BRASÍLIA, 29 de agosto de 2024 – A nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, feita pelo presidente Lula (PT), será um teste crucial para a independência da autarquia.
Atual diretor de Política Econômica do BC, Galípolo assumirá o cargo no próximo ano, sucedendo Roberto Campos Neto, e estará sob intensa observação de agentes econômicos e políticos.
A principal dúvida é se ele manterá a postura técnica que adotou recentemente como membro do Comitê de Política Monetária (Copom) ou se cederá às pressões do presidente Lula, que frequentemente criticou a política restritiva de juros.
O Copom ainda se reunirá duas vezes em 2024, em setembro e novembro, para definir a taxa Selic, atualmente em 10,5%.
Evandro Buccini, sócio da Rio Bravo Investimentos, sugere que Galípolo pode votar por um aumento nos juros na próxima reunião para ganhar credibilidade. Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimento, acredita que o mercado estará atento ao posicionamento de Gabriel.
A maior expectativa, no entanto, recai sobre a nova composição do Copom a partir de 2025. Com a presidência sob Galípolo e outras duas nomeações de Lula para a diretoria do BC, sete dos nove membros do Copom terão sido indicados pelo presidente.
PERFIL TÉCNICO E POLÍTICO
Galípolo, mestre em Economia Política, tem um perfil técnico e político, tendo atuado como diretor do Banco Fator e conselheiro da Fiesp, além de ser autor de livros com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Ele foi indicado ao BC e aprovado pelo Senado em julho de 2023, após servir como secretário-executivo do Ministério da Fazenda no início da gestão Haddad.
Sua estreia no Copom coincidiu com a primeira queda da Selic desde 2021. Tony Volpon, ex-diretor do BC, destacou que essa experiência foi crucial para Galípolo ganhar credibilidade, embora ainda haja desconfiança no mercado devido à sua ligação com o governo.
A postura inicial de Galípolo no BC foi considerada mais “dovish”, favorecendo cortes de juros, mas ele alterou sua posição em reuniões subsequentes, alinhando-se ao restante do Comitê.
Alex Agostini, da Austin, vê essa mudança como um sinal de que Galípolo não será subserviente ao Planalto. Carla Argenta, da CM Capital, reforça que a postura de Galípolo foi coerente com o mandato da instituição.
Embora Galípolo tenha conquistado certa confiança do mercado, ele precisará mantê-la quando assumir a presidência do BC. Buccini acredita que o verdadeiro impacto de sua liderança será avaliado após alguns meses no cargo.
Roberto Campos Neto parabenizou Galípolo pela indicação e desejou sucesso na transição, destacando que a mudança antecipada facilita uma transição suave. Felipe Salto, da Warren Investimentos, também elogiou Galípolo, prevendo um mandato bem-sucedido.
Por outro lado, o senador Flávio Bolsonaro criticou a escolha, afirmando que há candidatos melhores para substituir Campos Neto, que garantiu a estabilidade monetária no Brasil.