é padrinho de batismo. Roberto se compadeceu da minha situação na época e me acolheu em sua casa algumas vezes. Incentivou meus estudos e me deu a mão no momento mais solitário que eu tive na vida. No dia do resultado do vestibular, estava comigo no terraço de sua casa ouvindo o rádio. Roberto nunca iria saber o efeito que aquela companhia teve na minha vida. Foi a primeira vez que eu ouvi, no meu espírito, “parabéns, filho”. Bem, talvez vá saber agora. E foram outros tantos anos me apresentando figuras que me tiraram um pouco da escuridão. Tequila, Bolão, Rodolfo, Osmar, Pandelis… Gente boa, gente do bem. Boas cercas, bons vizinhos. Apesar de ser meu pai por uns anos, não lembro de ser chamado de filho por Roberto nenhuma vez. Ingressei no Jornal Pequeno e conheci Seu Reinaldo, o motorista. Dentro daquele Fiat Uno prateado, consolidei a inspiração que meu primeiro pai me deu: ser jornalista. E a ironia é que coube a um pai subletrado e sem formação me apontar alguns caminhos que foram iniciados por um pai intelectual. Como não me deixar pisar, como pisar quando preciso, como perceber, como reagir. Seu Reinaldo foi, entre os meus pais, aquele que mais acreditou que eu poderia ser alguém diferente, alguém melhor. Quando o abalo me fazia tremer as pernas, ele fechava a porta do Uno e começava com um “Olha”. Então adivinha uma série de conselhos que me levantavam, sacudiam a poeira e me colocavam nos trilhos. Seu Reinaldo me chamou de filho raras vezes. Em todas foi tomando gosto com minha mãe. Como não só de bons pais se faz o mundo, lá pelos 30 conheci Denilson. Meu pai de cachaçada, meu pai dos péssimos exemplos, da faca nos dentes, chute na porta e sangue no olho. Só que quando éramos apenas nós dois naquela mesa, era a brisa depois da tempestade. Era o gelo depois do soco. ERa o abraço depois da surra de cinto. Muitas das grandes decisões que eu tomei na vida, tomei seguindo seus conselhos tomando geladas, uma dose de tequila e um comentário escroto sobre rabo de saia. Um filho que não conhece as nuances da cafajestagem na companhia do pai em mesa de bar está sujeito a ser apenas um cafajeste depois que virar adulto. Denilson também nunca me chamou de pai. Em 26 de julho de 2020, eu quase morri. Fui salvo pela pandemia, que criou as condições para que eu não resolvesse o problema apenas tomando um Tylenol, por uma equipe de médicos brilhantes e por um pai que eu nunca imaginei que teria no que viria a se tornar o momento mais difícil da minha vida. Na manhã daquele dia, eu tinha convicção plena e absoluta de que iria morrer. Estava sereno, acredite. Já tinha aceitado que não haveria mais meu filho, mulher e mãe. Não haveria mais vida, amigos. Não haveria mais jornalismo. Nada das agruras e vitórias que dele decorrem. Não haveria mais angústia e nem placidez. Não haveria mais pais… Por esses acasos do destino fiz algumas ligações, entre elas para Fernando. E por todos aqueles dias, todos os dias, ele ligava querendo saber como eu estava. E por todos aqueles dias, que eu considerava serem os últimos dias, eu tive a figura paterna que me faltava: a do pai cuidando de mim na doença. “Como tu estás? Faz chamada de vídeo aí que eu quero te ver”. E de lá para cá, eu ganhei meu quinto pai e foi formada a “mão de Deus” na minha vida. A vida é feita de influências, entendedores entenderão. Nenhum de vocês nunca me chamou de filho, mas todos são meus pais. Porque cada um, consciente ou inconscientemente, serviu-me de pai em bons momentos e momentos ruins. Sem vocês na minha vida, eu não seria o pai que sou. Porque a cada um de vocês eu devo a inspiração para ser todos vocês em apenas um. A satisfação que eu sinto sabendo que sou um pouco de vocês, tendo a plena convicção e certeza inabalável de que sou a junção de todos vocês…

A ditadura totalitária politicamente correta está extrapolando todos os limites

Recentemente, a jornalista Madeleine Lacsko foi acusada de transfobia, sendo condenada a pagar uma indenização de 3 mil reais para a influencer trans Rebecca Gaia, por tê-la chamado de “cara” em uma rede social. A expressão que gerou a polêmica — posteriormente convertida em uma infração criminal —, foi “Olá, cara”. Um jornalista da Jovem Pan sugeriu que ela, muito provavelmente, estava sendo cordial, chamando-a pelo feminino de “caro”, que significa prezado. Para “combater” a discriminação e o racismo na literatura, vários clássicos da literatura ocidental serão publicados em uma linguagem politicamente correta. Nos Estados Unidos, a editora Penguin Books decidiu expurgar de seu catálogo vários livros do autor britânico Roald Dahl (1916-1990), por serem incompatíveis com a ditadura politicamente correta. A editora Puffin Books, por sua vez, contratou em fevereiro deste ano diversos “leitores sensíveis” para fazer o que chamam de “avaliação crítica” da obra do autor, com o objetivo de publicar vários de seus livros em versões inclusivas politicamente corretas. Isso gerou uma controvérsia nos meios acadêmicos sem precedentes na história recente da literatura ocidental. Principalmente pelo fato de Roald Dahl ter adquirido a fama de se opor com veemência a qualquer alteração editorial em seus textos. Excepcionalmente meticuloso e perfeccionista, ele não permitia que alterassem nada, nem mesmo uma única vírgula. Aqui no Brasil, não escapamos da famigerada controvérsia literária. Obras infantis do famoso escritor Monteiro Lobato (1882-1948) — ícone da literatura brasileira, cujo nome completo é José Bento Renato Monteiro Lobato — ganharão versões politicamente corretas. O que lamentavelmente foi chancelado até mesmo por membros de sua família, como a sua bisneta, que abraçou a causa politicamente correta e afirmou ser necessário “rever o racismo” presente em suas obras. O que a ditadura do consenso progressista pretende, de fato, é adaptar diversas obras literárias de vários autores para versões politicamente corretas. O seu lobby político-ideológico está engajado em conquistar a total hegemonia da ideologia progressista em praticamente todos os ambientes: acadêmicos, universitários, políticos, corporativos e esportivos. Há muito tempo existe também um movimento que reivindica a “necessidade” de se reescrever a Bíblia, para “adaptá-la” aos tempos atuais. É de conhecimento geral que os fundamentalistas progressistas politicamente corretos sempre implicaram com as Sagradas Escrituras Judaico-Cristãs, por elas não serem inclusivas, sendo patriarcais e moralmente rígidas demais para o gosto da militância. Há algumas semanas, Xuxa propôs em uma rede social “reescrever a Bíblia”. Há muitos anos atrás, Jean Wyllys — deputado federal de 2011 a 2019 —, afirmou que era necessário expurgar da Bíblia as “passagens homofóbicas”. Há também um movimento para proibir o uso de palavras como “gordo” e “obeso” para se referir a pessoas que estão acima do peso, porque essas palavras são supostamente ofensivas. Palavras como “índio” e “homossexualismo” também devem ser sumariamente erradicadas do vocabulário. Os termos “corretos” são “indígena” e “homossexualidade”. Militantes progressistas politicamente corretos também afirmam que é necessário normalizar a linguagem neutra, pois ela é mais inclusiva. Se você usar a linguagem neutra, estará sendo socialmente inclusivo e ajudará a combater a transfobia. Humoristas que contam piadas sobre negros, homossexuais, índios e outras minorias estão sendo processados. O caso do comediante Léo Lins é muito emblemático na questão da total ausência de liberdade na prática do humor. O humorista está sendo processado pelo Ministério Público Federal por contar piadas supostamente machistas e racistas. Foi inclusive obrigado a retirar do seu canal do Youtube sua performance de comédia stand-up intitulada “Perturbador”. O que não adiantou absolutamente nada, visto que outros canais do Youtube disponibilizaram o vídeo, muitos deles usando uma hashtag que dizia “censura não”.

O progressismo não produz progresso

progressismo

Uma análise franca e objetiva da ideologia progressista mostra que, enquanto movimento político e ideológico, o progressismo não se aproxima de absolutamente nada que possa ser chamado de progresso, por razões tão contundentes quanto óbvias. Na verdade, chega a ser irônico que o progressismo tenha esse nome. Não é sem razão ou motivo que muitos usuários de redes sociais passaram a chamar os progressistas de regressistas. De fato, o progressismo está tão distante do autêntico progresso quanto está da racionalidade, do bom senso, da ética, da biologia e da verdadeira medicina. Na verdade, sua plataforma político-ideológica está na contramão de tudo aquilo que é edificante, coeso, construtivo e moralmente salutar. Consequentemente, é impossível que o progressismo produza qualquer coisa diferente daquilo que tem produzido até o presente momento — tirania, totalitarismo ideológico, coletivos histéricos e agressivos, parasitismo institucionalizado e expansão dos poderes de repressão do estado. Existem muitos motivos pelos quais o progressismo não produz progresso. Progressistas certamente vão alegar que a culpa da falta de resultados é, na realidade, de conservadores e reacionários, que não permitem a eles agirem de forma mais plena na sociedade. Realmente, muitos conservadores e reacionários agem como barreiras de restrição contra as bestialidades e os excessos progressistas. Se assim não fosse, a indústria farmacêutica estaria aplicando vacinas obrigatórias em todas as pessoas semanalmente, nenhum bebê seria identificado pelo seu gênero biológico, pronomes neutros seriam obrigatórios em todas as escolas e a indústria médica estaria entupindo crianças com hormônios de forma ininterrupta tão logo elas aprendessem a andar, sem a necessidade de consentimento dos pais e com a total aprovação do governo. A ideologia progressista certamente produz muitas coisas. O progresso da sociedade, no entanto, não está entre elas. O que o progressismo mais produz, irremediavelmente, são coisas nefastas, como contendas, divisão social, uma militância histérica e encolerizada, extrema irracionalidade, a precedência das emoções sobre a razão e ignorância generalizada. O progressismo não produz progresso, primariamente, por três razões principais: Trata-se de uma ideologia baseada na divisão sempre crescente da sociedade em grupos distintos, conflitantes e incompatíveis. Não há nenhum desejo real de resolver tais conflitos, apenas de instigá-los. Plataforma econômica nula, que nega os benefícios do livre mercado, em defesa da intervenção e do monopólio estatal sobre tudo. Indubitavelmente, o progressismo deriva sua força do seu ímpeto de dividir a sociedade em um número sempre crescente de classes e grupos distintos. Todos esses grupos tem como inimigo comum o homem branco “cisgênero heteronormativo” (como os progressistas chamam o homem comum); mas está se tornando cada vez mais corriqueiro que grupos que estão debaixo do guarda-chuva progressista, por alguma razão, acabem brigando entre si. Para citar um exemplo, os conflitos entre feministas e mulheres trans (que são homens biológicos) estão aumentando substancialmente. No mês de fevereiro deste ano, na Escócia, Nicola Murray — uma mulher que supervisiona e administra um abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica — entrou na mira da polícia, simplesmente por se posicionar, pacificamente, contra a invasão cada vez maior de mulheres trans em espaços antes destinados exclusivamente a mulheres biológicas. Ela foi acusada de ser intolerante e de difundir discurso de ódio.

A esquerda morreu

Esquerda morreu

A esquerda política foi morrendo em etapas e depois morreu de uma só vez: Assistir de perto a morte da esquerda Passei 30 anos procurando a esquerda política. Como Winston Smith em 1984, fui movido pela noção idealista de que certamente deveria existir uma alternativa revolucionária. Na graduação (1988 a 1992), frequentei a faculdade mais à esquerda que pude encontrar, Swarthmore. Quando George HW Bush lançou sua guerra no Iraque, havia cerca de vinte de nós que se uniram para se opor a ela. Desse grupo, apenas cerca de cinco estavam comprometidos com a organização política real para acabar com a guerra. Não havia professores abertamente marxistas. Em 1990, viajei para a América Central, onde a esquerda havia sido devastada por décadas de governo autoritário e genocídio absoluto. Trabalhei em uma cooperativa de gado sandinista na única história de sucesso deixada na região, a Nicarágua. Encontrei principalmente machismo, não alguma teoria política transcendente de base. Agora a Nicarágua sob os sandinistas regrediu ao autoritarismo brutal que uma vez tentou derrubar. Nos anos 2000, eu queria ir para a faculdade de direito para estudar Teoria Crítica do Direito, mas restavam apenas dois professores no país que ainda trabalhavam nessa área e estavam prestes a se aposentar. A conferência anual sobre Teoria Crítica do Direito nos EUA havia parado de se reunir e não havia periódicos produzindo bons trabalhos sobre o tema. Escrevi sobre isso há algum tempo no meu Substack. Fiz um mestrado em políticas públicas na UC Berkeley de 2010 a 2012 e descobri que o espírito revolucionário deixou aquele lugar na década de 1960. Minhas aulas de políticas públicas eram repletas de professores desenhando gráficos no quadro-negro mostrando como o salário mínimo e os sindicatos eram ineficientes. Os poucos professores esquerdistas que ainda restavam na UC Berkeley estavam no departamento de Geografia e todos falavam uma linguagem codificada que é impossível de entender de fora (portanto, nenhuma revolução viria deles). Eu fiz meu Ph.D. de 2014 a 2019 no departamento de economia política mais radical que encontrei. Restavam alguns professores marxistas, mas eles se concentravam principalmente em projetos históricos. Os professores mais novos estavam escrevendo meditações pós-modernas sobre tempo e espaço (portanto, nenhuma revolução viria deles) e críticas intermináveis ​​ao neoliberalismo (que funciona como uma espécie de plano de emprego permanente para a esquerda que nunca ameaça as estruturas de poder existentes). Minha busca de três décadas pela esquerda política revelou uma série de cidades fantasmas. Como Winston Smith, descobri que a Irmandade existe apenas como uma ideia, não como um movimento político realmente existente.

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