
Passado o ano, é chegado o Natal. Uma data que em outros tempos simbolizava os valores cristãos responsáveis pela retirada do mundo da barbárie. Valores que vão desde a compaixão com o próximo, passando pelo respeito pela verdade, enveredando pelo amor familiar, companheirismo, generosidade e pelo entendimento do que é o sacrifício. E em uma sociedade a cada dia mais egoísta, tomada pela geração micro-ondas, talvez a perda da noção de sacrifício seja o problema capital destes dias.
Alguém pode pensar. “Mas, Linhares, e o perdão?”
O verdadeiro perdão requer desapego em relação a algo, alguém ou a si mesmo. Todo o resto são meras desculpas. E o Natal? Bem, o Natal é tempo de perdão. Logo, de sacrifício. Algo a cada dia mais raro. Perdão, sacrifício, generosidade e amor são dependentes.
Ocorre que no passado a dificuldade da vida deixava tornava o sacrifício pelos outros algo mais tolerável. O sofrimento era cotidiano. Emtão veio o capitalismo, o desenvolvimento tecnológico e antes problemas que infernizavam a vida de milhões são resolvidos por bilhões com um simples apertar de botão.
A facilidade da vida nas últimas décadas nos afastou do sofrimento cotidiano. Antes eram guerras, hoje é a derrota do candidato. Antes eram grandes catástrofes, hoje é a derrota na Copa. Antes era a fome, hoje é a falta de assento para obeso mórbido no avião. E até mesmo a maior praga de nossa época, a pandemia de Covid-19, não está entre as cinco maiores da história. No século XVI a varíola matou mais que a 2ª Guerra Mundial. A AIDS, essa doença que todos esqueceram, também ceifou mais vidas que a Covid-19.
A facilidade da vida atual nos afastou do entendimento do que é o sacrifício.
Natal é tempo de perdoar. Quanto maior o perdão, mais fácil a possibilidade de acompanhamento de um sacrifício. De esquecer uma chaga, de relevar uma pancada, de abrir mão de alguma coisa, de engolir um sapo.
E a “coincidência” de acontecer no fim do ano dá ainda mais brilho ao Natal. Porque chegado o fim do ano, todos aqueles que têm as suas vidas em conta, fazem contas. Fazem um balanço do que fora vivido nos últimos doze meses.
E bem ali, no meio destes dias, incorre o Natal e seu Espírito Natalino. Quando contabilizamos os ganhos, as perdas, as frustrações, vitórias, planos, promessas e realizações… Sempre aparece um culpado, que não nós, de alguma dor, queda, desvario ou abate.
Nessas horas o Espírito do Natal costumava falar mais alto. E o que se via, pelo menos alguns anos atrás, eram ligações, ou visitas, que reatavam laços entre as pessoas. Nada de áudio, emojis, imagens ou cartões compartilhados aleatoriamente para as centenas de contatos. Eram contatos diretos. Por voz, ou pessoalmente, diretos.
Logo mais será Natal. Se enquanto você ler este texto for, é. Se já passou, logo será de novo. A data em que o filho de Deus nasceu. O mesmo filho de Deus que décadas depois nos perdoou da maior selvageria que a humanidade já cometeu: negar o filho do seu Criador e sacrificá-lo.
Pense neste sacrifício. E pense em como seria o nosso mundo com mais sacrifício pelos outros. Falo de ação, não de foto em rede social fantasiando altruísmo em troca de likes. Falo de atos que apenas você, talvez mais duas ou três pessoas irão saber. Algo que não trará um milímetro de popularidade, mas que aquecerá em muitos graus o espírito e o coração.
Sejam livres, sejam amorosos, sejam independentes, sejam fortes e corajosos. Sejam duros na queda, sejam pacientes, tentem ser inteligentes, não sejam invejosos, estudem bastante, guardem dinheiro e sejam legais uns com os outros. Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.